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Mercado Externo

Mais cara, carne bovina perde consumidores nos EUA

Com os consumidores se preparando para outro período de desaceleração da economia, ganha força a opção pelas carnes suína e de frango, mais baratas.

Mais cara, carne bovina perde consumidores nos EUA

O caso de amor dos americanos com a carne bovina está perdendo força. Nos Estados Unidos, conhecidos pelos hambúrgueres de drive-thru e bifes gigantes, a demanda per capita pelo produto está caindo a seu nível mais baixo em mais de quatro décadas. Com os consumidores se preparando para outro período de desaceleração da economia, ganha força a opção pelas carnes suína e de frango, mais baratas.

“Houve, sem dúvida, um desaquecimento das compras de carne bovina”, diz Derek Luszcz, de 42 anos, coproprietário, em Chicago, da Gene’s Sausage Shop and Delicatessen, um açougue que também vende cortes nobres e outros alimentos. “Muito disso tem a ver com o preço. As pessoas mudaram a dieta”. A redução do consumo levou a uma queda de 12% nos contratos futuros do boi gordo na bolsa de Chicago no trimestre passado, maior recuo desde a recessão global de 2008.

Os movimentos dos gestores de ativos (“managed money”) que atuam em Chicago indicam que poderá haver novas baixas, ao mesmo tempo em que projetam o início da recuperação dos contratos futuros de suínos vivos. Tanto as cotações da carne bovina quanto as da carne suína dispararam em 2014, após anos de seca terem reduzido o rebanho bovino americano para seu menor contingente em seis décadas e depois de um vírus fatal para os leitões ter restringido a oferta de suínos.

Embora os criadores tenham se mobilizado para recuperar a oferta nas duas frentes, a de suínos se multiplica muito mais rapidamente. Assim, a produção de carne suína alcançará um recorde em 2015 nos EUA, enquanto a de carne bovina deverá encolher em relação a 2014. Atualmente, a diferença de preços entre a carne bovina e a suína está mais de 20% maior que a média dos últimos dez anos, e com a desaceleração da oferta de postos de trabalho os americanos estão optando por comprar a carne mais barata.

O consumo per capita de carne bovina deverá cair nos EUA para 53,9 libras-peso (24,4 quilos) em 2015, nível mais baixo já registrado nas estatísticas do governo, que remontam a 1970. Enquanto isso a libra-peso vendida nos supermercados atingiu a média de US$ 7,91 em agosto, segundo o Departamento de Estatística do Trabalho dos EUA, apenas 1% abaixo do recorde histórico (US$ 7,962), de julho passado. Em contrapartida, a costeleta de porco no varejo caiu mais de 7% em relação ao recorde de outubro de 2014.

Embora o rebanho bovino americano tenha diminuído, a retração dos custos dos grãos permitiu aos pecuaristas elevar o peso de abate dos animais. Dessa forma, os bovinos passaram a pesar, em média, 1.385 libras-peso, 32 a mais do que no ano passado, conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Mas há indícios de que os preços no varejo não seguirão elevados. No atacado, a carne bovina recuou 14% em setembro, o maior tombo em pelo menos onze anos. E a transferência dessa queda aos supermercados poderá contribuir para que a demanda recupere força, disse Don Close, vice-presidente de pesquisa de alimentos e agronegócios de proteína animal em St. Louis.

Nesse contexto, a carne suína também poderá perder atratividade. Existe o risco de que México e Canadá passem a cobrar tarifas sobre o produto importado, o que inviabilizará as exportações americanas caso o Senado dos EUA não aprove um projeto de lei comercial que compense a mudança. Como os preços do frango também estão mais baixos este ano, poderão conquistar mais consumidores de carne suína, disse Willl Sawyer, vice-presidente do Rabobank sediado em Atlanta.

Para Christopher Narayanan, chefe do departamento de pesquisas do Société Générale em New York, a queda da carne bovina no varejo americano não será rápida e poderá não acontecer antes das últimas semanas deste ano. Mas, como pondera Donald Selkin, cogestor de cerca de US$ 3 bilhões como estrategista-chefe para esse mercado da corretora National Securities, de Nova York, o produto está entre as proteínas mais caras e é mais sensível às mudanças econômicas.

Um relatório sobre o nível de emprego do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgado na sexta-feira revelou uma alta “morna” nas folhas de pagamento no país em setembro e salários em estagnação, sinalizando que os efeitos da desaceleração global estão alcançando a maior economia do planeta.

O que reforça os problemas na ponta da demanda é o fato de que o dólar valorizado em relação a outras moedas e a desaceleração global estão prejudicando as exportações americanas de carne bovina. Na semana encerrada em 24 de setembro, as vendas para exportação caíram 26% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados do governo. “Quando há percepção de uma desaceleração econômica, e esse é o tema dominante em todas as esferas, o mercado de boi cai”, conclui Selkin, da National Securities.