O fim das vacas gordas nos Estados Unidos continua a aparecer nos resultados da JBS. A gigante de carnes divulgou seu balanço no terceiro trimestre com um lucro ainda expressivo, mas já distante da fase excepcional dos últimos dos anos. A companhia registrou um lucro líquido de R$ 4 bilhões, queda de 47% na comparação com os R$ 7,6 bilhões do mesmo período de 2021.
Em entrevista ao Valor, o CEO global da JBS, Gilberto Tomazoni, destacou a resiliência do grupo e a sólida posição financeira mesmo num ambiente macro mais desafiador — com a inflação de energia e grãos prejudicando os custos das operações na Europa — e com a normalização das margens no negócio de carne bovina nos EUA, que era aguardada no mercado há algum tempo. Não à toa, as ações do grupo caíram 33% no ano. A JBS está avaliada em R$ 55 bilhões na bolsa.
“A diversificação da plataforma por países e tipos de proteína permite ter esse tipo de desafio. É natural que tenha ciclos de negócios, mas a gente continua com geração de caixa sólida”, disse. No trimestre, a JBS registrou um fluxo de caixa livre R$ 3,2 bilhões mesmo depois de investir R$ 3 bilhões no período — R$ 1,5 bilhão em capex de expansão e R$ 1,5 bilhão em manutenção.
Com o grau de investimento das três principais agências de rating (S&P, Moody’s e Fitch), a JBS conseguiu manter a alavancagem em níveis baixos, e com um custo médio da dívida de apenas 4,83% ao ano. O prazo médio subiu de 6,2 anos no segundo trimestre para dez anos depois das operações de gestão de passivo feitas no período.
Comparativamente, os títulos do Tesouro americano com vencimento em dez anos estão com em um pouco mais de 4%. “Se você olhar para as Treasuries, está bastante bom”, acrescentou Guilherme Cavalcanti, CFO da empresa.
No fim de setembro, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) em dólar da JBS estava em 1,76 vez, ligeiramente acima do indicador de 1,65 vez no fim de junho. Segundo Cavalcanti, a companhia também não tem qualquer vencimento significativo de dívida até 2027.
Ao todo, a dívida bruta da JBS soma R$ 94,9 bilhões, dos quais apenas 11,5% vencem em até um ano. Em caixa, a companhia contava com R$ 16,7 bilhões no fim de setembro, além de US$ 3,2 bilhões (o equivalente a R$ 17,4 bilhões) em linhas de créditos rotativas a disposição do grupo.
“Com o endividamento de curto prazo equilibrado, estamos em situação adequada para passar pelos desafios. Diria até mais: se oportunidades aparecerem, estamos preparados”, acrescentou Tomazoni, fazendo alusão à eventualidade de algum M&As que possa surgir no médio prazo.
Margens americanas
Operacionalmente, o resultado da JBS sentiu o impacto negativo da normalização de margem na operação de carne bovina nos Estados Unidos e há sinais de que as margens do negócio, que é o mais importante para o conglomerado, ainda não chegaram no piso. No terceiro trimestre, o Ebitda da JBS Beef North America recuou 73,1% na comparação anual, de US$ 1,5 bilhão para US$ 403 milhões.
Com isso, a margem Ebitda da unidade caiu 18,3 pontos, de 25,5% para 7,3%. No relatório da administração, a JBS citou o impacto negativo da queda de preços da carne no mercado americano, além do custo de aquisição de gado seguir elevado. “Os preços da carne bovina caíram no atacado, incentivando os varejistas a promover as vendas de carne bovina e cujas promoções possivelmente serão aceleradas daqui para frente”, apontou o relatório da JBS.
Como um todo, o Ebitda da JBS caiu 31,5% no terceiro trimestre, chegando a R$ 9,5 milhões. A margem Ebitda consolidada diminuiu 1,6 ponto percentual — saindo de 15%, no terceiro trimestre do ano passado, para 9,6%. Em vendas, a JBS beliscou os R$ 100 bilhões no trimestre.
Ao todo, a receita líquida da companhia atingiu R$ 98,9 bilhões, um crescimento de 6,8% em bases anuais. Enquanto ainda sente os efeitos da normalização de margens nos EUA, a JBS convive com boas perspectivas no Brasil.
A Seara voltou a entregar resultados melhores, com margem de Ebitda de 15% (a rival BRF não chegou a 10%) e a Friboi deve aproveitar a boa oferta de gado no país nos próximos anos. Segundo Tomazoni, a Seara ainda não começou a colher os resultados dos investimentos de R$ 8 bilhões feitos nos últimos anos, o que vai começar a aparecer em 2023.