No último sábado (21/03) o vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios e Assuntos Corporativos da BRF para a região asiática, Marcos Sawaya Jank, sediado em Cingapura, escreveu artigo para Folha de São Paulo sob o título O que o Mundo Espera do Agronegócio? analisando o papel do Brasil no mercado internacional de produtos agrícolas e questionando se o país está conseguindo “entender e atender as expectativas de nossos consumidores finais” ou apenas tem se destacado como um grande fornecedor de commodities. Jank elencou quatro grandes vetores que puxam a demanda do agronegócio mundial.
Segurança Alimentar (food security) como preocupação dos países pobres, populosos, que demandam comida barata e oferta acessível de alimentos, casos encontrados na Ásia e África. Neste caso as palavras de ordem são produtividade, alto rendimento, aumento das escalas e redução das barreiras comerciais. Neste segmento o Brasil tem papel de destaque. O segundo grande vetor está relacionado à Segurança do Alimento (food safety), onde um número crescente de países está mais preocupado com a qualidade dos alimentos do que com a quantidade produzida, com interesse em temos como sanidade, certificação e rastreabilidade. Este campo é ainda pouco explorado pelo agronegócio brasileiro e tem a China como maior destaque segundo o autor.
O terceiro vetor está relacionado à segmentação e variedade de produtos, criação de marcas globais, conveniência, etc. e a palavra de ordem é “valor adicionado”. Neste grupo estão os países de renda média da América Latina, Leste Europeu e alguns asiáticos. No último grande vetor estão os consumidores de maior renda, dos países mais ricos, que se preocupam com “novas demandas” como é o caso de alimentos produzidos próximos à região de consumo, com mínimo impacto ambiental e menor uso de tecnologia como orgânicos, sem antibióticos, sem transgênicos, sem instalações fechadas. Exigências que costumam elevar o preço do produto. O autor finaliza deixando a questão de se o Brasil além de relevante papel no suprimento global de commodities vem se organizado para aproveitar todas estas oportunidades.
No segmento de proteína animal, mais especificamente no de carnes, arrisco-me a dizer que estamos muito bem posicionados no primeiro grande vetor, de produção em larga escala, com alta produtividade e preços acessíveis. O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e o quarto maior exportador global de carne suína. No segundo vetor, onde rastreabilidade, certificação e sanidade são o foco da produção também temos avançado a passos largos. O próprio processo de internacionalização de empresas brasileiras e o aumento da participação do país no mercado internacional de carnes tem propiciado uma curva de aprendizagem de grande relevância para os produtores brasileiros.
O grande desafio para as cadeias de proteína animal brasileira está relacionado aos requisitos relacionados com o terceiro e quarto grandes vetores de mudança, que tratam de valor adicionado e novas demandas dos consumidores. A variedade e a conveniência associados à carne e seus derivados industrializados ainda tem um grande caminho a ser percorrido pela indústria nacional, seja para atendimento ao mercado doméstico ou externo. Também temos um grande desafio em relação às novas demandas, como é o caso do bem-estar e o uso racional de antibióticos na produção animal, amplamente debatidos e com cada vez mais impacto no diálogo entre o setor produtivo e os consumidores.