Um relatório anual produzido pelo think tank de energia Ember revela que este ano pode marcar uma mudança significativa na matriz energética global em direção a fontes mais limpas. Os investimentos crescentes em energia eólica e solar elevaram a participação combinada dessas fontes para 13% na geração de eletricidade dos países do G-20, em comparação com os 5% registrados em 2015, ano em que o Acordo de Paris foi assinado.
No mesmo período, a parcela de energia gerada a partir do carvão caiu de 43% para 39%. O relatório, chamado de Global Electricity Review, analisa 78 países, que representam 93% do consumo global de eletricidade, e se aprofunda na análise dos dez maiores emissores de dióxido de carbono (CO2), responsáveis por mais de 80% das emissões globais.
O setor energético é apontado como o que mais precisa se desvincular das fontes de origem fóssil para alcançar a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2100, por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa, como o CO2. Essa meta foi estabelecida pelos 192 países signatários do Acordo de Paris.
Desde então, a participação da energia solar na geração global de eletricidade quadruplicou, passando de 1,1% em 2015 para 4,5% em 2022. Já a energia eólica mais que dobrou sua participação no mesmo período, de 3,5% para 7,6%. Em 2022, a geração solar aumentou em 24%, tornando-se a fonte de eletricidade de crescimento mais rápido nos últimos 18 anos, enquanto a energia eólica teve um avanço de 17%.
A descarbonização do setor elétrico, que já estava em andamento, foi impulsionada pelo crescimento recorde das energias eólica e solar. O aumento da participação dessas fontes limpas e renováveis resultou indiretamente em uma redução na intensidade de carbono da geração global de eletricidade, que alcançou a marca de 436 gCO2/kWh em 2022, o valor mais baixo registrado até o momento, de acordo com o estudo.
A Ember considera a energia nuclear como uma fonte limpa, o que tem sido motivo de controvérsia. No entanto, quando as fontes renováveis e nucleares são combinadas, a participação das fontes limpas na geração global de eletricidade chega a 39%, também um recorde. A analista sênior da Ember, Malgorzata Wiatros-Moty, afirma: “É o início do fim da era fóssil. Estamos entrando na era da energia limpa”.
No entanto, a cientista Ana Flavia Nogueira, diretora do Center for Innovation on New Energies (Cine) e pesquisadora da Unicamp, adota uma abordagem mais cautelosa ao analisar os dados do relatório da Ember, afirmando que estamos no momento de transição energética.
Em relação aos países do G-20, o progresso em direção à energia eólica e solar é variado. A liderança está na União Europeia, que gerou 22% de sua eletricidade a partir dessas fontes em 2022. Na América Latina, países como Uruguai (36%), Chile (28%), Brasil (15%) e Argentina (12%) estão na média global ou ligeiramente acima.
Com uma matriz energética majoritariamente limpa, com 80% provenientes de hidrelétricas e biomassa, o Brasil está bem posicionado no contexto da descarbonização energética em comparação com a maioria dos signatários do Acordo de Paris. Estatísticas da Agência Internacional de Energia (IEA) indicam que, em 2021, a energia eólica representava cerca de 15% do total de fontes renováveis no país.