A China discute um plano para permitir que fabricantes de automóveis estrangeiras criem empresas de veículos elétricos de propriedade exclusiva delas em suas zonas de livre comércio, medida que representaria uma grande mudança no princípio fundamental que rege a política da indústria automotiva do país desde a década de 1990, segundo representantes de empresas informados sobre o assunto.
O plano, que está sujeito a mudanças porque nenhuma decisão final foi tomada, pode ser colocado em prática já no ano que vem, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque as deliberações são privadas. Se a política entrar em vigor, será uma mudança histórica em relação às regras existentes, que obrigam as fabricantes de veículos estrangeiras a criarem joint ventures com empresas locais.
O relaxamento da regra das joint ventures daria a empresas como a Tesla a oportunidade de estabelecer operações industriais integralmente pertencentes à companhia na China, o maior mercado de veículos elétricos do mundo. A Ford Motor estuda a criação de uma joint venture para produzir veículos elétricos na China com a Anhui Zotye Automobile, enquanto a Volkswagen se associou à Anhui Jianghuai Automobile Group, também para produzir carros elétricos.
O Ministério do Comércio da China, responsável pela elaboração das políticas que regem os investimentos estrangeiros diretos, afirmou em resposta enviada por e-mail à Bloomberg News que irá “implementar ativamente a abertura do setor de fabricação de veículos de novas energias a estrangeiros, junto com outros departamentos que estão sob a direção do Conselho de Estado”.
O Ministério também fez referência a um aviso emitido em agosto pelo Conselho de Estado em que determinou que as agências do governo ampliassem o acesso dos investidores estrangeiros a áreas como a fabricação de veículos de nova energia.
No início do mês, a China colocou a indústria automotiva em alerta ao se tornar o mais recente país, e o maior, a buscar a eliminação progressiva dos veículos movidos a combustíveis fósseis, medida que certamente acelerará a mudança global rumo aos carros elétricos. O governo chinês trabalha com os órgãos reguladores na fixação do prazo para o encerramento da produção e das vendas dos veículos de combustão interna, disse Xin Guobin, vice-ministro de Indústria e Tecnologia da Informação.
A China vem abrindo gradualmente o acesso das fabricantes de automóveis estrangeiras às zonas de livre comércio. Empresas estrangeiras receberam autorização para estabelecer operações de propriedade integral delas para a fabricação de motocicletas e baterias na China desde julho de 2016. A chamada regra 50-50 para joint ventures entre chinesas e estrangeiras foi implementada em 1994 para garantir que a indústria automotiva da China, à época incipiente, aproveitasse a transferência de tecnologia obtida por meio de fábricas operadas em conjunto com empresas de automóveis multinacionais como Volkswagen e General Motors.
Xu Shaoshi, então presidente da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, disse em junho de 2016 que o governo considera cancelar o limite de propriedade de 50 por cento. Essa política foi criticada nos últimos anos por proteger as empresas estatais da concorrência e reduzir o esforço para que construam suas próprias marcas. Os defensores da regra afirmam que ela garante às montadoras da China uma chance de construir uma escala suficiente e desenvolver a tecnologia para resistir à concorrência global.