Maior Estado produtor de soja do País, Mato Grosso se aproxima do fim do plantio da safra de verão 2009/10 com piores perspectivas para a rentabilidade de suas lavouras do que no início da semeadura, em 15 de setembro.
Na bolsa de Chicago, principal referência global para as cotações do grão, os contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) subiram 9,13% de lá para cá (nessa terça-feira os papéis fecharam a US$ 10,52 por bushel, alta de 4,25 centavos), mas analistas preveem queda nos próximos meses por causa da expectativa de produção mundial recorde nesta safra 2009/10.
Já o dólar, outro alicerce vital para os produtores de soja, já que o Brasil é o segundo maior exportador da commodity do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, caiu 4,15% na comparação com o real desde meados de setembro. E, na atual conjuntura, especialistas não veem espaço para grandes valorizações até o primeiro trimestre do ano que vem. Negociada acima de R$ 1,70 nessa terça-feira, a moeda poderá inclusive derreter, para os mais pessimistas, até o nível de R$ 1,60.
Se a curva de baixa de fato se aprofundar, significará que os produtores venderão a safra com o dólar mais fraco do que durante a aquisição de insumos como adubos e defensivos, referenciados na moeda americana. É um descasamento que costuma preocupar mais os sojicultores do que a comparação entre as cotações do dólar na mesma etapa dos trabalhos – seja na compra de insumos, seja na comercialização da produção.
Nesse contexto, observa Renato Sayeg, da Tetras Corretora, o horizonte de preços para a fase inicial da colheita mato-grossense não é nada promissor. Nessa terça-feira (24), diz ele, houve negócios em Cuiabá com a saca de de 60 quilos de soja cotada a R$ 43,50, mas para lotes a serem entregues na segunda quinzena de janeiro os sojicultores pediram R$ 33 e os compradores em potencial não aceitaram pagar mais de R$ 30.
Com as perspectivas de preços mais baixos em dólar e câmbio cada vez menos favorável às exportações, a comercialização antecipada da safra de Mato Grosso não deslancha, ainda que o ritmo esteja mais acelerado do que nesta mesma época do ano passado, quando as negociações da futura colheita do ciclo 2008/09 esbarraram na escassez de crédito no caixa de algumas tradings.
Conforme levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), outubro chegou ao fim com apenas 29,3% da produção prevista vendida. No mesmo mês de 2008, o percentual era de 26,8%. Já a colheita em si já cobriu 92,8% da área total prevista até 19 de novembro, ante 91,53% no mesmo dia do ano passado.
O Imea calcula que a área plantada de soja em Mato Grosso totalizará 5,946 milhões de hectares na safra de verão 2009/10, 4,3% mais que em 2008/09. O instituto estima uma queda de 1,6% na produtividade média das plantações e projeta colheita de 17,847 milhões de toneladas, aumento de 2,6%. É mais ou menos o que prevê a Conab, ligada ao Ministério da Agricultura, em seu levantamento mais recente.
Seneri Paludo, superintendente do Imea, já estima a rentabilidade média das lavouras mato-grossenses de soja em R$ 150 por hectare. Na safra 2008/09, ela foi quase três vezes superior.