Peça central nas negociações do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia em 2019, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) afirma que o momento é decisivo para o pacto birregional. Em entrevista exclusiva, a parlamentar defendeu que, caso o acordo não seja firmado agora, a melhor alternativa seria abandoná-lo e buscar oportunidades bilaterais com países dispostos a negociar. Contudo, enfatizou que essas iniciativas devem ocorrer no âmbito do Mercosul, e não de forma isolada.
A senadora argumenta que o cenário global está em transformação, com o enfraquecimento de acordos multilaterais, especialmente após a possível reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Para ela, esse contexto cria uma oportunidade para o Brasil diversificar sua pauta exportadora, ainda muito centrada em commodities, e explorar mercados como os BRICS.
Apesar de considerar o acordo Mercosul-UE relevante, Tereza Cristina aponta limitações, como cotas tímidas para produtos agrícolas. Durante as negociações de 2019, ela conseguiu ampliar a cota para o açúcar, fixada em 180 mil toneladas, mas considera os volumes ainda aquém do necessário. Paralelamente, ressalta que o temor europeu de “inundação” de produtos como vinhos no Mercosul levou à inclusão de prazos de liberação tarifária, como os oito anos previstos para espumantes, queijos e chocolates.
A senadora também demonstra preocupação com a inserção da Lei Antidesmatamento da União Europeia (EUDR) nos debates. Aprovada em 2021, a norma proíbe a comercialização de produtos como soja, carne e milho oriundos de áreas desmatadas, mesmo que legalmente. Segundo ela, essa imposição, que não fazia parte do acordo inicial, complica as negociações. “Precisamos examinar isso com cautela e estratégia, sem agir por impulso”, afirmou.
Embora a implementação da EUDR tenha sido adiada para 2025, Tereza Cristina vê espaço para o Congresso brasileiro aprovar uma lei de reciprocidade ambiental e econômica como resposta. Relatora do projeto no Senado, ela acredita que a proposta fortalecerá a posição brasileira nas discussões internacionais.
A senadora também criticou a postura da França, principal opositora do acordo. Recentemente, ataques de autoridades e empresas francesas à carne brasileira, como as declarações do CEO do Carrefour, foram vistos por Tereza Cristina como parte de uma estratégia para enfraquecer o pacto. Para ela, a França busca angariar apoio de outros países, mas o Brasil não deve tensionar excessivamente. “Se esticarmos a corda, faremos exatamente o que a França quer. Esse ônus precisa ficar com eles”, concluiu.
A assinatura do acordo Mercosul-UE é, segundo a senadora, uma decisão estratégica para o Brasil, que precisa equilibrar interesses comerciais e demandas ambientais globais, sem comprometer sua competitividade no cenário internacional.