De acordo com o relatório “Food For Though” do BTG Pactual, para as empresas de proteína animal espera-se que os impactos diretos das restrições comerciais com a Rússia e a Ucrânia sejam limitados. Isso porque a Rússia há anos segue um caminho para aumentar a segurança alimentar e a oferta de proteína doméstica e, assim, reduzir sua dependência de importações. Já a Ucrânia nunca foi um mercado relevante para as exportações brasileiras de proteína, exceto para carne suína há mais de 7 anos. Combinados, eles responderam por 1,9%, 2,6% e 1,1% das exportações brasileiras de carne bovina, de aves e suína, respectivamente.
Embora as exportações de carne bovina e suína da Rússia e da Ucrânia sejam bastante pequenas, elas desempenham algum papel no comércio global de aves, respondendo por 5% do total das exportações. A Ucrânia é a mais importante das duas, representando 3,3% do comércio global. Os analistas acreditam que isso não altere significativamente a dinâmica global da proteína, especialmente considerando o menor tempo de comercialização das aves em relação a outras proteínas. Por outro lado, os analistas acreditam que como boa parte dos embarques vão para o Oriente Médio, os exportadores brasileiros podem encontrar preços melhores por enquanto.
Esse cenário, de acordo com o relatório, pode ser positivo para a BRF, que recentemente registrou uma importante recuperação de margem na região, e a Seara da JBS, embora os preços mais altos dos grãos ainda devem compensar isso.
Impactos no setor de grãos: produtores devem ser pressionados pelos custos
O relatorio do BTG aponta que os produtores de proteínas, principalmente os integrados, como BRF e JBS’s Seara, devem enfrentar pressões de custos adicionais que podem prejudicar as margens, pelo menos até que os níveis de produção de aves e suínos se ajustem ao atual cenário.
A Rússia e a Ucrânia são grandes players no mercado global de grãos. Combinados, eles representam 19%, 14% e 5% da produção global de cevada, trigo e milho. Mas sua relevância para o comércio global é ainda maior, chegando a 31%, 29% e 19% do total exportado para esses três grãos, respectivamente. A região não é um player relevante de soja (2% da produção e exportações globais), mas as interrupções no comércio ainda podem afetar o mercado de soja devido aos efeitos em cascata do papel fundamental que a Ucrânia e a Rússia desempenham no comércio de óleo de girassol (60% e 78% do produção e exportações globais) que podem fazer com que a demanda mude para óleos comestíveis concorrentes, como palma e soja.
O relatório aponta ainda que as interrupções no comércio também estão atingindo o mercado em um momento em que as relações estoque-uso de grãos estão em mínimos de vários anos. Caso as interrupções no comércio permaneçam irão elevar ainda mais os preços.