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Maior preço

Carne sobe, mas não por causa da inflação dos grãos, avaliam analistas.

Redação (05/05/2008)- O movimento de alta no preço das commodities agrícolas no mercado mundial, especialmente dos grãos, não deverá ter um impacto direto sobre a pecuária, na opinião de especialistas ouvidos pelo G1. De acordo com os analistas, a atual elevação no preço da carne bovina – que dos cerca de R$ 47 por arroba no ano passado passou para cerca de R$ 80 – se deve a outros fatores. No entanto, a carne de frango e a suína, que usam farelo de grãos como matérias-primas de sua ração podem ser afetadas, embora ainda não exista uma idéia clara do tamanho desse impacto.
“A inflação das commodities agrícolas não deverá ter um impacto direto sobre o preço da arroba de carne no Brasil”, opina José Vicente Ferraz, diretor-técnico da consultoria Agra FNP. Segundo ele, o principal custo desse aumento seria sobre a alimentação dos rebanhos. No entanto, apenas cerca de 10 milhões, do total de 170 milhões de cabeças do rebanho nacional, fica em regime de confinamento, quando os animais se alimentam com ração. O restante é criado em pastagens, de modo extensivo. “Em países da Europa e nos EUA, onde os rebanhos ficam quase que totalmente em confinamento, esse impacto tende a ser bem mais forte”, completa.
“A alta dos alimentos impacta, sem dúvida, mas de modo limitado”, confirma Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira. “Ela afeta mais diretamente as aves e os porcos”. É justamente isso que teme Pedro de Camargo, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs). “Os suínos comem basicamente milho e farelo de soja, dois produtos que subiram muito nos últimos meses”, informa. Segundo Camargo, esse aumento tende a ser repassado para o produto final. “Está muito caro produzir carne suína, num momento onde os produtores já operam com margens muito baixas. Isso deverá chegar aos consumidores”. No entanto, ainda não existe uma análise sobre o tamanho desse aumento ou mesmo quando ele vai chegar às prateleiras.

De acordo com os especialistas, o atual preço da arroba da carne bovina não tem ligação com a alta dos grãos. “O principal motivo é interno. No ano passado, o Brasil teve preços considerados extremamente baixos. Muitos produtores quiseram se livrar dos estoque e mandaram uma quantidade muito grande pra abate. Como resultado, houve um ‘buraco’ que se reflete agora em pouca carne disponível, e em preços mais altos”, raciocina José Vicente Ferraz, da consultoria Agra FNP. “Esse aumento permite que o custo extra advindo dos grãos seja absorvido pelo produtor”. Para ele, o mercado mundial sofre no momento uma escassez de carne. “Temos um aumento explosivo no consumo de países como China, Índia, Rússia e até Venezuela. Por outro lado, há problemas para que a oferta cresça na mesma proporção”.
Essas limitações seriam principalmente de fundo ambiental: haveria pressões tanto contra o aumento das pastagens como contra as melhorias genéticas dos rebanhos, que poderiam melhorar a produtividade do setor.
No entanto, justamente essa escassez pode abrir uma oportunidade para o Brasil – um dos maiores produtores mundiais de carne. “A escassez de alimentos vai fragilizar as barreiras comerciais. Países que antes não compravam nossa carne já estão mudando de posição”, afirma Antônio Jorge Camardeli, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Um exemplo é uma missão comercial da Indonésia – país que sempre rejeitou a carne brasileira – que chegará ao Brasil nesta semana para examinar as condições sanitárias, o que pode abrir espaço para exportações.
No entanto, para conseguir ampliar as exportações, o país precisa vencer uma série de barreiras. Uma das mais importantes é o embargo imposto pela União Européia, que reduziu de de 16 mil para as atuais 103 o número de fazendas habilitadas a exportar carne bovina para o bloco, alegando que o país não atendia às suas regras de rastreabilidade (possibilidade de checar a localização de cabeças de bois individuais a partir de dispositivos de rastreio, normalmente uma espécie de brinco aplicado nos animais). A medida resultou em uma queda de 11,1% do valor do produto exportado pelo Brasil em março, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
“Há um componente político protecionista forte nessa questão”, afirma Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira. Segundo ele, os próprios europeus têm uma série de problemas com doenças bovinas como a febre aftosa e a BSE (sigla em inglês para Encefalopatia Espongiforme Bovina, a chamada "doença da vaca louca"). “Essa disputa não é técnica, ela é basicamente uma questão de política comercial. A Europa faz jogo duro tentando forçar uma queda do preço do produto no mercado mundial”, concorda Fábio Silveira, da RC Consultores. Segundo ele, é difícil implantar a rastreabilidade nos moldes exigidos pelo europeus em um país como o Brasil, onde quase todo o rebanho é criado ao ar livre, de modo extensivo. “Exige dinheiro, tempo e infra-estrutura”.
Caso consiga superar aos obstáculos, o Brasil tem um amplo potencial à sua frente. O país ainda está fora de cerca de 50% do mercado mundial, e não atinge consumidores atrativos como EUA, Canadá, Japão e Coréia do Sul – justamente os que melhor remuneram em todo o mundo.