Se você já comeu uma coxinha de frango, deve ter notado que a parte de baixo da pata das aves é formado por dois ossos: um mais grosso e longo (a tíbia) e outro bem mais fino e um pouco mais curto (a fíbula).
É justamente o comprimento desse osso fino que demarca uma das principais diferenças anatômicas entre as aves e seus ancestrais monstruosos, os dinossauros.
Os repteizões tinham tíbias e fíbulas do mesmo tamanho – a fíbula mais curta é uma inovação genética que permitiu às aves gerar mais impulso, o que ajuda a entender por que elas voam tão bem.
Pois então: um time de pesquisadores da Universidade do Chile liderado pelo brasileiro João Francisco Botelho conseguiu interferir no desenvolvimento do embrião de uma galinha para fazer com que o pintinho nascesse com uma perna típica de um dinossauro.
O que eles fizeram em laboratório foi inibir quimicamente a ação de um gene cuja função é interromper o crescimento do osso.
Esse gene é um dos tantos que a evolução criou ao longo do processo que deu origem às aves.
Essa é a segunda vez que Botelho conseguiu trazer de volta ao mundo traços típicos dos finados dinossauros: ano passado ele fez uma ave nascer sem o polegar opositor torcido, como seus reptilianos tataravós.
O objetivo dos cientistas não é reverter a evolução e transformar pássaros em monstros pré-históricos, para povoar algum Jurassic Park por aí.
O que eles querem é aumentar a compreensão científica tanto do desenvolvimento dos embriões de aves quanto da transição entre os dinossauros e os pássaros. Mas é claro que pesquisas desse tipo abrem possibilidades alucinantes.
Se chegar o dia em que os cientistas compreendam profundamente quais genes distinguiram os dinos das aves, seria teoricamente possível desligar todos eles, para que um dinossauro voltasse a nascer no mundo, 66 milhões de anos depois.
Quem iria gostar é minha filha de 2 anos, que vive me pedindo para levá-la ao zoológico para ver os tiranossauros.