“Para que a Languiru possa retomar as suas atividades com eficiência, temos necessidade emergencial de aporte financeiro, recurso que nos daria condições de tomarmos decisões e colocarmos ações em prática no pouco tempo que temos, fôlego para a continuidade das negociações e reorganização da Cooperativa.” Essa foi a fala do presidente da Languiru, Paulo Birck, em audiência com o governador Eduardo Leite na manhã desta segunda-feira, dia 05 de junho, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), em Porto Alegre. Secretários de Estado, deputados, instituições financeiras, prefeitos do Vale do Taquari e lideranças de entidades ligadas ao meio rural também estiveram na reunião.
O plano de reorganização apresentado também destaca como essencial a carência e o alongamento de dívidas vencidas ou a vencer. No montante do recurso emergencial estão previstos valores na negociação com fornecedores, freteiros, parceiros comerciais, produtores rurais e instituições financeiras; valores para honrar verbas trabalhistas; reorganização da atividade avícola; reabastecimento da rede de varejo; descontinuidade e encaminhamentos para a suinocultura.
De pronto, após o encontro foi composto grupo para reunião técnica com a participação do presidente Paulo Birck, vice-presidente Fábio Secchi e superintendente Administrativo, Comercial e Financeiro Rafael Lagemann pela Languiru; representantes da consultoria externa contratada pela Cooperativa; e comitê com representantes de bancos públicos, Sicredi e Secretaria Estadual da Fazenda, que analisaram as questões postas e eventuais alternativas.
Paralelamente a isso, grupo político articula reunião na esfera Federal, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e representantes de instituições financeiras federais, especialmente Caixa Econômica e Banco do Brasil, pleiteada para a próxima semana.
“Corremos contra o tempo para que as ações necessárias ainda possam acontecer e construir uma viabilidade futura da Languiru. O que precisamos agora é fôlego financeiro”, acrescentou Secchi.
Crédito
A secretária da Fazenda do RS, Pricilla Maria Santana, defendeu a necessidade de garantir o stand still (acordo de adiamento de cobrança) dos valores contratados pela Languiru junto às instituições financeiras e ventilou apoio para linhas de crédito para eventuais parceiros ou compradores terceiros de ativos da Cooperativa. “Esse alongamento da dívida é uma possibilidade”, disse.
Bancos públicos representados no encontro se mostraram dispostos a atender solicitação da Languiru em repactuar pendências financeiras, com alongamento da dívida, carência e otimização de garantias de operações. Por outro lado, não sinalizaram com a possibilidade de novos créditos financeiros, com base em regulações do próprio Banco Central e do Tribunal de Contas.
O governador Eduardo Leite deverá reunir as equipes técnicas para dar continuidade às discussões. “Precisamos discutir o que fazer e o que se pode fazer em termos financeiros, com instituições bancárias que têm sua condução sob forte regulação. Vamos ver todas as possibilidades no curtíssimo prazo. Sabemos da importância da cadeia produtiva para a região e todo Estado, por isso devemos estender a conversa também ao Governo Federal.”
A fala do secretário-chefe da Casa Civil, Artur Lemos, foi na mesma linha do alongamento da dívida e carência. “Estamos procurando soluções dentro do que é possível ser feito. Toda essa situação deve servir de exemplo para as cooperativas: uma questão é a parte social, o relacionamento com o quadro social, e outra é o direcionamento da cooperativa para uma gestão de excelência, com profissionalização. É preciso criar a cultura de que as cooperativas são um espaço de negócios, deixando isso claro também para os associados.”
O comitê técnico deve se reunir novamente esta semana, sob a coordenação da Casa Civil.
Governo Federal
O deputado estadual Elton Weber, presidente da Frente Parlamentar de Apoio ao Cooperativismo (Frencoop-RS) e integrante da Comissão de Agricultura, Pecuária, Pesca e Cooperativismo da Assembleia Legislativa, defendeu a necessidade de levar o tema Languiru e dificuldades das cooperativas gaúchas à esfera federal. “A criação desse comitê técnico é muito importante para a continuidade dos trabalhos. As prorrogações de cobrança e aporte de recursos precisam passar por esse comitê. À medida que andam ações nesse sentido, a Cooperativa também precisa se desfazer de ativos e identificar possibilidades. Entendemos que o primeiro passo era conversar com o Estado, onde o impacto econômico e social da Languiru é maior, mas também temos a convicção de que o trabalho deva se estender até o Governo Federal.”
O deputado estadual Edivilson Brum frisou que possivelmente na próxima semana a Languiru sediará encontro da bancada gaúcha dos deputados federais, cuja pauta principal será o momento delicado da Cooperativa e o cenário da cadeia produtiva da proteína animal, os altos custos de produção e taxas de juros. Também deve estar em discussão a solicitação de compra de milho direto da CONAB por parte das cooperativas, com preços mais baixos, o que dependeria de alteração na legislação federal por uma medida provisória. “Bancos públicos precisam ajudar a socorrer a cadeia produtiva, de relevância econômica, social e histórica para o Rio Grande do Sul. Todos nós precisamos fazer um esforço extraordinário.”
Situação crítica
O prefeito de Teutônia, Celso Aloísio Forneck, pediu atenção às famílias. “A situação é crítica. É um problema econômico e social que se agrava.”
A prefeita de Poço das Antas, Vânia Brackmann, desabafou. “As pessoas vêm até a minha casa pedir ajuda. Sinceramente, não sei qual o destino do meu município.”
O vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG-RS), Eugênio Zanetti, lamentou ausência de representantes do Sistema Ocergs-Sescoop/RS na mesa de discussão. “Não é apenas a Languiru que passa por momento de dificuldade. O Estado precisa olhar para as cooperativas do agronegócio e mapear o que está acontecendo com o segmento. A conta acaba sobrando para as famílias dos pequenos agricultores, que também têm a sua parcela de culpa ao não participarem ativamente das cooperativas às quais pertencem. A situação é caótica e dramática.”
Na reunião a direção da Languiru também anunciou organização de Comitê de Gestão com a participação de instituições financeiras. “É mais uma ação com foco na transparência e austeridade. Essa ‘cadeira’ permite que as próprias instituições financeiras nos auxiliem na tomada de decisões, num modelo de governança mais participativo e que evidencia que, mais do que nunca, a Languiru não é apenas dos associados, mas de toda sociedade”, concluiu Birck.