Em março, a intensificação do conflito entre Rússia e Ucrânia manteve a volatilidade acima do usual nos preços internacionais de commodities, pressionando às expectativas de inflação e, consequentemente, endurecendo o discurso de vários membros do Federal Reserve para uma posição mais hawkish sobre a taxa de juros americana.
Eventos dessa natureza deveriam fortalecer o dólar em relação às moedas emergentes (ver FOMC – Novo Ciclo). No entanto, o Real mantém sua trajetória de apreciação, explicado por um cenário de exportação cada vez mais positivo com a elevação dos preços do petróleo, minério de ferro e grãos que melhoram a balança comercial e justificam o ingresso mais robusto do fluxo de capitais estrangeiros para o mercado doméstico.
Ressaltamos que, ao longo deste ano, o Real pode perder a atual tendência de apreciação em função do quadro inflacionário americano.
Nos EUA, tanto o atual choque dos preços das commodities quanto os dados de atividade econômica mostrando crescimento acima do potencial tem apresentado aos membros do comitê de política monetária americana (FOMC) um cenário cada vez mais desafiador ao combate da inflação. Logo, acreditamos que as taxas de juros por lá devem encerrar 2022 no range 2,75% – 3,00% e fechar 2023 entre 3,75% – 4,00%. Com estes fatores na mesa, entendemos que o DXY tende a se fortalecer e o Real perder parte da atual apreciação.
Por aqui, o ciclo de ajuste da Selic está perto do fim, mas a inflação neste e nos próximos anos segue preocupando (ver Asset Strategy). Com as expectativas de 2023 já fugindo da meta e o BCB indicando fim do ciclo em 12,75% em maio, o diferencial de juros entre Brasil e EUA apresentará redução a partir de junho, desfavorável para o Real.
Revisamos nossa projeção para o final de 2022 para R$4,80/US$, majoritariamente pelo forte fluxo estrangeiro através das contas financeira (juros) e comercial (exportações). Este valor incorpora nossa atenção aos meses posteriores, onde o debate sobre política fiscal do próximo governo deve se intensificar e colocar mais risco no mercado local.