As cotações do principal ingrediente das rações de aves e suínos dispararam. Em dezembro o preço do milho subiu 10% e fechou o ano com aumento de 32,2%. Apenas nos doze primeiros dias do ano as cotações do índice ESALQ/BM&FBovespa subiram 13,33%, com a saca de milho chegando a R$ 41,74 neste início de janeiro contra R$ 27,62 em janeiro do ano passado, ou seja, 51,12% de aumento. O preço para entrega imediata no Porto de Paranaguá (PR) saiu de R$ 36,50 para R$ 44,00 em apenas 30 dias, acréscimo de 20,5%. O cenário é particularmente preocupante para as cadeias de produção de aves e suínos. No caso da suinocultura o momento presente remete à crise de 2012, em que os preços do suíno vivo iniciaram o ano em queda enquanto os preços do milho e do farelo de soja disparavam.
De acordo com as previsões divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a queda na primeira safra de milho será de 7,7%, com colheita estimada em 27,8 milhões de toneladas. Apenas para produção de ração, o Brasil consome mais de 40 milhões de toneladas. Dessa forma, o milho da primeira safra vai ser altamente disputado entre os consumidores domésticos e os compradores internacionais. A produção total de milho em 2016 vai ser 2,8% menor que a safra anterior, com 82,32 milhões de toneladas neste ano contra 84,6 milhões de toneladas em 2015. No entanto, esse número ainda pode sofrer alterações já que em muitas regiões o atraso do plantio da soja vai afetar a segunda safra de milho, que responde hoje por mais de 65% da produção total.
Nos últimos 10 anos o Brasil aumentou consideravelmente tanto o consumo interno quanto a exportação do cereal. No entanto, não foram desenvolvidas novas políticas públicas para o enfretamento de situações onde o aumento demasiado das vendas externas e a queda na produção colocassem as cotações do milho em movimento de especulação. Nesta situação, os pequenos produtores e os produtores independentes ficam expostos ao desabastecimento e aos preços exorbitantes, colocando em risco milhares de suinocultores em todo o Brasil. Assim como na crise de 2012, os estoques governamentais estão baixos e localizados distantes dos principais centros de produção. Também agora como antes o governo ainda não se mexeu para operacionalizar políticas de transferência do grão das regiões de produção para as regiões de consumo.