Da Redação 05/03/2004 – 12h05 – De tempos em tempos, o influenza, vírus da gripe, sofre uma mutação radical e torna-se extremamente contagioso e letal. É assim que surgem epidemias mundiais, como a gripe espanhola de 1918, a mais agressiva que já atingiu a humanidade. Apesar de essas pandemias não terem data marcada para aparecer, a previsão dos especialistas é de que a próxima deve estourar a qualquer momento. O alerta foi publicado por epidemiologistas na revista Science no final do ano passado e ganhou nova força com a propagação da chamada gripe do frango em países asiáticos. O vírus H5N1 passou da ave para humanos na Tailândia e no Vietnã e em meados de fevereiro, havia matado 20 das 29 pessoas infectadas.
A edição no. 152 da revista Galileu traz uma vasta reportagem sobre o assunto, destacando que projeções epidemiológicas da OMS (Organização Mundial da Saúde) calculam que, se o vírus adquirir a capacidade de passar de uma pessoa para a outra – pois até o momento o contágio se dá apenas pelo contato com os animais -, entre 10% e 25% da população mundial (que é de 6,4 bilhões de pessoas) serão infectados em poucos meses. Desse total, 30% devem morrer.
De acordo com a revista Galileu, esses números aterrorizantes se referem à previsão mais pessimista da OMS, que leva em conta a rapidez de propagação do vírus (que consegue dar a volta ao mundo em apenas quatro dias), mas não conta com a velocidade da informação e dos recursos médicos.
Perigo que vem dos bichos
A reportagem da revista Galileu também traz um trecho, no qual algumas doenças humanas são referidas como originárias de animais. Veja a íntegra:
“Misturem-se criações de espécies diferentes de animais, condições inadequadas de armazenamento, higiene precária e aglomerações humanas. Está pronta a fórmula para a eclosão de novas epidemias. São esses fatores que ajudam a explicar por que grande parte dessas doenças tem início em países asiáticos, onde existem todas as condições citadas. “Além das mais recentes, como a Sars e a atual gripe do frango, tudo indica que doenças como a varíola e o sarampo também tenham surgido no continente”, diz o epidemiologista Stefan Ujvari. Ele explica que os vírus acabam passando dos animais para o homem. Isso aumenta as chances de que eles sofram mutações, adaptem-se ao nosso organismo e passem de uma pessoa para outra. “Ao aglomerar animais com finalidade econômica, os homens favorecem o surgimento de epidemias que passariam despercebidas aos humanos se os bichos estivessem espalhados pela natureza, pois suas doenças se restringiriam a eles”, diz.
No livro Armas, Germes e Aço, o epidemiologista americano Jared Diamond explica que, nos animais, as doenças epidêmicas também precisam de populações grandes e densas, surgindo principalmente entre espécies sociais, como vacas e porcos. “Quando domesticamos esses animais, eles já sofriam de doenças epidêmicas que apenas esperavam o momento de serem transmitidas para nós”. Ele cita como exemplo o vírus do sarampo, parente próximo do vírus causador da peste bovina, que possivelmente foi transmitido dos rebanhos para os seres humanos e depois evoluiu para o modo como o conhecemos. Os vírus da tuberculose e da varíola também teriam se originado a partir do contato dos humanos com os bois, e a coqueluche, do contato com porcos e cães. “Esses invasores são criteriosamente escolhidos pela seleção natural, e apenas alguns conseguem se transformar em doenças do homem”, diz o epidemiologista.“