Pesquisadores da Embrapa Agroenergia (DF) estão desenvolvendo tecnologia nacional para obter e transformar a biomassa em energia. Para converter essa matéria-prima em combustíveis e vários produtos com origem renovável, o trabalho dos cientistas está centrado na engenharia genética de microrganismos que atuam como biofábricas. A equipe obteve material genético inédito de fungos e bactérias para utilizar com essa finalidade.
O primeiro desafio está em desconstruir a parede celular de vegetais para extrair açúcares, o que é feito com a utilização de um coquetel de enzimas, substâncias normalmente obtidas para uso comercial pelo cultivo de microrganismos. Atualmente, os poucos coquetéis disponíveis para essa desconstrução da biomassa são produzidos por multinacionais, com tecnologia importada. Nos laboratórios da Embrapa Agroenergia os cientistas já estão trabalhando com três fungos, obtidos por bioprospecção e engenharia genética, cujas enzimas alcançam rendimentos promissores do ponto de vista industrial.
Os coquetéis de enzimas extraem principalmente dois tipos de açúcares da biomassa: glicose e xilose. O primeiro é simplesmente adicionado aos tanques de fermentação das usinas e a levedura Saccharomyces cerevisiae o converte em etanol. Já a xilose tem uma estrutura química diferente, e esse microrganismo não consegue consumi-la para transformá-la em outros compostos.
Utilizar açúcares em vez de petróleo e derivados para obter diferentes produtos é um futuro que já chegou. “O açúcar já começa a ser a base em diferentes processos biotecnológicos para produção de compostos químicos”, observa Almeida. E, com isso, o Brasil, grande produtor dessa commodity a baixo custo, atrai a atenção.
A Amyris, companhia de biotecnologia norte-americana, instalou em Brotas (SP), ao lado de uma usina de cana-de-açúcar, sua unidade de produção de uma molécula chamada farneseno. Uma vez convertida nesse composto por uma bactéria modificada geneticamente pela empresa, o açúcar da cana vira óleo e lubrificantes para motores e indústrias. A mesma estratégia foi adotada pela TerraVia, que em vez de bactérias utiliza microalgas. E, assim, a cana-de-açúcar se transforma em outros valiosos tipos de óleos, que já estão principalmente em cosméticos e devem chegar logo ao mercado de alimentos e rações.