Poucos dias antes do parto previsto, as porcas gestantes são transferidas do galpão de gestação para a sala de maternidade, onde são alojadas em gaiolas de parição até o desmame. Essas gaiolas foram introduzidas nos anos 60 com a prerrogativa de limitar os movimentos da porca (particularmente de decúbito), a fim de reduzir a ocorrência de esmagamentos de leitões. Além disso, esse tipo de contenção apresenta benefícios adicionais como: menor custo, baixa necessidade de espaço, eficiência de limpeza e segurança.
Os crescentes esforços da cadeia produtiva de suínos em relação ao bem-estar animal levantam continuamente questões a respeito da influência do alojamento em gaiolas nos parâmetros comportamentais e produtivos de porcas e seus leitões. Pesquisas mostram o aumento do risco de ocorrência de natimortos, reações agressivas da porca em relação à leitegada e falta de enriquecimento ambiental. Além disso, analisando sob a perspectiva da fêmea, ocorre limitação de movimento e menor expressão de comportamentos geneticamente programados como interação mãe-filho e construção de ninho (“nest-building behavior”).
Por outro lado, existem alguns aspectos de manejo e produtivos a serem considerados. Devemos levar em consideração que nossas porcas hiperprolíficas têm um peso corporal muitas vezes superior a 250 kg e parem leitões que podem, ao nascimento, não chegar a 1 kg. Devido a esse fato, os recém-nascidos são comumente predispostos não só a esmagamentos, mas, também, a hipotermia devido à baixa ingestão de colostro. O sucesso dos sistemas de alojamento em atual desenvolvimento reside basicamente na promoção de comportamento adequado da porca e disponibilidade de arranjos destinados à proteção dos leitões.
O primeiro grupo de sistemas de alojamento e o mais comumente observado é chamado de Baias Individuais de Parição (“Individual Farrowing Pens”). Nesse sistema, as porcas permanecem com a leitegada em uma baia individual do nascimento ao desmame dos filhotes. As principais características são de ocupar um espaço similar ao de uma gaiola de parição convencional e de possuir design com separação de áreas (área suja, área de descanso, etc.) e características construtivas (trilhos e paredes inclinadas) que minimizam os problemas de esmagamento de leitões. Nesse âmbito, destacam-se o PigSAFE® (Escócia e Inglaterra), Danish FF® (Dinamarca), FAT Systems® (Suíça), Comfort Pen® (Noruega), WelCon Systems® (Áustria) e Simple Pen.
O segundo grupo de sistemas de alojamento apresenta uma característica muito interessante, o de permitir movimento livre da porca após os primeiros dias de lactação. Esse aspecto construtivo deu o nome ao grupo de Gaiolas Temporárias (“Temporary Crating”). Os representantes são SWAP® (Dinamarca), Pro Dromi® (Inglaterra), Jetwash® (Irlanda), Combi-Flex® (Dinamarca), SEGES® (Inglaterra) e 360o Farrower® (Inglaterra).
O terceiro grupo de sistemas é intitulado Sistemas em Grupo (“Group Systems”) e, como o próprio nome sinaliza, permitem às porcas e às leitegadas que se misturem antes do desmame. Em termos de custo, parecem ser os sistemas mais efetivos, pois possuem menor número de equipamentos/estruturas tecnológicas, mas continuam sendo avaliados quanto aos parâmetros produtivos e comportamentais, em virtude da mistura de porcas e leitões. Como exemplos de Sistemas em Grupo temos Deep Litter Group System (Suécia), Group Lactation System (Holanda) e Two-Stage System (Austrália).
Por fim, temos os Kennel and Run / Solari Systems que combinam estruturas indoor e outdoor. Esses sistemas apresentam características construtivas que permitem expressão mais completa do comportamento natural de parto e amamentação. A porca tem liberdade completa de movimento, disponibilidade de substrato e espaço isolado para construção de ninho, área suja e área de descanso separadas fisicamente. O leitão, por sua vez, possui uma área de creep individualizada, bem como oportunidade de um espaço alternativo outdoor. O grande desafio para esse tipo de sistema é conseguir aliar produtividade, bem-estar e condição segura/prática de trabalho para os funcionários da granja.
A gestação coletiva, praticada em ampla escala ao redor do mundo, foi inserida e vem crescendo no Brasil nos últimos anos, em função dos aspectos de bem-estar animal aliado ao aumento de produtividade. Embora pensar em lactação coletiva às vezes pareça um ponto distante, ou talvez inatingível, múltiplos esforços têm sido feitos por renomados grupos de pesquisa e empresas (https://www.freefarrowing.org/), a fim de tornar a tecnologia viável e rentável.