Ministros e altos funcionários de Agricultura de mais de 30 países das Américas reunidos na Costa Rica ouviram representantes de organismos multilaterais de crédito e de fundos globais de financiamento que detalharam as oportunidades existentes para o desenvolvimento de projetos vinculados à mitigação e adaptação à mudança do clima no setor agrícola.
O intercâmbio ocorreu em uma reunião organizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) em São José, Costa Rica, com o objetivo de acordar uma posição convergente do setor agropecuário da região para a próxima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 27), que acontecerá no Egito, em novembro.
Henry González, Diretor Executivo Adjunto do Fundo Verde para o Clima (GCF, sigla em inglês), detalhou o funcionamento do que é o maior fundo multilateral de mudança do clima no mundo.
González explicou que o GCF foi estabelecido pela Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e reconhecido como um dos mecanismos de financiamento do Acordo de Paris.
“Apoiamos os países em desenvolvimento em sua transição para economias baixas em emissões de gases de efeito estufa e resilientes ao clima. Vamos onde o setor privado não pode ir, e temos uma visão de alto risco e longo prazo”, descreveu González, que também contou que “o IICA é uma de nossas entidades credenciadas mais recentes para ter acesso a seus projetos”.
González explicou que o GFC tem financiado projetos de 10,8 bilhões de dólares, mas que conseguiu mobilizar 30 bilhões de outras entidades, de modo que o portfólio total chega a 40,2 bilhões.
“O Fundo representa 2% ou 3% do financiamento total existente no mundo para a mudança do clima. Dos nossos projetos, 49% se referem à adaptação e 51% à mitigação, de modo que estamos muito perto de alcançar o objetivo de chegar a um equilíbrio nesse sentido”, afirmou.
O funcionário disse que estão financiados 70 projetos a 1,1 bilhões de dólares relacionados à agricultura em temas como agroecologia, diminuição de metano nos cultivos de arroz, pecuária resiliente a baixas emissões de carbono e redução da perda em desperdícios de alimentos.
Carlos Manuel Rodríguez, Diretor Geral e Presidente do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, sigla em inglês) acolheu com satisfação a convocação do IICA para discutir uma posição do setor agrícola das Américas para a COP 27. “O tema ambiental é hoje transversal, e as convenções ambientais não são propriedade exclusiva dos ministérios de Ambiente”, afirmou.
Rodríguez revelou que o GEF — nascido na Cúpula da Terra do Rio de Janeiro de 1992 — canalizou 121 bilhões de dólares nos últimos 30 anos em prol de 163 países em vias de desenvolvimento.
“O problema da mudança do clima e o de perda da biodiversidade são dois lados da mesma moeda, pois ambos são produtos de um modelo de consumo irracional que aspira a um crescimento limitado, sem conhecer os limites planetários”, afirmou Rodríguez, que foi três vezes Ministro do Ambiente da Costa Rica.
“Embora o nosso trabalho tenha se concentrado sobretudo com os ministérios de Ambiente, os fundos do GEF estão disponíveis para os ministérios da Agricultura”, afirmou Rodríguez.
“Às vezes me pergunto qual é a diferença entre os ministérios da Agricultura e de Ambiente. Eu acredito que já superamos essa dicotomia, pois hoje a produção e a conservação não competem. Os ministérios da Agricultura trabalham com biodiversidade domesticada, e os de Ambiente, com biodiversidade silvestre, ambos com os mesmos atores econômicos e sociais e com as mesmas paisagens”, afirmou Rodríguez.
Christian Asinelli, Vice-Presidente Corporativo de Programação Estratégica do CAF-Banco de Desenvolvimento da América Latina, revelou que essa instituição financeira regional recentemente alcançou, por consenso de sua assembleia de acionistas, um aumento de capital de 7 bilhões, o maior de sua história.
“Queremos ser o banco verde da América Latina. Isso significa que 40% de nossos projetos devem se destinar a questões vinculadas à mudança do clima. E ser o banco da reativação”, afirmou.
Asinelli disse que, considerando que todos os países da região têm se comprometido a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, o CAF tem a iniciativa de criar um mercado latino-americano de carbono, no qual o setor agroalimentar desempenhará um papel preponderante, uma vez que pode passar de emissor líquido a capturador líquido dos gases que geram a mudança do clima.
A importância do setor privado
“Falamos muito do ambiente e do clima, mas fazemos muito pouco. Precisamos acordar para o desafio da mudança do clima. Ninguém virá nos salvar; devemos salvar a nós mesmos com a imaginação e a inovação”, afirmou Satya Tripathi, Secretário Geral da Parceria Global por um Planeta Sustentável.
Tripathi se referiu à importância de que os países apelem ao financiamento privado para a ação climática.
“Não se enganem. Não há 100 bilhões de dólares por ano para a mudança do clima. O dinheiro não chegará”, disse, em referência ao valor comprometido pelos países desenvolvidos no Acordo de Paris.
Neste sentido, assinalou: “Trabalhando com o setor privado e desenvolvendo parcerias de respeito, podemos ter resultados marcantes”.
Craig Cogut, fundador e sócio Codiretor da Pegasus Capital Advisors, manifestou seu interesse em financiar projetos relacionados à transformação da agricultura dos Estados membros do IICA.
“A agricultura é central porque não está relacionada apenas à alimentação, mas também à saúde e à economia. O impacto ambiental está aí, por isso queremos trabalhar com vocês”, afirmou.
Entre os projetos vinculados à agricultura que a Pegasus está financiando nas Américas, Cogut mencionou a produção orgânica da banana, a redução de emissões de gases de efeito estufa da pecuária e a fabricação de fertilizantes a base de algas.