O período de crescimento/criação de frangos de corte é curto, por isso erros de manejo, nutrição e sanidade podem impactar diretamente em perdas econômicas, já que não há tempo para recuperar o desempenho destes eventuais erros cometidos. Por isso, é muito importante investir no início da vida deste animal, dando condições para que este possa expressar seu máximo potencial genético.
Com a restrição de uso de antibióticos como promotores de crescimento, potenciais desafios têm sido mais evidentes, como problemas sanitários (limpeza e desinfecção, qualidade de água, etc.); problemas com plano de vacinação (aplicação, períodos, dosagem, etc.); nutrição (ingredientes de má qualidade ou variação desta, micotoxinas, desbalanço nutricional, entre outros); redução da imunidade passiva (anticorpos maternos); manejo, entre outros fatores. Assim, um rigoroso plano sanitário e nutrição adequada são indispensáveis, especialmente para o pintinho recém-alojado.
Aproximadamente um quarto da mucosa intestinal das aves é composta por tecido linfoide e mais de 70% deste são células do sistema imune, que incluem células não organizadas ou dispersas (lâmina própria, leucócitos e de linfócitos intra-epiteliais), como também os altamente organizados folículos linfoides (placas de Peyer, onde IgA e linfócitos B são gerados) (Wershil & Furuta, 2008). O tecido linfoide associado ao intestino (GALT) constitui o maior componente do tecido linfoide associado à mucosa (MALT) e uma fonte significativa de células imunes que monitoram e protegem as camadas da mucosa do intestino. O GALT está continuamente exposto aos antígenos alimentares, microflora e patógenos (Dalloul & Lillehoj, 2006).
Diferente do sistema imunológico de mamíferos, o das aves possui a bolsa de Fabricius, mas carece dos gânglios linfáticos. As células mais conhecidas do sistema imune inato são os macrófagos, heterófilos (equivalentes aos neutrófilos nos mamíferos), células dendríticas e células natural killer (Sharma, 2003). Receptores do tipo Toll, localizados na superfície das células imunológicas, reconhecem padrões microbianos e induzem uma resposta imune inata imediata. Após esta ativação e fagocitose, a célula fagocítica apresenta um fragmento processado do agente patogênico para o sistema imune adaptativo e estimula uma resposta contra o patógeno. Portanto, os fagócitos são chamados de células apresentadoras de antígeno. O reconhecimento de patógenos pelo sistema imune inato desencadeia defesas inatas imediatas e a ativação da resposta imune adaptativa (Lee & Iwasaki, 2007).
A maturação do sistema imune das aves se dá primeiramente pelas células do sistema imune inato, onde por volta de 3 dias após a eclosão se encontra a presença de macrófagos em uma quantidade que não se altera muito com o desenvolvimento da ave. Já os linfócitos B (que são produzidos e sofrem diferenciação na Bursa de Fabricius) que irão se diferenciar em anticorpos e são responsáveis pela resposta imune especifica (Caron, 2015), nota-se um baixo nível, que aumenta drasticamente após 3 semanas da eclosão (Dibner et al., 1998).
É importante ressaltar que a maturação do sistema digestório (especialmente produção de enzimas) também está ocorrendo até 3 semanas de vida. Por isso dar as melhores condições possíveis para este início de crescimento/desenvolvimento é importante, já que o desafio ambiental e dieta irão determinar o balanço entre o custo imune e desempenho (Caron, 2015).
O uso de nutrientes/aditivos funcionais tem crescido e se deve não somente à necessidade de substituir os antibióticos promotores de crescimento, mas de novos conceitos serem cada vez mais estudados, entendidos e aceitos. A suplementação de nucleotídeos via dieta, tem sido estudada em diversas espécies, e embora não sejam considerados nutrientes essenciais, estes têm um papel importante em diversos processos metabólicos e, em especial, em alguns tecidos do corpo e fases da vida animal. Os nucleotídeos e nucleosídeos livres podem ser imediatamente absorvidos pelos enterócitos no intestino, sendo especialmente importantes nos tecidos de rápida multiplicação celular e limitada capacidade de síntese pela via de novo (principal via de produção de nucleotídeos), como as células do epitélio intestinal, células sanguíneas, hepatócitos e células do sistema imune. São então utilizados pela via de salvamento, onde o corpo pode sintetizar nucleotídeos com menor gasto de energia, já que irá reciclar as bases e nucleotídeos da degradação metabólica dos ácidos nucleicos de células mortas ou da dieta. Porém, quando o fornecimento endógeno é insuficiente, os nucleotídeos de fontes exógenas podem se tornam nutrientes semi-essenciais ou “condicionalmente essenciais” (Carver & Walker, 1995). E isto ocorre especialmente em animais em fases de crescimento rápido (fases iniciais), reprodução, estresse e desafios.
Pelícia et al. (2011) mostraram que a suplementação de nucleotídeos de dietas iniciais de frangos de corte (1-21 dias) acelerou a taxa de turnover das células da mucosa intestinal, porém para a aves de 22 a 42 dias, este efeito não foi observado. No entanto, quando aves foram desafiadas com Eimeria acervulina, no mesmo período de 22 a 42 dias, houve um aumento na taxa de turnover celular e diminuição das lesões, acelerando o processo de regeneração da mucosa intestinal.
Estes resultados indicam os benefícios da suplementação exógena de nucleotídeos livres para animais jovens (em dietas pré-iniciais e iniciais) e sob desafios, reforçando sua importância neste período de rápido crescimento e desenvolvimento animal; podendo carrear estes benefícios durante todo seu crescimento e refletir em ganho de peso e conversão alimentar.
Referências
Caron, L.F. 2015. Ferramentas Nutricionais Moduladoras do Sistema Imune. In: 29ª Reunião do CBNA – Congresso sobre Nutrição de Aves e Suínos 2015, dezembro de 2015, São Pedro, Brasil, 6 p.
Carver, J.D, W.A. Walker. The role of nucleotides in human nutrition. Nutritional Biochemistry. v. 6, pp. 58-72, 1995.
Dalloul, R. A., H. S. Lillihoj. Poultry coccidiosis: recent developments in control measures and vaccine development. Expert Rev. Vaccines, v. 5, p.143-163, 2006.
Dibner, J.J. et al. 1998. Early feeding and development of the immune system in neonatal poultry. Journal of Applied Poultry Science, 7:425-436.
Lee, H. K., A. Iwasaki. Innate control of adaptive immunity: dendritic cells and beyond. Semin. Immunol., n. 19, p.48-55, 2007.
Pelícia, V.C. 2011. Nucleotídeos na dieta de frangos de corte e seus efeitos sobre taxa de turnover da mucosa intestinal antes e após lesões causadas por coccidiose. Ciência Rural, 41, 9:1652-1659.
Sharma, J. M. The avian immune system. In: Saif, Y. M. (ed.), Diseases of Poultry, 11th ed., pp. 5-16. Iowa State Press, Ames, IA, 2003
Wershil B.K, Furuta G.T. Gastrointestinal mucosal immunity. Journal of Allergy and Clinical Immunology, n. 121, p. 380-383, 2008.