A escassez de milho para a alimentação das cadeias produtivas de aves e suínos é o grande desafio de Santa Catarina. Maior produtor e exportador de carne suína, o estado precisa comprar milho de outras regiões para abastecer seus planteis. Todos os anos, quatro milhões de toneladas do grão saem do Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul para abastecer as cadeias produtivas de suínos, aves e leite em Santa Catarina. Nesta quinta-feira (21), representantes do setor público e privado e lideranças do agronegócio estiveram na Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) para debater os desafios na logística do milho.
Santa Catarina produz em média três milhões de toneladas de milho por ano e utiliza sete milhões na alimentação de suínos e aves – o consumo diário passa de 19 mil toneladas. “Temos um déficit que ultrapassa 55% da demanda, que tem sido suprida com milho que vem de longe. Temos buscado no norte do Mato Grosso, com distâncias que chegam a dois mil quilômetros e o transporte é feito via caminhões”, ressalta o secretário da Agricultura e da Pesca, Airton Spies.
O secretário explica ainda que esse milho, que chegava ao estado a um preço relativamente competitivo, encontrou outros destinos: a exportação e a fabricação de etanol. O corredor de exportação do Arco Norte deu mais competitividade para a saída dos grãos do Mato Grosso pelos portos do Amazonas, Maranhão e Pará e o Mato Grosso está investindo em usinas flex que produzem etanol a partir de milho. “Realmente, Santa Catarina tem que se preocupar e agir diante do grande desafio que é o abastecimento do milho”, declara.
Segundo Spies, há algumas alternativas que devem ser trabalhadas para minimizar os efeitos do déficit de milho: aumentar a produção do milho no estado através da elevação da produtividade, investir no aumento da capacidade de armazenagem; usar outros grãos para completar a alimentação dos animais, como trigo e cevada, e investir em ferrovias.
Ameaça à competitividade das agroindústrias
“Ou viabilizamos a oferta de milho para Santa Catarina ou o estado irá perder a competitividade”, afirma o diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA,) Ariel Mendes. Para dar continuidade ao modelo do agronegócio catarinense, a ABPA criou um grupo técnico que estuda a questão do milho e da logística catarinense.
“Partimos da avaliação de que se não for resolvido o problema do milho, Santa Catarina vai perder competitividade. Aqui estão as melhores plantas, que exportam para os melhores mercados mundiais. Este é um patrimônio que temos que preservar”, destaca. Ariel reforça ainda a importância de pensar em rotas alternativas para a importação do grão e também da organização das agroindústrias para a compra antecipada de milho.
De acordo com o presidente da Câmara de Assuntos de Transporte e Logística da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, a discussão sobre o abastecimento de milho passa obrigatoriamente pela melhoria da infraestrutura na região Oeste. “Certamente um componente importante é a infraestrutura e temos que ampliá-la para que possamos manter e fortalecer a nossa agroindústria”.
Rota do Milho
Uma das alternativas para Santa Catarina é trazer milho do Paraguai. A intenção é que o milho saia do Paraguai, siga para Argentina (passando pela Provincia de Misiones em direção a Bernardo de Irigoyen) e chegue até Dionísio Cerqueira, onde já existe um serviço de aduana. A distância é de 354 quilômetros, cinco vezes menor do que o trajeto feito pelos caminhões que trazem milho do Mato Grosso, por exemplo. Até Chapecó, maior centro de consumo do grão em Santa Catarina, os caminhões vindos do Paraguai percorrerão 555 quilômetros.
O secretário da Agricultura, Airton Spies, explica que Santa Catarina já importa milho do Paraguai, porém em uma rota mais longa, passando por Foz do Iguaçu. “Hoje o Paraguai é a melhor opção para o abastecimento de milho em Santa Catarina. A produção do país ainda não consegue atender toda nossa demanda, porém a produção deve aumentar assim que surgir uma procura maior pelo grão”, ressalta.
O diretor executivo do Sindicarne, Ricardo Gouvêa, considera ainda a possibilidade de trazer milho da Argentina e até mesmo dos Estados Unidos. “O Brasil produz milho suficiente, porém falta uma política para cuidar do abastecimento interno. Por isso a necessidade de encontrar fornecedores alternativos. O milho é a base de toda cadeia produtiva de carnes e é uma grande preocupação em Santa Catarina”.
Durante a reunião, o sub-coordenador do Núcleo Estadual da Faixa da Fronteira (NFSC), órgão ligado à Secretaria de Estado do Planejamento, Flávio Berté apresentou o cenário atual da Rota do Milho e anunciou o início das operações para os dias 12 e 13 de julho.