Jalusa Deon Kich e Marcos Antonio Zanella Mores / Embrapa Suínos e Aves
A suinocultura intensiva no Brasil opera majoritariamente no modelo de integração vertical, onde as granjas de produção estão relacionadas geograficamente à unidades de produção de agroindústrias e cooperativas que dispõem de fábricas de ração e abatedouros centralizados. Como toda a população de animais produzidos na unidade geográfica passam por este ponto, o abate se transforma no local que concentra informações diretas ou indiretas das fases anteriores da produção. Consequentemente, é racional que se desenvolvam e se implantem cada vez mais metodologias de avaliação e verificação dos padrões técnicos a serem atingidos no final da cadeia de produção para reduzir perdas econômicas.
Estes padrões técnicos, além daqueles com limites quantitativos normatizados, como resíduos e padrões microbiológicos, também podem ser traduzidos em indicadores de saúde, bem-estar e de processos que são observados na etapa de abate. Inclusive a inspeção sanitária oficial é uma ferramenta de vigilância em saúde e bem-estar animal (Stärk et al. 2014).
A primeira etapa para reduzir perdas ao abate é o diagnóstico das ocorrências e das perdas econômicas relativas, ou seja, saber o que ocorre e quanto custa. Neste diagnóstico, as perdas devem ser classificadas pela etapa da sua origem como: tecnológica para aquelas que ocorrem dentro da planta; pré-abate para perdas relacionadas à lesões e manejo inadequado no momento do embarque, transporte, desembarque; e agropecuárias, que são aquelas que refletem as práticas de produção nas granjas.
Utilizemos a Figura 1 como exemplo de diagnóstico, a qual diz respeito a análise de três anos dos dados do Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (SIGSIF), produzida por Coldebella et al. (2018).
Inicialmente, estuda-se a distribuição das porcentagens das causas de desvio e condenações registradas. Depois disso, é importante classificar pelo local de origem da causa, como exemplificado na Figura 2.
Figura 1. Distribuição das principais causas de condenação e desvio para o DIF, oriundas de 114 abatedouros-frigoríficos, de todo o Brasil, nos anos de 2012 a 2014.
Figura 2. Local de ocorrência das principais causas de condenação e desvio para o Departamento de Inspeção Final, oriundas de 114 abatedouros-frigoríficos, de todo o Brasil, nos anos de 2012 a 2014.
Depois do diagnóstico realizado e as perdas relativas medidas, deve ser traçado um plano de ação de curto e médio prazo. Frequentemente, as intervenções são incorporadas ao planejamento de melhoria contínua do setor específico. Ou seja, a análise dos dados de perdas, causas e local da sua origem, orientam a agroindústria para intervenções e estabelecimento de metas.
Entre os achados recentes, dos últimos três anos, destacam-se as doenças respiratórias, os abcessos e pneumonia embólica associados às caudofagia, e as linfadenites.
Doenças respiratórias
Observa-se, com frequência, o desvio de carcaças para o DIF por lesões de pneumonia com nódulos, abscessos e pleurite, as quais ou são destinadas ao aproveitamento condicional pelo uso do calor (produto cozido), ou a condenação total, dependendo das características das lesões, principalmente quanto ao estágio evolutivo, se agudas ou crônicas e a extensão, conforme a legislação vigente (RIISPOA 2017). Lesões de pleurite crônica (aderências secas), apesar de não causarem condenações, muitas vezes causam transtorno nos abatedouros devido à necessidade de desvio destas carcaças ao DIF para toalete, em abatedouros que não tem espaço para fazer este procedimento na linha de abate. As bactérias isoladas com maior frequência nos nódulos de necrose e pleurites agudas são Actinobacillus pleuropneumoniae (App), vários sorotipos, Pasteurella multocida Tipo A (PmA) gene pfhA positiva e Actinobacillus suis. Muitas vezes lesões de consolidação pulmonar estão associadas aos nódulos e lesões de pleura, sendo que estas normalmente são causadas pelo Mycoplasma hyopneumoniae ou pelo vírus influenza.
Achados comuns no abate de suínos:
Broncopneumonia catarral ou supurativa
A bronopneumonia catarral se caracteriza por áreas de consolidação pulmonar avermelhadas mais frequentemente localizadas nas porções anteriores dos pulmões.
Broncopneumonia fibrinosa ou pleuropneumonia
A Broncopneumonia fibrinosa ou pleuropneumonia se caracteriza por nódulos de necrose no pulmão associados a fibrose e hemorragias na pleura.
Caudofagia
As lesões consequentes ao comportamento de caudofagia são frequentes no abate de suínos, porém é necessário analisar se a ocorrência é ocasional ou se trata de um surto em lotes específicos. Estas lesões são portas de entrada para bactérias ambientais que causam osteomielite (abcessos) na coluna vertebral e, atingindo a corrente sanguínea, septicemia e pneumonia embólica. As evidências de caudofagia associada a pneumonia embólica, justificam a condenação da carcaça, independente do estado de evolução das lesões.
Nestes casos é importante voltar para as granjas e acompanhar os fatores de risco para este comportamento, uma vez que é multifatorial, associação de problemas de ambiência e manejo podem estar no centro da questão e devem ser endereçadas.
Pneumonia Embólica
A pneumomia embólica é caracterizada por múltiplos pequenos abscessos com distribuição multifocal nos dois pulmões.
Linfadenite Granulomatosa
As lesões tuberculóides causadas por bactérias do Gênero Mycobacterium spp manifestam-se macroscopicamente por nódulos pequenos bem definidos, acinzentados, semitransparentes, muitas vezes irregulares e angulares e, ocasionalmente, confluentes, ou como lesões nodulares encapsuladas, esbranquiçadas, de tamanhos variados, com uma massa central necrótica amarelada, seca, granulada (caseificação). A calcificação distrófica, que se manifesta como um material endurecido e esbranquiçado, pode ocorrer nas lesões mais crônicas (Figura 2) (Jensen et al. 2017).
Quando lesões em dois sítios são identificados a carcaça é enviada para tratamento condicional, o que, a depender do volume e abatedouro, representa uma perda econômica significativa. Lesões mais disseminadas determinam a condenação total das carcaças. O controle no campo depende muito de limpeza e desinfecção e vazio sanitário em todas as fases de produção, uma vez que a bactéria é ambiental e difícil de ser eliminada.
Conclusão
As lesões tratadas neste artigo, de ocorrência frequente na atualidade, são consequência de doenças/infecções que ocorrem na fase de campo. Além dos impactos econômicos computados na granja, como mortalidade, medicamentos e redução no desempenho, são causas de aproveitamento condicional e condenação no abate. Perdas nesta fase, são graves porque todos os recursos do sistema foram utilizados para a produção e terminação dos suínos.