Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Artigo

CONTROLE INTEGRADO DE ESTERCO E DE MOSCAS NA AVICULTURA DE POSTURA COMERCIAL

Profa. Dra. Masaio Mizuno Ishizuka<br />Profa. Titular de Epidemiologia das Doenças Infecciosas e Vigilância Ambiental - FMVZ/USP<br />Dr. José Roberto Bottura<br />Diretor Técnico da APA

CONTROLE INTEGRADO DE ESTERCO E DE MOSCAS NA AVICULTURA DE POSTURA COMERCIAL

I. MANEJO INTEGRADO

CONCEITO:
O que é Manejo Integrado: é a prevenção e controle de insetos, principalmente a mosca doméstica, utilizando diferentes métodos para diminuir sua quantidade a níveis compatíveis com a produção, pela aplicação de métodos culturais ou físicos atualizados, método biológico e quando necessário, o método químico. A erradicação ou eliminação  total de insetos é impossível e daí a importância de reduzir sua população para níveis aceitáveis.

O conceito de nível aceitável é relativo e depende de uma série de circunstâncias e começa pelo conhecimento do ciclo biológico e comportamento da mosca. Para combater o “inimigo” é preciso conhecer o inimigo, seus hábitos de vida e reprodutivos. No passado, tinha-se o conceito de que bastava usar inseticidas e as moscas estavam controladas e, por ser um pensamento errado, foi abandonado e substituído pelo manejo integrado. Quanto maior for o número de medidas de prevenção e controle, maiores serão as possibilidades de sucesso.

II. CONHECENDO O CICLO BIOLÓGICO DA MOSCA E A IMPORTÂNCIA DE SEU CONTROLE NA AVICULTURA

Importância de se controlar a mosca: quando a tecnologia de produção de aves passou do sistema extensivo (a campo) para intensivo em instalações (fechadas ou abertas), os avicultores passaram a enfrentar desafios associados a pragas (roedores e insetos) e dejetos (esterco). Insetos e estercos estão intimamente ligados, mais especificamente a mosca doméstica, que encontrou no esterco condições de sobrevivência nas granjas avícolas pela disponibilidade de alimento, água, abrigo e local para postura de seus ovos. Quando as moscas estão presentes em grande quantidade geram problemas para as aves não apenas causando desconforto, mas atuando na transmissão de doenças, na deterioração do meio ambiente, perturbação das vizinhanças e, consequentemente, com prejuízos econômicos e jurídicos para o produtor. Na transmissão de doenças atuam como vetores (vetores biológicos e/ou vetores mecânicos) de salmoneloses tíficas (S. Pullorusm e S. Gallinarum), salmoneloses paratíficas (S. Enteritidis e S. Typhimuriun), doença de Newcastle, enterites como colibacilose (Escherichia coli), tênia (Raillietina sp) e muitas outras.

No esterco, local preferencial das moscas para se alimentar e colocar seus ovos, também são encontrados seus inimigos naturais como o besouro (Carcinops troglodites); ácaro (Macrochelis muscadomestica); a vespa/vespinha (Spalangia spp); e outros como a tesourinha (Forficula auricularia). Além destes aspectos, existem outros que tornam as moscas repugnantes: alimentam-se de lixo, de esterco e pousam, com as patas contaminadas, sobre alimentos que estão sendo preparados, apresentados para serem ingeridos, rações de aves, etc. Este Manual se restringirá à mosca doméstica, porém, alerto da existência de outras pragas como o cascudinho (Alphitobius diaperinus), aranhas, escorpiões, carrapatos, ácaros etc. Sempre que se queira destruir o inimigo. Assim, vamos conhecer seu ciclo biológico que envolve conhecimentos de seus hábitos de vida; a procura de alimento, água e abrigo; e reprodução.

2.Ciclo de vida da mosca doméstica: é preciso conhecer as características de vida das moscas para reduzir sua população na granja:

a. Hábitos de vida: vive na dependência do homem seja de residência ou locais de atividade produtiva como granjas avícolas, fábricas de ração. Por isso é também conhecido como animais sinantrópicos (significa “junto com o homem”).
b. Hábitos alimentares: alimentam-se de todos os alimentos humanos e os encontra a descoberto nas residências, em lixos, no esterco e em materiais orgânicos em decomposição e não têm preferência por carne ou cadáveres em decomposição.
c. Reprodução e crescimento:

  •  A mosca adulta e suas características externas: as moscas adultas medem de 5,0 a
    8,0 mm de comprimento; a coloração varia cinza claro a escuro; no tórax apresentem
    quatro listras longitudinais escuras; o aparelho bucal é do tipo lambedor sugador. A
    mosca adulta vive, em média 30 dias (25 a 45 dias).
  • Reprodução: macho e fêmea copulam e põem ovos depois de 2 dias a 35oC ou depois
    de 9 dias a 15oC. Na natureza, cada fêmea pode fazer de 6 a 8 vezes (baterias) na vida

Em cada bateria coloca, em média, 120 ovos. Incrivelmente, uma mosca, coloca em um mês, 840 ovos. Para colocar seus ovos, a mosca procura os melhores lugares pelo cheiro de dióxido de carbono, amônia e outros gazes eliminados nos processos de decomposição de matéria orgânica. Os melhores materiais são o esterco em fermentação e em putrefação. Os ovos são colocados em pencas e logo abaixo da superfície do local escolhido pela mosca afim de proteger os ovos de dessecarem (perda de umidade) e a umidade adequada é de 90%, mas não pode ser líquida. O ovo passa pelas fases de larva de 1ª, 2ª e 3ª fases; em seguida pela fase de pupa que se rompe e libera a mosca.

  • Nascimento de uma nova mosca: depois de 7-10 dias de colocados os ovos, sai a mosca da pupa, já adulta se a temperatura do ambiente for de 35º C u pode levar de 6-8 dias e se for de 16º C leva de 40-49 dias. Portanto, no verão a reprodução é rápida e no inverno é mais lenta.

d. Criadouros: acúmulos de esterco, lixos, restos de alimentos humano são os preferidos das moscas. São mais comuns em granjas de poedeiras criadas em gaiolas.
e. Hábitos de voar das moscas adultas: são exímias voadoras e voam a velocidade de 6-8 km/hora. Não voam longas distancias e nem migram desde que tenha alimentos a sua disposiçao e permanecem em um raio de 100-500 metros de seus criadouros. Quando ocorre superpopulação, buscam outros locais e podem se distanciar até 1-5 km de seu nascedouro. Embora tenham sido localizados até a 20 km do nascedouro, não se sabe se foram voando ou de “carona”.

Abaixo, encontra-se ilustrado o ciclo biológico da mosca.

ciclo da mosca


III. MANEJO DO ESTERCO PARA DIMINUIR A POPULAÇÃO DE MOSCAS

1. Introdução: esterco de galinha, importância e aproveitamento como fertilizante. A preservação do meio ambiente tem estimulado a reciclagem de resíduos dos mais variados tipos incluindo as de origem aviária. O impacto ambiental decorrente do lançamento, no solo, de resíduos sólidos in natura tem gerado atenção por parte dos órgãos responsáveis pela preservação ambiental. Em decorrência desses fatores, existe uma busca por novas
tecnologia e formas de manejo visando o desenvolvimento sustentável, a qualidade de vida e
a preservação ambiental.

O esterco de aves, utilizado na agricultura como adubo orgânico sem prévio tratamento adequado apresenta alto potencial poluidor do meio ambiente com sérias consequências como:

a. Poluição do solo e das plantas através dos metais contidos no esterco;
b. Impacto na saúde animal e saúde pública decorrente da presença de agentes patogênicos como bactérias, vírus e helmintos;
c. Impacto ambiental pela volatilização da amônia, gás de efeito estufa, emanação de maus odores e fator de estresse das aves e pessoas que trabalham na avicultura;
d. Queima de plantas devido à alta concentração de sais e ácidos orgânicos como ácido acético e toxinas prejudiciais às plantas;
e. Poluição e contaminação de águas superficiais e subterrâneas, pelo escoamento superficial e infiltração de partículas de compostos orgânicos e microrganismos;
f. Favorecimento da procriação de moscas e outros invertebrados disseminadores de doenças para animais e humanos (SIMS, J. T. Organic wastes as alternative nitrogen sources. In: BACON, P. E. (Ed.). Nitrogen fertilization in the environment. New York: Marcel Dekker, p. 487-535, 1995).

Segundo GHALY & ALHATTAB (2013), a disposição e armazenagem de dejetos/esterco de aves in natura vem se tornando um sério problema ambiental relacionado com a qualidade do ar, água e do solo. O esterco começa a se degradar imediatamente após a defecação liberando amônia que, em altas concentrações pode causar efeitos indesejáveis na saúde e produtividade das aves bem como na saúde dos trabalhadores.

O lançamento no solo tem sido o procedimento mais comum de utilização do esterco de aves pela  disponibilização de nutrientes para as plantas, melhorando a qualidade do solo e reduzindo problemas associados com sua compactação. O efeito da profundidade das camadas de esterço e da temperatura no perfil nutricional e
aproveitamento como fertilizante mostram que:

a. Não afeta significantemente o pH do esterco;
b. A perda de amônia durante a secagem diminui o pH de 8,4 para 6,4-6,7;
c. A perda mais significante de Nitrogênio (44-55%) ocorre nas partes mais profundas das camadas de esterco (3,0 cm) e à temperaturas superiores a 60º C que reduzem a relação N:P:K de 4,58:1, 29:1 e 2,07:1 para 30:1- 2.57:1.28:1;
d. A secagem do esterco reduz a presença e a intensidade de odores ofensivos em 66% e 69% respectivamente.
e. A secagem de esterco reduz significantemente a presença de bactérias em 66.0 a 100,0%; leveduras e mofo em 74.0 a 100,0%; e a E. coli em 100,0%.
f. Esterco seco pode ser utilizado como fonte de fertilização de plantas devido ao seu alto teor em nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) que são essenciais para o crescimento das mesmas. No esterco estão presentes também o cálcio, magnésio, enxofre, boro, cobre, ferro, manganês, molibdênio, cobalto e zinco em teores significantes e carentes em fertilizantes comerciais.

g. A profundidade ideal da cama de esterco, sobre a terra do piso, é de 1 cm mesmo que a temperatura oscile de 40º C a 60º C. O tempo de secagem aumenta com aumento da profundidade da cama de esterco. As variáveis estudadas umidade total final, densidade, sólidos totais, sólidos voláteis, cinza, demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO), Nitrogênio total em Kjeldahl, nitrogênio amoniacal, cálcio,
fósforo, potássio, pH foram favoráveis ao esterco seco comparativamente ao in natura.

LISKA & KIC (2010) verificaram que a secagem à temperatura ambiente de esterco de galinhas de postura reduzia a umidade para 34% em clima temperado. Com a elevação da temperatura a partir de 21.5º C é possível reduzir a umidade para até 19,0%. Em ambos os casos, a secagem ocorreu em 48 horas. Complementarmente concluíram que, o controle da umidade do esterco é fundamental e recomendam uso de bebedouros tipo nipple
inspecionando periodicamente para detectar vazamento/desperdício e abolir bebedouro tipo calha.
O uso não controlado de dejetos como fertilizante traz sérias consequências ao meio ambiente, como a fertilização excessiva do solo, com alto teor de nutrientes, resultando em poluição de águas subterrâneas e eutrofização (excesso de vida vegetal devido ao lançamento de fertilizantes altamente ricos em nutrientes minerais e orgânicos) de águas superficiais. É necessário que se conheça a legislação brasileira no que diz respeito ao seu controle, registro e uso no solo. Pode-se citar como exemplo a IN 25/2009 do Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA (que trata dos biofertilizantes) e a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA 452/2009 (estabelece as concentrações máximas de alguns parâmetros no solo).

IV. MANEJO DO ESTERCO EM ESTABELECIMENTOS COM GALPÕES CALIFORNIANOS TRADICIONAIS EM CONDIÇÕES DE NORMALIDADE DE UMIDADE
(ESTAÇÕES DO ANO SEM CHUVA EXCESSIVA E BEBEDOUROS SEM VAZAMENTO)

MUDANÇA DE HÁBITOS CULTURAIS DO AVICULTOR: visam aplicar medidas para minimizar as causas que aumentam a população de moscas em uma granja. Estas medidas estão ligadas ao manejo adequado do esterco, sistema de arraçoamento e manutenção das instalações.
a. Retirada frequente e periódica do esterco: manter o esterco que fica debaixo das gaiolassempre seco. Ao retirar o esterco, deixar uma pequena quantidade para manter os predadores que ali estão. É para diminuir as possibilidades de desenvolvimento das larvas da mosca. Diante de grande quantidade de esterco ou necessidade de acelerar a secagem, pode-se colocar entre o piso e parte inferior das gaiolas da 1ª fileira, um anteparo ripado de madeira e suspenso que aumentará a superfície de deposição de esterco.
b. Anteparo ripado: facilita secagem e remoção do esterco quando a distância entre o solo e o fundo da gaiola for pequena, colocar um ripado de madeira de aproximadamente 5 cm de largura distantes 3-4 cm entre as ripas (Fig. 1). Quando for impossível colocar ripado, a inspeção deve ser mais constante para localizar pontos de umidade excessiva de esterco. Esterco bem manuseado acumula-se em forma de “torre”. Quando não for possível colocar
ripado, inspecionar com frequência para identificar umidade excessiva e corrigir imediatamente. Esterco bem manejado acumula-se em forma de “castelinho”. Visão externa do galpão (Fig. 2) e visão interna (Fig. 3).

Anteparo ripadoV. MANEJO DO ESTERCO EM SITUAÇÕES DE EXCESSO DE UMIDADE (ESTAÇÕES CHUVOSAS DO ANO, BEBEDOUROS COM VAZAMENTO E GRANJAS DE GALINHAS VERMELHAS NO VERÃO)

1. Umidade excessiva debaixo de algumas gaiolas: pode ser devido ao bebedouro com defeito (Fig. 4) ou outra causa que deve ser investigada como em granjas de galinhas vermelhas, nos períodos de verão (Fig. 5) e corrigida; lembrar que umidade persistente favorece crescimento de larvas de moscas (Fig. 6). Corrigir cobrindo com esterco seco e/ou adicionando produtos biológicos (blend) formulados à base de Bacillus subtilis, enzimas e substâncias dispersantes que facilitam a fermentação da biomassa, sua secagem e consequente redução de odor.
2. Umidade excessiva do esterco devido a fatores como chuva: retirar todo esterco molhado e transferir para local seco e protegido da chuva; secar o esterco com adição de cal ou serragem. Dar o destino usual depois de seco.
OBS. Caso tenha retirado todo esterco para secar, é importante recolocar debaixo das gaiolas uma porção do esterco já seco para que ocorra reposição dos inimigos naturais.

Restos de ração: recolher sempre que tiver restos de ração fora do comedouro porque podeumedecer e atrair moscas.
Silos: manter sempre tampados e resíduos de ração no piso ao redor dos silos devem ser
removidos.
Água de bebida: manter nipples ou outro tipo de bebedouro sem vazamentos para evitar desperdício e umedecimento do esterco.
Manutenção das instalações: frestas devem ser fechadas para evitar que o ácaro vermelho (Dermanyssus gallinae) ali se refugiem. São irritantes, sugadores de sangue e pode atacar o homem causando lesões de pele.

A seguir sequência de fotos ilustrando aspecto antes da aplicação do blend (Fig. 7a), aplicação
do blend (Fig. 7b) e resultado final (Fig. 7c)

aplicação do blend

VI. MANEJO DO ESTERCO EM ESTABELECIMENTOS COM GALPÕES AUTOMATIZADOS VERTICAIS


1. Cuidados dentro do galpão:
a.
Galpões automatizados: são instalações com sistema automatizado de distribuição de ração, de água e de coleta de ovos e esterco. O esterco é removido através de esteiras e enviados para o exterior do galpão.
b. Cuidados com o esterco: transportar o esterco para locais destinados à secagem,
usualmente galpões abertos e cobertos.
c. Cuidados com a esteira coletora de fezes: face à impossibilidade de sanitização dessas esteiras, recomenda-se a periódica limpeza das mesmas por escovação ou outro meio físico que dispense uso de água.
2. Cuidados com o local de secagem do esterco:
a.
Secagem: máquinas são utilizadas para o revolvimento da biomassa (esterco) ao longo do canal de secagem, fazendo com que o esterco seja movimentado para a frente e, assim, facilitando a secagem pelo correto revolvimento da biomassa. Atualmente, estão disponíveis no mercado vários tipos de máquinas com características peculiares, mas que promovem a distribuição do esterco de galinhas bem cm o correto revolvimento da
biomassa (Fig. 8). Em função das características mecânicas destas máquinas se dimensionará a largura e profundidade das leiras de secagem que não devem ultrapassar 60 cm de altura. Predominam vários sistemas de revolvimento da biomassa compostos de pás-rotativas e helicoides.

Quando a biomassa apresentar umidade excessiva e/ou odor, o blend acima mencionado na proporção de 30 g/m3 de esterco.

sistema de secagem

3. Observação dos aspectos do esterco antes (Fig. 9) e depois (Fig. 10) do processo de secagem e possibilidade de obtenção de produto final com diferentes graus de granulometria (Fig. 11 e Fig. 12)

artigo


VII. CONTROLE DA MOSCA EM ESTABELECIMENTOS COM GALPÃO CALIFORNIANO E EM SITUAÇÃO DE NORMALIDADE DA UMIDADE

 

1. MÉTODOS BIOLÓGICOS: o acúmulo de esterco se dá debaixo das gaiolas onde ocorre o
desenvolvimento de insetos benéficos, mas que são predadores de moscas como:


Besouro ou besourinho (Carcinops troglodites): a larva e o adulto vivem normalmente no esterco das aves e comem quantidades elevadas de ovos e larvas de moscas (cada besourinho come cerca de 10 ovos de mosca
por dia. Não confundir com o cascudinho.

Ácaro (Macrocheles muscadomesticae): vive tanto no esterco como no corpo das moscas facilitando sua disseminação para outros criadouros; alimentam-se de ovos de moscas e estima-se que cada ácaro coma
aproximadamente de 20 ovos/dia;

Vespa ou vespinha (Spalangia endius, S. cameroni, Muscidifurax raptoroides e Paphycrepoideus vindemiae): perfuram a casca da pupa e coloca seus ovos e as vespinhas que nascem, comem as larvas da mosca.
Atacam tanto a pupa que cai no piso como também pupas que estão na parte mais interna do esterco (até 20 cm de profundidade)

Tesourinha (Euborelia annulipes, Labidura riparia e Strongylopsalis mathurini): possui, na parte final do corpo, 2 peças em forma de tesoura. Não são predadores de moscas, mas do ácaro vermelho (Dermanyssus
gallinae) porque destes se alimentam.

A atividade máxima desses predadores ocorre no esterco seco porque com a umidade não conseguem se locomover e, consequentemente, dificultando a captura de quantidades necessárias de ovos e larvas de moscas para se alimentarem. Além disso esses predadores cavam túneis e galerias no esterco seco facilitando a passagem de ar que favorece a secagem do esterco.

2. MÉTODOS QUÍMICOS: inseticidas são recomendados somente quando os métodos anteriores (culturais e biológicos) não forem suficientes devido à superpopulaçao de moscas. Existem 2 tipos de inseticidas, o chamado larvicida (elimina formas larvares) e adulticudas (elimina formas adultas).

a. UTILIZAÇÃO DE LARVICIDAS:
Vantagens: o uso de larvicida parece fácil e lógico; “se existe um inimigo, mate-o” aplicando, sobre o esterco 1-2 vezes por semana. Sabe-se que o esterco passa por modificações na medida que é produzido e acumulado debaixo das gaiolas e os inseticidas comuns penetram no esterco prejudicando sua qualidade, uniformidade e uso final. A consequência mais grave é o fato dos larvicidas comuns destruírem os inimigos naturais e sua recuperação é muito mais lenta que a recuperação das moscas. Portanto, escolher com cuidado os inseticidas que matam apenas as larvas e preservem os inimigos naturais das moscas.

RECOMENDAÇÕES PARA GRANJAS QUE IRÃO USAR LARVICIDA SELETIVO PELA 1ª VEZ:

1ª etapa: começar tratando o esterco velho com larvicida próprio para esta finalidade.
2ª etapa: aplicar larvicida seletivo na ração ou pulverizar na superfície do esterco novo.
Assim,

1º ETAPA: LARVICIDA SELETIVO PARA APLICAR NO ESTERCO VELHO:
Reconhece-se que o esterco está velho quando a cor for marrom escura.

Não utilizar larvicida na ração, mas usar outro larvicida seletivo comercializado pronto especialmente para esterco velho.

Estando o esterco armazenado em galpão, espalhar devidamente, aplicar 0,5 g/m2, preparando uma calda de 100 g do larvicida seletivo (a base de CIROMAZINA) para esterco velho diluindo em 20 litros de água. Esta calda será suficiente para tratar 100 m2 de superfície de esterco, aplicando com pulverizador comum, sendo 1 litro para cada 5 m2. Caso existam muitas larvas e moscas adultas, associar larvicida para esterco velho e adulticida.

2ª ETAPA: LARVICIDA SELETIVO PARA APLICAR NO ESTERCO NOVO: é aquele que mata apenas larvas de moscas como é o caso da CIROMAZINA do grupo da TRIAZINA. Comprar sempre a Ciromazina de alto grau de pureza porque impedem que a larva se transforme em pupa e consequentemente não se terá moscas na granja. Inibem a formação da quitina que recobre o corpo da mosca.

  •  Formas de aplicação: pulverização sobre o esterco ou adicionado à ração das aves facilitando o trabalho na granja e conferindo uniformidade de resultado. Sendo seletivo para larvas de moscas, não ocorre efeito colateral nas aves de produção, não afetando o sistema digestório das aves, é integralmente eliminado
    pela urina e, consequentemente, agindo nas larvas presentes no esterco que não evoluem para pupa. Nos casos de superpopulação de moscas, pode-se associar com a pulverização sobre o esterco aplicando, mais ou menos a cada 4 semanas.
  • Dosagem para adicionar à ração: e 0,005 g/kg de ração, ou seja, 500 g/ton de ração. Uma granja poderá usar só larvicida se a infestação por moscas não for muito alta.
  • Alerta: não utilizar inseticidas organoclorados (DDT, BHC e Dieldrin), organofosforados (diazinon, diclorvos, triclorfon, fenitrotion e bromofós) e alguns piretróides (deltametrina, ciflutrina, cipermetrina e lambdacialotrina). São larvicidas potentes, mas eliminam também os inimigos naturais

UTILIZAÇÃO DE ADULTICIDAS:

  • Vantagens: ao invés de usar adulticidas diretamente sobre o esterco, recomenda-
    se usar sob forma de iscas baseada no conhecimento do ciclo biológico da mosca
    e outros insetos. Os adulticidas eficazes não tem odor e nem sabor que são
    repulsivas para moscas e, portanto, a atração é devido à presença de substancias
    como açucares
  • Adulticida fulminante: aplicado em locais que não seja o esterco. Tais inseticidas
    modernos e fulminantes e que apresentam baixa toxicidade são associadas a
    substâncias que atraem as moscas para as iscas (feromônios sintéticos/hormônio
    sexual sintético) e adicionado de uma substancia alimentar atrativa como o açúcar.
    O inseticida recomendado, por não ser detectado pelas moscas, cuja princípio ativo
    é AZAMETIFÓS, moderno organofosforado de baixa toxicidade e de efeito
    fulminante.
  • Quando aplicar: quando a infestação é muito elevada que se reconhece pela
    presença de larvas, pupas e adultos na granja.
  • Formas de aplicação: muito empregado na forma de isca ou na forma de calda
    para pincelamento (de pó molhável), pulverização localizada. Por conter açúcar,
    moscas são atraídas e lembrem a superfície aplicada com o adulticida. Depois de
    15 dias da aplicação, pode-se borrifar água porque o inseticida continua ativo.

artigoVIII. CONTROLE DA MOSCA EM GALPÃO FECHADO, CLIMATIZADO E ESTERCO RECOLHIDO POR ESTEIRA


1. Recolhimento do esterco: no caso de galpões fechados, o esterco recolhido por esteiras deve ser enviado para local apropriado.
2. Secagem do esterco: para facilitar a secagem paraprevenir que as moscas coloquem seus ovos. Ao
lado, ilustração de revolvimento mecânico.
3. Manejo quando o odor de esterco é intenso: pode-se misturar ao esterco produtos comerciais que diminuem o odor.

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDREATI FILHO, R.L. Saúde Aviária e Doenças. Ed. Roca, 314p, 2006.
2. BRASIL. Biologia e Controle de Artrópodes. In Manual de Saneamento. Orientações técnicas.
Ministério da Saúde, Fundação Nacional da saúde (FUNASA), 407p, 2007.
3. BRASIL. Instrução Normativa Nº 56, de 4 de dezembro de 2007, do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, que estabelecer os procedimentos para registro, fiscalização e controle
de estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais.
4. BRASIL. Instrução Normativa SDA No 25, de 23 de julho de 2009 que aprova as normas sobre as
especificações e as garantias, as tolerâncias, o registro, a embalagem e a rotulagem dos fertilizantes
orgânicos simples, mistos, compostos, organominerais e biofertilizantes destinados à agricultura,
na forma dos anexos à presente instrução normativa.
5. CARVALHO NETO, C. Manual Novartis de Biologia e Controle de Moscas na Zona Rural.
6. GHALY, A.E.; ALHATTAB, M. Drying poultry manure for pollution potential reduction and production
of organic fertilizer. American Journal of Environmental Science, v.9, n.2, p. 88-102, 2013
(Disponível em: http://www.thescipub.com/ajes.toc).
7. LISKA, R.; KIC, P. Drying process of poultry manure at various temperatures. 4th International
Conference on Trends in Agricultural Engineering (TAE 2010), Prague; Czech Republic; 7-11
September 201.
8. OWEN, R.L. A practical guide for managing risk in poultry production. American Association of
Avian Pathologists (AAA), 275p. 2011.
9. PAIVA, D. P.; VANZIN, R.S. Controle Integrado de Moscas no Meio Rural, Embrapa Suínos e Aves,
2007.
10. SWAYNE, D.E. e editores associados. Diseases of Poultry. 13th ed. Ed. Blackwell Publ.1393p. 2014.
11. SIMS, J. T. Organic wastes as alternative nitrogen sources. In: BACON, P. E. (Ed.). Nitrogen
fertilization in the environment. New York: Marcel Dekker, p. 487-535, 1995
12. THRUSFIELD, M. Veterinary Epidemiology. Ed. Blackwell Publ, 610p, 2007.