Redação (06/06/2008)- As exportações de soja em grão do Brasil bateram um recorde em maio, com os embarques somando 4,442 milhões de toneladas, cerca de 1 milhão de toneladas a mais na comparação com abril (3,34 milhões) e contra 3,15 milhões de toneladas em maio de 2007, apontam dados do Ministério da Agricultura apurados pela Reuters.
Segundo fontes do mercado, o principal motivo foi o protesto de produtores na Argentina, que pode afetar as vendas, levando muitas tradings a transferirem seus embarques para o Brasil, em um momento em que os negócios globais tradicionalmente se concentram na América do Sul, após a colheita da safra."Temos visto uma realocação de embarques da Argentina para cá, realmente tem acontecido bastante, acho que principalmente é isso, boa parte desse aumento", declarou Andrea Cordeiro, trader da Labhoro, no Paraná.As exportações do grão em maio apagaram o recorde anterior registrado em julho de 2006, quando o Brasil exportou 4,37 milhões de toneladas."(O protesto na Argentina) acaba influenciando a demanda aqui pelo Brasil. Não há outro fator (para o aumento), os contratos que tinham lá, estão transferindo para cá", acrescentou um trader de São Paulo, que não quis ser identificado.No mês passado, as exportações de farelo de soja e óleo, produtos cujas taxas no Brasil impedem um melhor desempenho exportador, também foram fortes, mas abaixo de recordes anteriores.
O país vendeu 1,74 milhão de toneladas de farelo de soja em maio, contra 819 mil em abril, ante um recorde histórico de 2,33 milhões de toneladas em setembro de 2002. Já os embarques do óleo no mês passado somaram 147 mil toneladas, ante 102 mil em abril, mas distante das 525 mil toneladas naquele mesmo mês de 2002, quando os embarques de soja em grão somaram 3,8 milhões de toneladas.Com uma produção recorde de soja em 2007/08 e uma forte demanda externa, o Brasil, segundo exportador mundial atrás dos EUA, deve exportar neste ano 27,3 milhões de toneladas do grão, quase 4 milhões a mais em relação a 2007, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), que prevê também vendas externas de 13,1 milhões de toneladas de farelo e 2,1 milhões de toneladas de óleo.
A Argentina é o terceiro exportador mundial de soja em grão, mas lidera nas vendas de derivados.Outras causas, problemas Algumas fontes também apontaram que o recorde em maio se deu, em alguma medida, devido a exportações do mês infladas por registros feitos em abril, quando houve uma greve dos fiscais da Receita Federal –essa greve, entretanto, afetou menos os produtos agropecuários em relação aos bens industriais.
Outro motivo do crescimento seria um maior interesse vendedor das tradings internacionais, que estariam menos propensas a carregar custos de estocagem. "Temos uma safra cheia brasileira em um momento em que algumas das tradings talvez tenham optado por exportar mais grãos, não esperar para fazer farelo e óleo, para não ter o custo de estoque…", disse o diretor do Centro Grão, João Birkhan, ligado aos produtores de Mato Grosso. Segundo ele, as empresas talvez estejam vendendo mais soja para fazer caixa, em um momento em que o custo para financiar a safra subiu juntamente com os preços das commodities, ao mesmo tempo em que "margens violentas" estão sendo consumidas na bolsa de Chicago.
Birkhan também concordou que os problemas na Argentina, que estão se intensificando, também ajudam a impulsionar os embarques de soja.Algumas tradings já teriam transferido até alguns embarques de milho para o Brasil, mesmo com maiores custos e dificuldades em infra-estrutura, como o calado no Canal da Galheta, que dá acesso ao porto de Paranaguá (PR).Não fosse a baixa profundidade do canal, Paranaguá poderia aproveitar muito melhor os problemas na Argentina, porque os navios poderiam sair mais carregados, o que tem acontecido no porto gaúcho de Rio Grande. "Se você comparar os line-ups dos dois portos, enquanto Paranaguá aponta cinco navios de soja, Rio Grande aponta nove", disse Andrea Cordero.