Redação (18/04/2008)- Segundo levantamento de Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) até o momento foram detectados 2.101 focos, 24% menos que no mesmo período do ano passado. Desde a primeira incidência da praga no País, na safra 2001/02, o prejuízo supera US$ 7,7 bilhões, considerando perdas de grãos, pois o fungo diminui a produtividade, e os custos no combate à infestação. Os números desta safra ainda não foram calculados. Neste ano, mais dois estados aderem ao vazio: Paraná e Bahia. O calendário de proibição da soja nas fazendas por um período de três meses, que varia conforme a região, foi estabelecido no plantio de 2006.
A regra geral para todas as regiões é a proibição de cultivo da soja em um período estabelecido – que começa a partir de 15 de junho, no caso de Mato Grosso e no Paraná, e vai até 15 de outubro, para o Maranhão e a Bahia. Também é preciso eliminar a soja voluntária ou tigüera (plantas originárias dos grãos caídos no solo). Isso porque, segundo a Embrapa Soja, em safras passadas, as semeaduras de soja irrigada, na entressafra, serviu como uma "ponte verde" para a permanência do fungo no ambiente, prejudicando a safra de verão. Segundo o plano de combate à doença, são nove estados hoje que aderiram ao vazio sanitário.
Foi no Paraná justamente a região onde, de uma temporada para outra, houve aumento no número de focos. Ou seja, o contrário da tendência do restante do País. Na safra passada foram 662 casos. Nesta, 1038 – 56% mais e quase metade do registrado em todo o Brasil.
Para o assessor-técnico de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Sílvio Krinski, o crescimento do número de focos não representa, no entanto, que houve uma maior "severidade" da doença. Na sua avaliação, o que ocorreu é que o produtor está mais informado e, além disso, o Estado aumentou o monitoramento. Mas ele também acrescenta que o fato de não ter o vazio sanitário até hoje pode ter influenciado. "Outros estados que adotaram, como Mato Grosso, tiveram uma redução considerável nos focos de doenças", afirma.
Ele explica que o fungo precisa de "soja viva" para continuar na região, por isso a necessidade de vazio. Na prática, o estabelecimento de um calendário onde não podem ser encontrados grãos de soja nas fazendas – no caso do Paraná, entre 15 de junho e 15 de setembro – não permitirá que se cultive mais a safrinha da oleaginosa. Isso porque, como o cultivo se dá no início do ano, a colheita ocorria justamente no período onde a área deve ser desinfectada. Segundo ele, o vazio foi estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, dentro de um plano de combate à praga, mas cada estado determinou regras para o seu cumprimento. Ou seja, existem leis estaduais que estabelecem o calendário e, em caso de não cumprimento, os produtores podem sofrer ação administrativa ou responder criminalmente.
No Rio Grande do Sul, a queda no número de focos da praga foi superior à média nacional. Pelos dados da Embrapa Soja foram 137 manifestações, ou seja, 66% menos que na temporada anterior. Para o presidente da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Jorge Rodrigues, o controle, a atenção do produtor e o clima ajudaram nesta redução. "Nós tivemos focos, mas pontuais, porque o produtor se antecipou e fez os controles adequadamente".
A pesquisadora da Embrapa Soja, Claudia Godoy, diz que os focos ocorriam mais nos plantios tardios, por isso a necessidade do vazio sanitário. Para ela, a menor incidência da praga nesta safra é fruto de uma soma de fatores: o clima, que atrasou a semeadura, e o vazio sanitário, que reduziram o inócuo. De acordo com a pesquisadora, os primeiros focos ocorrem geralmente entre novembro e dezembro. "Este ano, quando começou a oleaginosa começou a florescer, a chuva não estava tão distribuída, retardando os focos". Pelos dados da empresa, foi em fevereiro que ocorreu a maior incidência da doença, com 913 focos – mais uma vez com o Paraná na liderança (487 manifestações).