A área plantada com a cultura de milho nas regiões mecanizadas de Santa Catarina cairá 50%, criando o maior déficit da história agrícola e gerando a necessidade de importação de até 3 milhões de toneladas desse grão, em 2010. A avaliação é do vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), Enori Barbieri.
Essa situação deriva, em parte, da falta de uma política agrícola consistente para sustentação de preços no sul do País. A conseqüência mais grave, além do empobrecimento da família rural, é o afastamento do sistema agroindustrial catarinense que vai, aos poucos, migrando para o Brasil Central e outras regiões com maior oferta de grãos. “Nesse cenário, soa trágica a recente decisão do governo em cortar o crédito do ICMS na importação de milho”, observa o vice-presidente.
O milho, insumo fundamental para as vastas cadeias produtivas de frangos, suínos e leite, é cultivado em 815.000 hectares que produzem 4 milhões de toneladas por ano, numa média de produtividade de 50 sacos/hectare. Nos anos de normalidade de produção, Santa Catarina importa 2 milhões de toneladas para abastecer o vasto sistema de produção agroindustrial.
Com a decisão dos produtores de áreas mecanizadas, onde há maior produtividade, em reduzir 50%, a Faesc calcula que a área total cultivada no Estado (incluindo as lavouras não mecanizadas) ficará em 30% menor.
Os produtores rurais vão migrar do milho para a soja, que oferece custo 50% menor e remuneração maior, 40 reais a saca. Por isso, para as agroindústrias, 2010 será um ano difícil, prevê o dirigente.
Em 2008, o preço do milho não gerou renda aos produtores: apesar da queda de produção em consequência da seca,o preço se manteve baixo (17 reais a saca), pouco acima do preço mínimo fixado em R$ 16,50 a saca. Pouca produção e preço baixo potencializaram o prejuízo, explica Barbieri.
O mercado praticou preços reducionistas porque havia um estoque de passagem de 2008/2009 de 12 milhões de toneladas. O ano vai terminar com nova sobra de passagem 2009/2010 da ordem de 10 milhões de toneladas, porque as exportações de milho foram pífias em razão da situação cambial – dólar baixo e pouca competitividade do produto brasileiro no exterior.
Este cenário não deixa dúvidas: Santa Catarina terá que importar até 3 milhões de toneladas do Paraná, Mato Grosso e Paraguai, no próximo ano.