Os sistemas tecnificados de criação de suínos estão em constante desafio sanitário, devido principalmente às altas pressões de infecção em virtude da elevada concentração de produção de animais confinados. Dentre as práticas de controle de doenças adotadas, destaca-se a aplicação de antibióticos como alternativa de redução da incidência de doenças entéricas em leitões lactentes. A utilização desses antibióticos tem sido amplamente discutida em muitos países, os quais vem reduzindo drasticamente o uso de antibióticos nos animais.
Os profissionais que atuam na suinocultura e produtores, preocupados em se adequar às exigências de mercado, necessitam conhecer e aplicar novas alternativas que possibilitem maximização do desempenho zootécnico, fator primordial para a competitividade do produto no mercado global, substituindo o uso de antibióticos na produção de suínos e atendendo a demanda dos consumidores que manifestam a preocupação com o risco de resistência de agentes patogênicos em seres humanos aos antibióticos utilizados em saúde animal.
Os probióticos são considerados uma alternativa de prevenção de enfermidades entéricas, sendo constituídos por microrganismos vivos específicos no trato digestivo do animal, com objetivo de equilíbrio da microbiota intestinal, competindo com agentes patogênicos, promovendo melhor aproveitamento dos alimentos.
O papel dos probióticos como biorreguladores microbianos é o de manter o equilíbrio da flora intestinal, tendo a propriedade principal de impedir a multiplicação de bactérias patogênicas, como a Escherichia coli enteroxigênica (Ávila et al, 1987).
Segundo Liao et al. (2017), a manipulação da microbiota intestinal constitui uma das mais comuns estratégias aplicadas para prevenir diarreias, melhorando a saúde intestinal e promovendo acrescentando desempenho nos suínos de sistemas modernos de produção.
O intestino representa uma das principais vias de entrada para antígenos invasores e contém uma importante porção de tecido linfoide do organismo. Os antígenos que usualmente estão presentes a partir do intestino são as proteínas alimentares, microbiota intestinal comensal e patógenos invasores. O epitélio da mucosa intestinal atua como uma barreira física para patógenos. Distúrbios nesta barreira no intestino, caracterizadas por aumento da permeabilidade intestinal, irão resultar em transporte de bactérias, toxinas e antígenos presentes no lúmen intestinal para o tecido sub-epitelial e afetar a absorção de nutrientes. Por isso, a integridade da barreira da mucosa intestinal é muito importante na função de garantir a adequada absorção dos nutrientes da dieta e prevenir distúrbios do trato digestivo.
Tizard (2002) cita que os antígenos microbianos presentes no intestino tendem a apresentar estímulo de resposta imune mais intenso que os antígenos alimentares. Este fato pode estar relacionado com a diferença na penetração da mucosa e o desenvolvimento de uma eliminação imune ao invés de uma exclusão imune. A microbiota intestinal compete normalmente contra invasores potenciais por meio de mecanismos que desencadeiam as defesas inerentes a este sistema. Nos animais não ruminantes, o pH gástrico deve ser suficientemente baixo para atuar como bactericida ou viricida, variando conforme as espécies e a dieta consumida. No lúmen intestinal a microbiota existente mantém o pH baixo, sendo também influenciada pela dieta. No caso de animais alimentados com leite o intestino é colonizado em sua maioria por lactobacilos que produzem grande quantidade de ácidos láticos e butíricos, os quais atuam como bacteriostáticos inibindo a colonização por patógenos potenciais, de forma que os lactentes tendem a apresentar menos distúrbios digestivos que os animais desmamados precocemente.
A microbiota intestinal é importante para maturação do sistema imune e desenvolvimento da morfologia intestinal normal. A microbiota reforça a barreira da mucosa intestinal e reduz a ligação de microrganismos patogênicos na mucosa, com o qual reduz a entrada de alergenos nos enterócitos (YANG et al., 2012).
Além disso, a imunidade derivada do leite envolve na sua maioria imunoglobulina A (IgA) e protege contra patógenos locais e bactérias comensais. Estudo realizado por Zanello et al. (2013) apontou que a concentração de IgG foi significativamente maior no colostro de porcas suplementadas com Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces boulardii. Em relação ao volume de IgA no colostro, não houve diferença significativa de concentração na observação entre os diferentes grupos. A IgA é produzida pelos plasmócitos localizados na parede de intestinos, trato respiratório, urinário, pele e glândula mamária. A IgA que atua no lúmen intestinal é protegida dos efeitos digestivos das proteases intestinais devido à ligação com um componente secretor formando a IgA secretora, sendo esta a principal imunoglobulina nas secreções externas de não ruminantes. A IgA atua principalmente impedindo a aderência de antígenos às superfícies corpóreas e exclusivamente por agir dentro das células e por isso possui grande importância na defesa do trato intestinal.
Em animais confinados o montante de IgA secretada no lúmen tem sido considerado importante para o aumento do ganho de peso corporal através da estimulação da resposta imune, o qual é efetivo na prevenção de diarreia e outras doenças infecciosas (SCHAREK et al. 2005; TSURUTA et al. 2009b) citados por Tsuruta et al. (2012).
Vários trabalhos científicos têm avaliado a suplementação de diferentes probióticos no desempenho zootécnico e saúde intestinal de leitões. Sendo que há diferenças de resultados obtidos e conclusões de um modo geral. A maioria dos trabalhos conhecidos aponta para as melhorias das características físico-químicas do lúmen intestinal com o uso de probióticos, variando de acordo com a proporção e combinação dos mesmos. Em geral, o uso de probióticos em leitões lactentes pode ser relevante para a melhoria de ganho de peso diário, estando relacionado com o equilíbrio da microbiota intestinal e menor incidência de problemas. A eficácia de uso de probióticos pode estar relacionada, além de outros fatores, à saúde e estado nutricional do animal, sua idade, condição de estresse e genética (Bomba et al. 2002).