Da Redação 24/10/2005 – Os efeitos da chegada da gripe aviária na Europa já preocupam os principais produtores e exportadores de soja e farelo do mundo. Com medo do vírus, muitos consumidores europeus começaram a diminuir o consumo de carne de frango e peru, alimentados com rações compostas em parte pela oleaginosa, mas também por milho e outros.
O Valor conversou com traders europeus que negociam soja em grão e farelo durante a 45 Bolsa Européia de Commodities, realizada em Viena na sexta-feira. Todos disseram que os efeitos da gripe poderão comprometer a comercialização de grãos no mundo pelo menos nos próximos três meses. Se o vírus se alastrar pela UE, o comprometimento poderá ser maior. O Brasil, um dos principais exportadores de grãos para o bloco europeu, poderá ter suas exportações afetadas. Em anos considerados normais, as exportações brasileiras de soja em grão aos países da UE alcançam cerca de 10 milhões de toneladas, volume similar ao dos embarques de farelo, conforme fontes ligadas às indústrias.
Segundo Francis de Winter, operador da área comercial da Louis Dreyfus, o efeito psicológico provocado pela gripe na Europa já tem afetado os negócios. “Já sentimos a queda na importação de soja e farelo porque os consumidores daqui entraram em pânico”, disse. “Pode ser que esse efeito psicológico se dissipe, mas, por enquanto, os consumidores europeus estão se orientando pelas informações da mídia e não estão interessados em consumir aves”.
Para Giorgio Dalla Bona, diretor comercial da Bunge Itália, os efeitos são ainda mais perversos naquele país. Os italianos, segundo ele, estão entre os maiores consumidores europeus de frango. Com a gripe, há notícias de que frigoríficos locais estão com problemas financeiros. O quilo do frango vivo na Itália está por volta de 0,40 euros, enquanto os custos de produção estão em 0,80 euros. “A queda dos preços começou há algumas semanas, antes da descoberta do vírus na UE”, disse uma fonte.
Na França, maior produtor europeu de carne de frango e terceiro maior do mundo, os produtores estão preocupados e solicitaram ajuda do governo para dar suporte ao setor avícola, conforme especialistas. A venda de carne de frango e peru no país caiu 20% nos últimos dias.
Bona, da Bunge, lembrou que de 25% a 30% da ração animal são compostas por grãos. A queda do consumo de soja e farelo, sobretudo no sul da Europa, é de 10% a 15%. Segundo ele, os efeitos negativos para a comercialização de soja deverá perdurar até janeiro. Isso preocupa o setor, uma vez que dezembro é considerado um dos mais importantes para o consumo por conta das comemorações das festas de fim de ano. Atualmente, os produtores de aves estão em época de engorda do frango.
Enrique Traver, diretor da Imcopa, disse que por enquanto as exportações da empresa à Europa não foram afetadas. Segundo ele, o assunto já preocupa. A companhia estima exportar 2 milhões de toneladas de grãos neste ano, quase 100% para o mercado europeu. “Se o vírus não se espalhar, os reflexos negativos devem passar rápido, em menos de seis meses.” Segundo ele, a Europa importa cerca de 20 milhões de toneladas de soja por ano. Ele afirmou, ainda, que os preços internacionais do grão já começam a refletir os efeitos negativos provocados pela gripe.
As suspeitas de que a gripe poderia ameaçar o Brasil com a descoberta de uma ave infectada na Colômbia foram descartadas porque a variedade da gripe é não é letal.