Redação AI (edição 1097) – O que é colesterol? O colesterol foi isolado pela primeira vez em 1770. Em 1920, dois químicos alemães, Adolf Windaus (da Universidade de Gottingen) e Heinrich Wieland (da Universidade de Munique), esquematizaram a molécula do colesterol e por este feito receberam o prêmio Nobel de Química em 1927 e 1928.
O colesterol é um importante componente estrutural e funcional das células orgânicas, sendo distribuído pelo organismo, em especial no sistema nervoso. um lipídeo (gordura) amplamente disseminado, precursor dos ácidos biliares, vitamina D, além dos hormônios sexuais masculino e feminino e hormônios adrenocorticóides. Assim, pelo fato de o colesterol ser tão necessário e vital para a manutenção e regulação da função corpórea, quase todos os organismos animais produzem seu próprio suprimento de colesterol, que é sintetizado no fígado.
Como o colesterol afeta a saúde
Níveis elevados de colesterol no sangue estão relacionados com o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Como o organismo produz suas próprias necessidades de colesterol, dependendo da quantidade ingerida nos alimentos, pode haver um excesso da substância no organismo em relação às necessidades. O excesso de colesterol no sangue pode aumentar o risco de um ataque cardíaco ou de um derrame, pois o mesmo pode ser depositado nas artérias, tornando-as mais estreitas. Se uma artéria que supre sangue para o cérebro ficar entupida, a pessoa pode ter um derrame.
Colesterol dos alimentos e tipos de colesterol
Os alimentos podem conter uma mistura de três tipos de gordura: saturadas, moinsaturadas e polinsaturadas. Todas possuem a mesma quantidade de calorias, porém, afetam de maneira diferente os níveis de colesterol no sangue, devido ao fato de o fígado produzir colesterol por meio da gorduras saturadas. As gorduras saturadas aumentam o nível de colesterol sangüíneo mais que qualquer outro alimento da dieta. No entanto, as gorduras mono e polinsaturadas podem reduzir os níveis de colesterol no sangue quando substituem as gorduras saturadas na alimentação. Os alimentos de origem vegetal não contêm colesterol.
O colesterol é transportado pelo sangue e assimilado pelas células na forma de complexos de lipoproteínas de alta densidade (HDL) e as lipoproteínas de baixa densidade (LDL). O HDL é conhecido como o colesterol bom, porque elimina o colesterol da corrente sangüínea ao levá-lo de volta para o fígado, onde o excesso é transformado em ácidos biliares. O LDL é conhecido como colesterol mau, porque ajuda o colesterol a aderir nas paredes das artérias e com isso aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
Para que o organismo se mantenha sadio é indispensável o equilíbrio entre a biossíntese de colesterol e a sua utilização, de modo que os depósitos destes nas artérias se mantenham mínimos. Quanto ao fato dos níveis de colesterol sangüíneo serem influenciados pela dieta alimentar, vários estudos nos mais renomados centros de pesquisas mundiais foram realizados na última década e nenhum deles apresenta consistência ao correlacionar a incidência de doenças cardiovasculares aos níveis de colesterol oriundos da dieta alimentar. Isso se deve ao fato de que uma alteração de 100 mg/dia no colesterol da dieta modificaria os níveis plasmáticos de colesterol em apenas 1%.
Segundo o pesquisador americano Donald J. McNamara, estudos de alimentação sobre colesterol na dieta revelaram que a substância aumenta tanto os níveis de colesterol mau (LDL) como os do colesterol bom (HDL) o que não teria nenhum efeito sobre o risco total de doença cardiovascular, porque a relação LDL:HDL não é afetada.
Os níveis de colesterol e triglicerídeos se encontram na Tabela 1. Os níveis ideais indicam que o indivíduo não corre risco de doenças cardiovasculares; o nível suspeito indica que devemos fazer um acompanhamento médico e que corremos algum risco; já os níveis de alto risco, representam maiores possibilidades de termos problemas cardiovasculares.
Tabela 1. Níveis de colesterol sangüíneo e risco para a saúde.
Parâmetros | Ideal | Suspeito | Alto Risco |
Colesterol Total | Menos de 200 mg % | Entre 200 e 239 mg % | Mais de 240 mg % |
Colesterol Bom (HDL) | Mais de 60 mg % | Entre 35 e 60 mg % | Menos de 35 mg % |
Colesterol Mau (LDL) | Menos de 130 mg % | Entre 130 e 160 mg % | Mais de 160 mg % |
Triglicerídeos | Menos de 150 mg % | Entre 150 e 200 mg % | Mais de 200 mg % |
Colesterol e Ovo
A qualidade do alimento ovo é conhecida e descrita há muito tempo, pois o mesmo contém todos os nutrientes necessários para formar um animal completo. O ovo contribui à nutrição com uma proteína de alta qualidade, 13 vitaminas e minerais e possui uma baixa concentração calórica. O ovo contém cerca de 213 mg de colesterol, os quais estão localizados apenas na gema. Como esse valor é relativamente alto, quando comparado com outros alimentos, o ovo tem sido discriminado por profissionais das mais variadas áreas, entre eles médicos e nutricionistas.
Na verdade, importamos dos Estados Unidos o dogma de que o ovo faz mal porque contém colesterol, mas esquecemos de que o consumo médio do americano é de 250 ovos por ano, enquanto no Brasil é de apenas 90. No entanto, países com elevado consumo de ovos como o Japão, Espanha e França têm as menores taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares entre os países industrializados, o que demonstra que o ovo não é o vilão destas doenças.
Outro pesquisador americano, Frank Hu (da Universidade de Harvard) e colegas, publicou na revista da Associação Médica Americana (JAMA, 1999) que comer um ovo diariamente não aumenta o risco das doenças do coração e nem de derrame em pessoas saudáveis. Estes pesquisadores não encontraram uma relação entre o consumo de ovos e a doença cardiovascular em uma população de mais de 177 mil enfermeiras e profissionais da área de saúde, acompanhados durante períodos de 8 a 14 anos. Também não verificaram diferenças entre o risco de doença cardíaca entre pessoas que consumiram menos de um ovo por semana e pessoas que ingeriram mais de um ovo por dia. A nova pesquisa mostrou também que alguns nutrientes do ovo de galinha compensam possíveis danos causados pelo colesterol. Segundo o cientista, o efeito do colesterol ruim do ovo é contrabalanceado pelos efeitos do bom colesterol, de vitaminas do complexo B e da gordura insaturada, que estão presentes no ovo e podem, inclusive, ajudar a prevenir distúrbios cardiovasculares.
Na verdade, explicaram os cientistas, antes os médicos supervalorizavam o colesterol mau existente no ovo, mas não prestavam atenção nos seus componentes positivos. Nos estudos, a única restrição referiu-se aos diabéticos, sugerindo que estas pessoas podem ter um risco maior de doenças cardíacas ao consumir ovos frequentemente.
Como diminuir os riscos de enfarte e derrame
As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte na maioria dos países industrializados. Estudos realizados mostram claramente que o tabagismo, hipertensão arterial, obesidade e altos níveis de colesterol no sangue são os principais responsáveis.
O exercício físico, evitar o tabagismo, controlar a obesidade e manter uma dieta saudável ajudam a aumentar os níveis do colesterol bom no organismo e diminuir os riscos de doenças cardiovasculares. Devemos consumir moderadamente alimentos que contenham níveis elevados de colesterol como carne vermelha gorda, fígado de animais, rins, coração, língua, doces em geral, frutos do mar e gema de ovo. Podemos consumir em maior quantidade alimentos que não possuem colesterol ou com níveis baixos como frutas, vegetais, verduras, cereais, pães, clara de ovos, peixes sem gorduras, carnes brancas ou magras. Para as pessoas que sofrem de doença genética, hipercolesterolemia congênita, é necessário lançar mão de medicamentos redutores do colesterol no sangue.
por Ariel Antonio Mendes* e Joerley Moreira**
* Professor Titular da Unesp e vice-presidente Técnico Científico da UBA.
** Doutorando da FMVZ/UNESP, Campus de Botucatu.