Redação (23/03/06)- O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, afirmou nesta quinta-feira em Bruxelas que a União Européia (UE) deve melhorar sua oferta em agricultura, sobretudo com relação aos produtos sensíveis, para viabilizar um acordo entre os principais atores da Rodada de Doha no fim de abril em Genebra.
“Temos que melhorar a oferta sobre os produtos sensíveis? A resposta é sim”, declarou Lamy.
“Os negociadores europeus sabem que a oferta agrícola de 28 de outubro passado deve ser melhorada para chegarmos a um acordo”, frisou o diretor-geral.
A União Européia quer se reservar o direito de classificar “como produtos sensíveis” 8% de suas linhas tarifárias agrícolas, o que permitiria mantê-los protegidos por tarifas mais elevadas.
Segundo uma fonte européia, o Brasil indicou ontem (quarta-feira) em Genebra que este percentual sobre os produtos sensíveis deve variar entre 1% a 4%.
O setor agrícola é um dos maiores entraves das negociações da OMC, que começaram no fim de 2001 e devem ser concluídas até o fim deste ano, para abrir mais os mercados de nações ricas aos produtos de países pobres.
Apesar de tantas reuniões ocorridas neste período, os mais interessados no tema parecem estar insatisfeitos. Nesta quinta-feira, em Genebra, sindicalistas agrícolas de 51 países criticaram as negociações na OMC para a redução das tarifas aduaneiras no mundo, pois segundo eles ignoram os pequenos produtores. Os países pobres condenam os subsídios dos Estados Unidos e da Europa a seus agricultores, porque impõem uma concorrência desleal aos camponeses do Sul pobre.
Em entrevista à imprensa, representantes de sindicatos agrícolas de 51 países de África, Ásia, América e Europa afirmaram que os pequenos agricultores do Sul não serão beneficiados pelas negociações em curso.
Para Eli Reistad, vice-presidente do Sindicato de agricultores noruegueses, os únicos vencedores serão as multinacionais do setor de agroalimentos.
“A briga na OMC é entre as pequenas propriedades familiares, de um lado, e as multinacionais e grandes empresas de agroalimentos, de outro”, disse Reistad.
Stephen Laititi, da Federação de camponeses da África do Leste, comentou que “as negociações devem se concentrar na proteção e a sobrevivência a longo prazo dos pequenos camponeses”.
Atualmente, menos de 10% da produção agrícola mundial são comercializados no mercado internacional. O restante é consumido no país de origem.
“O livre comércio impedirá os agricultores de responderem às legítimas aspirações sobre segurança alimentar, questões ecológicas, bem-estar animal e vida rural”, segundo uma declaração dos sindicatos.