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Pesquisa sobre o mercado asiático

Cepea/Esalq pesquisa potencial e barreiras para as exportações agropecuárias ao mercado asiático.

Da Redação 15/12/2003 15h45 – O comércio brasileiro com a China vem aumentando expressivamente nos últimos cinco anos e esse país já é o segundo maior comprador do Brasil. Na parcial deste ano, até outubro, adquiriu, em valor monetário, 6,5% das exportações brasileiras, atrás apenas dos EUA, que responderam por 23,2%. Ao lado da China, que ampliou 178,5% suas compras de produtos brasileiros nos últimos cinco anos, outros países asiáticos também se mostram com grande potencial de importação. A Coréia do Sul, por exemplo, nos mesmos cinco anos, expandiu em 82,5% as importações de produtos brasileiros; o Japão, porém, diminuiu 5,4% em valor.

Números como esses motivaram pesquisadores do Cepea a iniciar um amplo estudo sobre esses mercados, especificamente sobre a potencialidade de exportação dos produtos agroindustriais brasileiros, tendo como pano de fundo alguns fatores econômicos, sociais e políticos. Uma primeira etapa desse trabalho identificou também as dificuldades que os exportadores brasileiros têm enfrentado nesses mercados.

Pesquisa do mercado asiático
A pesquisa foi coordenada pela Dra. Sílvia Helena G. de Miranda e por David Yoshigi Nukui, economista agroindustrial membro da equipe de Economia Internacional do Cepea Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Esta etapa do trabalho foi embasada em literatura, entrevistas e questionários a empresas instaladas no Brasil que já mantêm relações comerciais com Japão, China e Coréia do Sul. A maior parte das empresas amostradas trabalha com café; o álcool também foi um produto bastante mencionado.

As empresas pesquisadas mencionaram que os fatores de maior impacto no comércio do Brasil com a China são variáveis de política macroeconômica nacional, como as taxas de juros doméstica e de câmbio. Também citaram a importância das tarifas de importação, barreiras sanitárias/fitossanitárias e enfatizaram o efeito negativo da burocracia do governo chinês. Uma parte significativa do comércio externo chinês é controlada pelo governo, por meio de monopólios estatais, um sistema complexo de preços e outras medidas que tornam o comércio pouco transparente e acabam se configurando em barreiras comerciais.

Em relação aos aspectos culturais, dentre os países analisados, o Japão é considerado o mais “ocidental”, o que difere bastante dos chineses e sul-coreanos, que preferem manter sua forma particular de negociar, marcada por períodos mais longos de negociação. Apesar das questões política e cultural influenciarem no comportamento do empresariado desses países, o fator cultural não foi apontado como uma das dificuldades maiores para a relação com o Brasil. Um exemplo do favorecimento promovido pela proximidade cultural é o fortalecimento das relações comerciais da China com países do Sudeste asiático, onde residem muitos chineses overseas (extramar), que migraram no século passado.

Tanto no caso da China quanto da Coréia, as empresas iniciaram seus contatos comerciais com esses países por meio do envio de representantes próprios ou por meio de trading companies. Já em relações com o Japão, tradicional importador do agronegócio brasileiro, a maioria das empresas entrevistadas comercializa com esse país há mais de 10 anos. Uma boa parte também mencionou que foram necessários investimentos para exportar.

Setores mais promissores para o Brasil na Ásia


China
A literatura indica que os principais produtos com potencial para exportação brasileira à China são a carne de aves, suína e bovina, couros e peles, soja em grão, açúcar, álcool, tabaco não-manufaturado e suco de laranja. De todos esses mercados, a participação brasileira nas importações chinesas de carnes (frango, suína e bovina) e de couro e peles ainda é pequena e, no caso do álcool, há um grande potencial, mas ainda não há transações entre os dois países. Já o açúcar, a soja, o tabaco não-manufaturado e o suco de laranja, a participação é expressiva. Atualmente, o Brasil responde por 9,3%, 25,5%, 53,7%, 67% das importações totais chinesas desses produtos, respectivamente. As exportações do agronegócio, na média dos últimos cinco anos, representaram 46% de todas as vendas brasileiras para a China.

A inserção da China na OMC mostra-se como uma oportunidade para o Brasil, embora a redução das tarifas possa ser descompensada pela manutenção de intensas barreiras não-tarifárias. O aumento da frota de automóveis chinesa e o programa de utilização do álcool etílico como combustível, em implementação, também podem representar oportunidades.

Japão
Também neste caso, as variáveis identificadas como tendo os maiores impactos foram as domésticas (taxa de câmbio, de juros, escassez de linhas de financiamento, burocracia brasileira). Foram enfatizadas ainda a acirrada concorrência internacional, tarifas de importação elevadas e a burocracia japonesa. Nos últimos cinco anos, os produtos agropecuários representaram, na média, 53% de todas as exportações brasileiras para o Japão.

O Japão possui essencialmente a mesma pauta de importação que possuía há dez anos, mantendo alta a participação de produtos de baixo valor agregado, que são processados naquele país. Nos últimos cinco anos, diminuíram tanto o valor quanto o volume exportado pelo Brasil para este país. Esse comércio é dominado por trading companies japonesas. Segundo a literatura, os principais produtos com potencial para exportação brasileira são carne bovina, carne suína, pescados, café em grão, açúcar, álcool etílico, tabaco não-manufaturado, soja em grão, papaias, caqui, uva e manga. O Brasil, porém, ainda não exporta carne bovina, suína, papaia, caqui, uva nem manga; a participação do açúcar também é inexpressiva. Já para pescados, café, álcool, tabaco e soja, o País responde por percentuais razoáveis da importação total japonesa 5,8%, 27,3%, 16%, 13,5% e 14%.

Os produtos orgânicos e o álcool são vistos como duas grandes oportunidades para o Brasil nesse mercado. A literatura aponta que as barreiras não-tarifárias impostas à carne bovina e à carne suína, inclusive as sanitárias; as barreiras fitossanitárias às frutas e os picos tarifários aos dois grupos de produtos desafiam a competitividade nacional.

Coréia do Sul
Quanto à Coréia do Sul, de acordo com as empresas amostradas, com destaque para as exportadoras de café, os fatores de maior efeito sobre seu desempenho foram novamente a taxa de juros, seguida da burocracia governamental no Brasil, dificuldade de acesso a linhas de financiamento, política cambial, tarifas de importação elevadas e concorrência internacional. A maioria das empresas amostradas era de capital nacional, destacando-se dois grupos, um exportando há menos de cinco anos para esse mercado, e o outro há mais de dez anos. A realização de investimentos para exportar para estes mercados também foi ponto em comum a tais empresas.

O consumo per capita de alimentos na Coréia do Sul é o terceiro maior do mundo, segundo dados da FAO, justificando que este país seja um dos maiores importadores de produtos do agronegócio. Apesar disto, é um dos menores importadores do setor agroindustrial brasileiro, absorvendo apenas 1,12% do total agro exportado pelo Brasil nos últimos 13 anos. A parcela total é relativamente pequena, mas o agronegócio tem um papel representativo na pauta exportadora para esse país, respondendo, nos últimos cinco anos, por 39% da receita obtida. Vale notar que os volumes agro variam expressivamente, mas apresentam crescimento constante. O consumidor coreano tem alto poder aquisitivo para adquirir produtos de maior valor agregado e é bastante exigente em termos de qualidade e inocuidade dos alimentos.

A literatura indica como principais produtos com potencial para exportação brasileira para este país a carne bovina, carne suína, couros e peles, milho, complexo de soja, café, tabaco não-manufaturado, suco de laranja e álcool etílico. Desses, somente a carne bovina ainda não conseguiu participação de mercado e, a suína tem, por enquanto, apenas 0,1%; couros e peles estão em 1,5%. Já o complexo soja grão, óleo e farelo atinge percentuais por volta de 7%; o café torrado fica em apenas 2,7%, em grão, a 14%; para o milho, a participação atual é de 15,9%, para tabaco, 18,1%, suco, 82% e o álcool já representa, 28%, respectivamente. O “boi verde” brasileiro e o milho livre de transgênicos são vistos como dois produtos com potencial para exportação.