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<p>FAO vê commodities em retração no longo prazo.</p>

Da Redação 16/02/2005 – Os preços reais dos produtos agrícolas continuarão caindo no longo prazo, em razão de excesso de produção, aumento de produtividade e políticas distorcivas dos países industrializados. A avaliação é da FAO, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para alimentação e agricultura. Em relatório sobre commodities agrícolas, a agência calcula que o preço real dos produtos agrícolas declinou 2% ao ano nos últimos 40 anos, prejudicando a renda de mais de 2,5 bilhões de agricultores em países em desenvolvimento.

Os preços dessas commodities desceram ao menor nível desde a grande depressão dos anos 30, em razão de evolução de técnicas, gosto dos consumidores e estruturas de mercado, além dos subsídios de mais de US$ 200 bilhões/ano dados pelos ricos a seus agricultores.

O esforço de muitos países em desenvolvimento para expandir a produção provocou um efeito negativo: eles estão exportando mais, mas ganhando menos. E a FAO nota que o excesso de produção ocorreu não só no café, por causa da entrada de novos produtores como o Vietnã. Mas também no caso de banana e arroz, entre outros. A FAO estima, em todo caso, que os exportadores em desenvolvimento teriam recebido US$ 112 bilhões a mais em 2002 se os valores das dez principais commodities agrícolas exportadas tivessem subido tanto quanto a inflação internacional desde 1980. Para Alexandre Sarris, diretor da Divisão de Comércio e Commodities da FAO, nesse cenário o Brasil é “de longe” o país com maior potencial para se destacar, graças aos milhões de hectares adicionais de que dispõe e da produção boa e barata.

Nas últimas décadas, prossegue a FAO, houve mudanças estruturais. Entre outras está o aumento da produtividade, que subiu 20% mais rapidamente na agricultura que na indústria, e com 100% mais velocidade nos países em desenvolvimento que nos ricos. Nos próximos 30 anos, terão forte peso as mudanças de regimes alimentares, já que população do mundo em desenvolvimento deverá consumir cerca de 30% mais carne, lácteos e gorduras, e a demanda por cereais não deverá aumentar.

A agência da ONU ressalta, também, que a fatia dos emergentes nas exportações agrícolas aumentou mais de 30% nos últimos anos, passando a 44% – com crescimento ainda mais acelerado na América Latina. Enquanto isso, o déficit comercial líquido dos países em desenvolvimento no setor de alimentos chegará a US$ 50 bilhões, ante superávit de US$ 1 bilhão registrado há 20 anos atrás.

Outra tendência é a perda de terreno das nações em desenvolvimento nos produtos processados. Esse segmento cresceu mais rápido que o de produtos primários, mas o grosso do valor agregado foi “capturado” pelos ricos. A crescente concentração em vários segmentos agrícolas afetou “consideravelmente” o comércio internacional. Exemplo da FAO: 40% da produção de café no mundo é comercializada por quatro companhias (Neumann, Volcafe, Ecom, Dreyfus), e 45% do produto é processado por três empresas (Philip Morris, Nestlé, Sara Lee).

Entre os remédios apontados pela FAO para tentar brecar as tendências apresentadas estão o combate aos subsídios e a queda de tarifas agrícolas, que nos países industrializados são de 60% (média), ante 5% para bens industriais.