Interrupções na oferta causadas por medidas de restrições impostas pela pandemia da covid-19 levaram o preço do leitão a bater recorde na China, e muitos produtores estão apostando que a escassez interna de carne suína persistirá mesmo quando a recuperação da economia local ganhar mais velocidade.
A China, que lidera a oferta e o consumo de carne suína no mundo, viu o plantel de animais encolher cerca de 40% e a produção recuar mais de 20% em 2020 depois de suas granjas terem sido assoladas pela peste suína africana.
Em janeiro, o preço da carne suína no mercado chinês acumulava alta anual de 116%, mesmo após o governo do país ter tentado amortecer esse impacto durante o feriado do Ano Novo Lunar com a liberação de 10 mil toneladas das reservas estatais.
Mais recentemente, foram disponibilizadas por Pequim outras 20 mil toneladas de carne congelada. “Apesar do impacto da epidemia do coronavírus […] estamos confiantes que, essencialmente, a produção anual de porcos para abate se recuperará”, disseram representantes do Ministério da Agricultura chinês em entrevista a jornalistas.
Ainda assim, em 2021 o preço da carne suína nos mercados atacadistas da China acumula aumento de 16%, influenciado pelas medidas para conter o coronavírus – que cortaram cadeias produtivas vitais, principalmente o transporte dos animais das fazendas para os mercados.
O preço do leitão, que leva cerca de seis meses para crescer o suficiente para o abate, teve forte valorização e chegou ao recorde de 84 yuans (US$ 12) por quilo diante da grande demanda, e os produtores apostam na manutenção desse elevado patamar ou até em novos aumentos ao longo do ano.
Ernan Cui, analista da Gavekal Dragonomics, especializada no segmento de consumo na China, também disse que os rebanhos suínos no país continuam sob a ameaça da peste suína africana, porque os cuidados com a biossegurança em muitas fazendas permanecem abaixo do padrão necessário para conter totalmente a disseminação da doença.
Cui acrescentou que, embora as medidas para controlar o coronavírus tenham limitado a disponibilidade de carne suína e gerado a possibilidade de tornar a criação mais lucrativa no curto prazo, trata-se “de um negócio ainda arriscado neste momento”. Os criadores que retomaram a produção poderão ver seus rebanhos mais uma vez dizimados pela doença, que agora se tornou endêmica na China, alertou a analista.
Os rebanhos de porcos para abate na China também podem estar em risco de ser infectados por javalis, que há muito tempo são uma grande preocupação para a suinocultura na Europa mas que, até agora, não vinham agindo como transmissores da doença na China. Na terça-feira, o Ministério da Agricultura confirmou que sete javalis infectados foram encontrados mortos em uma floresta na Província de Hubei – também foco do surto da covid-19.
Michelle Lam, economista do Société Générale especializada no país asiático, disse que o governo chinês teve como uma de suas principais preocupações a restauração da logística de transporte em seus esforços para ajudar a economia a se recuperar. Assim, a pressão de alta dos preços da carne suína poderá perder força em alguns meses, mas sem quedas mais expressivas. Ela estima que o preço dos porcos poderá começar a diminuir em meados do ano.