A decisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de decretar “estado de emergência na economia” deixou um rastro de problemas para os exportadores brasileiros, que enfrentam dificuldade para receber por suas vendas e, em muitos casos, levaram calote.
A BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão e uma das maiores exportadoras de carne processada, vem reduzindo suas exportações para a Venezuela e para a região e direcionando produtos para o Oriente Médio. A Globoaves, localizada em Cascavel, no Paraná, vendia milhões de ovos férteis (já incubados) para empresas de frango da Venezuela. Mas, ultimamente, os importadores não tinham mais acesso a dólares pelo câmbio oficial para pagar as vendas.
— E só restava ir ao câmbio paralelo, pagando vinte vezes mais pelos dólares. Quem arca com a diferença? Não vamos embarcar mais ovos — diz Roberto Kaefer, presidente da empresa.
O consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, afirma que, entre seus clientes, exportadores de alimentos e produtos de linha branca (como geladeiras) deixaram de vender para a Venezuela por causa do risco de crédito.
— Os que continuam operando no país vizinho só fazem com pagamento adiantado ou carta de crédito de um banco estrangeiro, o que encarece a operação. Além disso, com vários tipos de câmbio, havia o risco de prejuízo na conversão.
A economia venezuelana encolheu mais de 10% no ano passado, o quarto ano consecutivo de recessão. Reflexo do agravamento da crise, as exportações brasileiras para lá despencaram 57%, para US$ 1,2 bilhão, em 2016, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Segundo os especialistas, as vendas para os venezuelanos podem encolher ainda mais este ano. A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é que a economia encolha mais 4,5%, até dezembro, o quinto ano consecutivo de recessão.