Após um período de estabilidade em 2023, com uma queda de 0,52% nos preços dos alimentos, algo inédito desde 2017, eles estão de volta como um fator de pressão sobre a inflação. Uma série de eventos climáticos, incluindo um El Niño mais intenso, os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul e uma antecipação do La Niña, juntamente com a valorização do dólar, levaram bancos, consultorias e corretoras a revisarem suas projeções para este ano.
Instituições que anteriormente previam um aumento de 3,5% nesses itens agora esperam um aumento de 4,5% a 7,5% ao longo do ano nos alimentos essenciais para as famílias. Isso representa um aumento superior à inflação geral, que deve encerrar o ano em torno de 3,96%, segundo o Boletim Focus. Com isso, produtos como arroz, legumes, verduras e frutas não devem ter uma redução significativa de preço no segundo semestre.
Até as carnes, que estavam em queda, tendem a ficar mais caras. Em razão das enchentes do Rio Grande do Sul, espera-se ainda altas de preços mais persistentes de arroz, trigo e soja, o que poderá impactar indiretamente outras cadeias, como a de pães e carnes. Segundo Luiz Roberto Cunha, professor da PUC Rio, legumes, hortaliças, verduras, frutas, frango em pedaços e óleo de soja subirão mais que a média da inflação geral este ano. Parte da alta de alimentos pode vir não só do clima, mas também via câmbio.
Para os economistas, o aumento previsto nos preços dos alimentos é um risco adicional a ser considerado pelo Banco Central. A autoridade monetária, responsável por ajustar os juros para controlar a inflação, já interrompeu o ciclo de queda da Selic na última quinta-feira, devido à valorização do dólar e aos crescentes riscos fiscais.
A manutenção da Selic em 10,5% ao ano, segundo comunicado do BC, reflete a incerteza global e o cenário doméstico, com atividade econômica aquecida e aumento das projeções de inflação.
A escalada do dólar também contribui para o aumento dos preços dos alimentos, afetando produtos como leite, seus derivados e produtos à base de trigo. O ano de 2024 está repleto de incertezas tanto no cenário doméstico quanto no internacional, o que impacta na cotação do real.
Analistas destacam que os preços dos alimentos consumidos em casa costumam apresentar uma certa estabilidade entre maio e julho, mas isso não tem sido observado. O clima desfavorável afetou o ciclo agrícola no primeiro semestre, com seca no Centro-Oeste prejudicando a produção de soja e milho, e as enchentes no Rio Grande do Sul impactando itens como arroz e trigo.
A rápida transição do El Niño para o La Niña também preocupa, pois pode afetar as safras de grãos na América do Sul, aumentando os preços dos alimentos ao consumidor. Isso já vem sendo sentido devido ao excesso de chuvas no Sul, que elevou os preços de como arroz e batata inglesa.