Ao mesmo tempo em que se torna a maior empresa de proteínas do mundo, a JBS, uma “marca” ainda pouco conhecida no país, tenta, com uma estratégia curiosa, se aproximar do consumidor final. Enquanto se funde com a Bertin e abocanha pelo menos 20% do abate nacional de bovinos, a JBS coloca nas ruas de cidades médias do país vans, com o logo da empresa, adaptadas com prateleiras refrigeradas para vender carne de porta em porta. Isso mesmo: uma musiquinha anuncia a chegada da van e duas moças vendem os cortes bovinos já embalados ao consumidor.
Enquanto faz sua estreia em aves com a compra da Pilgrim’s Pride, nos EUA, a empresa põe em prática o projeto-piloto, que tem cara muito mais de estratégia de marketing do que de uma forma de aumentar vendas.
Qualquer que seja o objetivo, a ideia fez sucesso quando contada, na quarta-feira (16/09) , por José Batista Júnior, um dos donos da JBS, durante debate na Interconf, em Goiânia. No mesmo dia, o irmão de Júnior, Joesley Batista, presidente da JBS S.A, anunciava a fusão e a aquisição que colocaram a empresa no posto de terceira maior do Brasil entre as não-financeiras de capital aberto.
A “carne na van” é só mais uma entre as ousadias da JBS, que, com um apetite quase sem fim por aquisições, mudou a cara do mercado brasileiro de carne.
Analistas acreditam que o principal afetado pelo avanço da JBS no Brasil será o pecuarista. “A concentração, teoricamente, tem efeito negativo, porque quando um ator [do mercado] ganha mais força, o pecuarista tem menos opções de venda”, diz José Vicente Ferraz, da AgraFNP.
Junto com Bertin, a JBS tem capacidade de abate de quase 12,6 milhões de cabeças de bovinos por ano, cerca de 20% da capacidade estimada do país, entre 60 milhões e 65 milhões de animais, conforme a Scot Consultoria.
Fabiano Tito Rosa, da Scot, afirma que a estratégia de compra de gado após a fusão também afetará a vida do pecuarista. A Bertin, observa ele, tinha acabado de colocar em prática um programa de compras, com bonificação pela fidelidade do pecuarista. Já a JBS compra gado no “spot”.
Ele vê um lado positivo na concentração: melhor que ela ocorra do que uma empresa em dificuldades financeiras sair do mercado deixando fornecedores sem receber. A Bertin, que vinha negociando com a Marfrig, antes de fechar com a JBS, estava bastante alavancada. A relação de sua dívida líquida com seu Lajida (lucro antes de juros, impostos e depreciação) era de 5,1 vezes. O mercado considera confortável entre duas e três vezes.
Tanto Ferraz quanto Tito Rosa avaliam que a concentração pode até beneficiar o consumidor. Um grupo mais forte teria maior poder de barganha para negociar com o varejo, levando as redes a reduzirem a diferença entre o preço que compram o produto e que o vendem.
Mas um especialista do setor de carne avalia que pouco deve mudar para o consumidor. Sua leitura é que o poder de barganha maior ainda é do varejo, “que tem a interface com o consumidor”, isto é, o conhece. Ele observa que, diferentemente de Sadia e Perdigão, que criaram a Brasil Foods, JBS e Bertin não têm marcas fortes. No food service, a Marfrig, que acaba de comprar a Seara, também é mais forte do que a JBS, acrescenta.