O preço do milho atingiu ontem a máxima histórica de R$ 43,44 no índice Esalq/BM&FBovespa após acumular alta de 16,46% somente em janeiro. Com isso, o índice de relação de troca suíno vivo x milho já é menor que seis – um quilo de suíno vivo compra menos que seis quilos de milho –, enquanto que o adequado seria comprar pelo menos 7,5 kg. Para se ter uma ideia da degradação do poder de compra do suinocultor, basta lembrar que no melhor momento recente da atividade, em setembro de 2014, um quilo de suíno vivo permitia a compra de 14,6 quilos de milho, em meados de 2015 com um quilo do animal ainda se comprava 10 kg de milho. O momento ainda não é de desespero, como foi no auge da última crise, em julho de 2012, em que o suinocultor conseguia adquirir apenas 4,8 kg de milho com um quilo de suíno vivo, mas já é hora do setor buscar medidas que evitem o caos.
Na suinocultura, sobretudo para os produtores independentes, pior que o baixo preço do suíno vivo é a alta exagerada dos insumos básicos, milho e farelo de soja. O cenário de preços especulativos no mercado de grãos é altamente erosivo ao capital de giro dos produtores de suínos que estão fora do “cobertor” da agroindústria e que precisam adquirir por conta própria milho e farelo de soja. O Ministério da Agricultura, em resposta à pressão por medidas feita pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), explicou que o estoque de passagem de milho é de pelo menos 10 milhões de toneladas, o que seria suficiente para os próximos 60 dias, prazo suficiente para colheita da safra de verão. Realmente os números estão corretos.
No entanto, o que não foi dito é que a maior parte deste estoque de passagem está nas mãos de produtores capitalizados, e a perspectiva de novos aumentos devido ao bom momento do mercado internacional e à redução da oferta da próxima safra, fará os estoques serem liberados a conta gotas. Diferente seria se o governo tivesse 10 milhões de toneladas de milho em seus estoques reguladores. Poderia agora lançar mão de políticas públicas que evitassem o colapso dos produtores mais expostos ao risco. De outro lado, a indústria de aves e suínos já informou que os preços da carne podem subir devido ao aumento do custo. Na verdade, essa medida pouco ajuda os produtores. O que a indústria vai tentar fazer é repassar parte do seu custo para frente, para o consumidor final, mas em tempos de crise a medida tem pouca chance de sucesso.