Para que o mundo alcance seus objetivos climáticos, é necessário garantir o abastecimento de minérios essenciais para a transição energética, e que muitas vezes se encontram no subsolo em alguns países, ressaltou nesta quarta-feira (5) a Agência Internacional de Energia (AIE).
“Esta concentração geográfica, os atrasos na exploração de novas jazidas minerais, a queda na qualidade dos recursos em certas regiões e o impacto ambiental e social (das minas); tudo isto gera preocupações em termos de abastecimento”, explica Fatih Birol, diretor da AIE.
“Esses riscos são reais, mas aproveitáveis”, indica. Tudo dependerá “da resposta das políticas e das empresas”, que “farão com que esses minerais essenciais permitam uma transição para energias limpas, ou, ao contrário, afetem a produção nesse processo”.
Carros elétricos, rotores de turbinas eólicas e baterias elétricas são famintos por certos metais: os primeiros requerem seis vezes mais do que um veículo com motor térmico, uma fazenda eólica terrestre, nove vezes maior que uma grande usina de energia movida a gás, destaca a AIE.
Lítio, níquel, cobalto, manganês, grafite fornecem longevidade e eficiência às baterias, ímãs de turbina necessitam de metais de terras raras, as redes precisam de cobre, por exemplo.
Em relatório publicado nesta quarta-feira, a agência levou em consideração as necessidades futuras, com base no desenvolvimento tecnológico e no ritmo com que o mundo opta por utilizar energias de baixo carbono.
Segundo a AIE, em 2040 a demanda global do setor de energia por esses minérios poderá quadruplicar se o mundo cumprir os compromissos do acordo de Paris. Será fundamental que o planeta tenha se tornado neutro em carbono até meados do século. Somente para o lítio, a demanda será multiplicada em 40 vezes, ou talvez 75 vezes – os produtos eletrônicos comuns não serão mais os principais a consumi-lo, desbancados por veículos elétricos e baterias.
A produção de eletricidade vai exigir uma triplicação da quantidade de minérios por causa da energia eólica marinha e do setor fotovoltaico.
À medida que diminuam os preços dos itens de tecnologia, os minérios vão assumir uma parcela cada vez maior de seu valor total, tornando o setor ainda mais vulnerável às flutuações do mercado de metais. Porém, mais do que petróleo, por exemplo, cuja produção de petróleo já concentra-se em alguns poucos países.
Em 2019, a República Democrática do Congo (RDC) e a China produziram entre 70% e 60% de cobalto e terras raras, respectivamente. E, seu refino é dominado pela China, seja em seu próprio território ou em outros lugares.
“O que acontecerá se não prestarmos atenção aos minérios? Os preços tendem a subir bruscamente, sinônimo de uma transição mais cara e, por outro lado, mais lenta do que o desejado”, observa Birol.
“Os números mostram uma brecha iminente entre as crescentes ambições climáticas globais e a disponibilidade de minerais essenciais para a realização de tais ambições”, observa, “convidando” os governos a “ampliar seus horizontes”, e não apenas “subsidiar carros elétricos ou painéis de energia solar, mas também pensar no outro lado da moeda”.
“Ao agir a partir de agora preocupados sobre a questão dos minérios, os governos podem reduzir significativamente os riscos de volatilidade de preços e a interrupção no fornecimento”, acrescenta.
A AIE fez recomendações: em particular, que os Estados publiquem suas estratégias climáticas de longo prazo e detalhes de suas atividades para incentivar os investidores de minérios.
Fortalecer a cooperação internacional entre produtores e usuários, assim como as regulamentações ambientais e sociais em torno da extração, acrescenta. A reciclagem também deve ser promovida. “As políticas podem encorajá-la”, afirmou Tae-Yoon Kim, principal autor do relatório.