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Utilização de grãos transgênicos para alimentação de aves

Palestra foi uma das mais concorridas no primeiro dia do evento promovido pela Avimig.

Edilson Paiva, pesquisador da Embrapa

Redação AI 26/06/2003 – Assunto polêmico, a utilização de grãos transgênicos na alimentação humana e animal foi o tema de abertura da rodada técnica do Avicultor 2003, evento promovido anualmente pela Avimig e que está sendo realizado desde ontem (25), em Belo Horizonte (MG).

Apresentada pelo pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Edílson Paiva, a palestra atraiu a presença de um grande número de pessoas, que lotou as dependências do auditório da sede da Avimig. De acordo com Paiva, as discussões sobre a utilização de transgênicos no Brasil é permeada por um altíssimo nível emocional e ideológico, fato que dificulta e até impossibilita a propagação de informações imparciais e esclarecedoras sobre o assunto. O resultado de tudo isso, segundo ele, é a polêmica que cerca o tema atualmente no País. “Os grupos que são contra os trangênicos são mais ativos, estão sempre na mídia e como a tecnologia dos transgênicos é uma coisa relativamente nova é muito fácil usar essa informação para assustar as pessoas, para desinformá-las”, afirma o pesquisador.

Para Paiva, essa desinformação tem várias razões. “Muitas pessoas realmente acreditam que os transgênicos podem causar danos ao meio ambiente e à saúde humana. Mas com certeza essas mesmas pessoas foram assustadas por outras com interesses menos nobres, ou seja, interesses políticos e principalmente econômicos.”, diz.

Segundo ele, a discussão sobre transgênicos normalmente se dá com retórica, meias verdades o que, em sua opinião, acaba por desviar a atenção do foco principal do assunto: os reais riscos e benefícios dessa tecnologia para a agricultura mundial. O papel exercido pela mídia também contribui para disseminação da desinformação sobre o assunto ao veicular informações sem nenhum embasamento científico. As manchetes sensacionalistas comumente veiculadas pela imprensa solidificam posições contrárias a utilização de transgênicos e fica muito difícil combater esse processo de desinformação”.

Transgênicos no Brasil – Outro aspecto destacado por Paiva em sua apresentação foi o fato dessa tecnologia ser disponibilizada via multinacionais, o que em sua opinião acaba gerando um problema econômico e ideológico. “A apropriação da tecnologia e como ela será disponibilizada precisa de discussão. Ao não se discutir e ao se bloquear, não permitir o desenvolvimento de pesquisas nessa área automaticamente se corre o risco de ficar para trás”, afirma. Visível entusiasta do uso da biotecnologia, o pesquisador chama atenção para o fato de o País proibir a plantação de transgênicos em território nacional. De acordo com Paiva, é dever do Brasil ficar atento ao jogo da não utilização de transgênicos. Para ele, o papel do setor público sempre foi muito importante para o desenvolvimento da agricultura brasileira, pois as instituições públicas sempre geraram várias tecnologias para esse segmento. “No caso específico do Brasil essas instituições geraram uma tecnologia ímpar no mundo que são as técnicas para se produzir alimentos em condições tropicais, que, diga-se de passagem, não é nada fácil”, explica. “E essas instituições sempre disponibilizaram essas tecnologias a um custo zero para os produtores”.

Segundo ele, no caso dos transgênicos o setor público brasileiro está paralisado. “O Estado começa a colocar um monte de regras, burocracia excessiva, redundância de requerimentos etc. que impedem o desenvolvimento de estudos e pesquisas nessa área. Nós já estamos com uma moratória de cinco anos nesse sentido”, afirma.  “Quando se desarticula o setor público corre-se o risco de perder o bonde da história e ter que aceitar uma tecnologia que vem de fora sendo que o país tem toda a estrutura para desenvolver pesquisas próprias. Como aconteceu com a tecnologia da informática, nuclear”. Segundo ele, este é o momento para o desenvolvimento de pesquisa com transgênicos e o Brasil possui pesquisadores totalmente habilitados para isso.

Paiva também é a favor da utilização de grãos transgênicos para a alimentação de aves e afirma que esse tipo de alimentação não oferece qualquer risco para o meio ambiente, saúde animal ou humana. O pesquisador defende que a utilização de transgêncos é de suma importância  para o futuro da agricultura do Brasil e do mundo. “Se o crescimento populacional manter o mesmo nível de crescimento teremos que alimentar em pouco tempo mais cinco bilhões de pessoas”, explica. “Com a prática da agricultura extensiva usada hoje, que não permite expansão, quer dizer, não existe terra mais para expandir o plantio, o único caminho é aumentar a produtividade rural. Ou seja, vamos ter a mesma área para plantar mas teremos que dobrar a produção de alimentos e isso só será possível através da utilização da biotecnologia”.