Depois de frustrados os planos de emitir US$ 500 milhões em bonds no último trimestre do ano passado, a Biosev, segunda maior produtora de açúcar e etanol do país, avalia saídas para capitalizar o negócio. O Valor apurou que entre as alternativas estudadas pela companhia, controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities, está a venda de seus ativos de cogeração de energia, avaliados em R$ 1 bilhão (incluída a dívida).
Procurada, a empresa informou que neste momento “não está conduzindo nenhuma negociação” para a venda de ativos. Não negou, no entanto, que esteja avaliando a venda da cogeração. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a Biosev já conversou com algumas companhias de energia potenciais interessadas no ativo, tanto no Brasil quanto no exterior. No entanto, ainda não se decidiu se venderia somente as plantas de cogeração já em operação, ou também os projetos das usinas que ainda não produzem energia.
Nas conversas que a Biosev teve até agora com os potenciais compradores, ainda não se chegou a um consenso sobre o valor dos ativos, mas estes estariam avaliados em cerca de R$ 1 bilhão (incluindo a dívida da cogeração). A Biosev exporta por ano cerca de 1 mil megawatts/hora de energia. Esse volume foi negociado em contratos de longo prazo em 2012 a um preço de venda de R$ 140 por megawatt/hora.
A empresa estaria dividida por considerar esse valor baixo. Um parecer feito por uma consultoria financeira também indicou “que não seria agora o melhor momento” para realizar a venda. A Biosev passa também por um período de transição em sua gestão. Nos últimos três meses, a matriz francesa promoveu a troca do presidente e do diretor financeiro de seu braço sucroalcooleiro. O executivo ex- Braskem, Rui Chammas, assumiu em dezembro a presidência da sucroalcooleira, no lugar de Christophe Akli. A diretoria financeira passou a ser comandada pelo executivo Paulo Prignolato, em substituição a Serge Stepanov.
Mas fontes afirmam que apesar de ter uma dívida de curto prazo superior a R$ 1 bilhão, o problema da Biosev não é a falta de crédito nos bancos para rolar o endividamento. A questão é que o negócio sucroalcooleiro exige um Capex anual elevado, a empresa não vem gerando caixa livre para realizar esses investimentos, e a controladora estaria pressionando a companhia para “andar com as próprias pernas”.
Em doze meses, a Louis Dreyfus já injetou na Biosev cerca de R$ 1,2 bilhão. O valor considera o aumento de capital de R$ 600 milhões feito em fevereiro de 2013 e o depósito de outros R$ 600 milhões de garantia para fazer frente às obrigações contraídas pela controladora na oferta inicial de ações da Biosev, em abril de 2013, na BM&FBovespa. Na operação, a Dreyfus emitiu opções de venda das ações com vencimento em julho deste ano e que, se exercidas, vão gerar o pagamento de cerca de R$ 600 milhões aos detentores da opção.
Como a ação não está se valorizando acima do preço de exercício da opção, de R$ 16,57 – ontem, as ações da companhia fecharam a R$ 10,16 – a tendência é de que todos os detentores da opção exerçam o direito de venda da ação a R$ 16,57 ao controlador.
Os papéis da companhia na BMF&FBovespa acumulam queda de 32% desde a oferta inicial de ações, em abril. Um dos motivos para o recuo está na previsão menor de moagem de cana, feita em agosto do ano passado, devido a geadas ocorridas nos canaviais de Mato Grosso do Sul, que respondem por 27% do processamento de cana do grupo.
Antes estimada em 33 milhões de toneladas, a nova estimativa foi revisada para um volume entre 28,7 milhões e 30,1 milhões de toneladas da matéria-prima, o que tende a trazer um impacto direto para as margens da operação. Além disso, no ano passado, quando informou ao mercado essa perda climática, a Biosev também estimou que as geadas trariam como efeito a redução da oferta de cana para a próxima safra, a 2014/15, de cerca de 800 mil toneladas.
Nos dois trimestres da atual safra 2013/14 de cana-de-açúcar – período encerrado em 30 de setembro -, a Biosev registrou prejuízo líquido de R$ 245,377 milhões, ante o resultado também negativo em R$ 270,3 milhões de igual intervalo da safra anterior, a 2012/13.
Em 30 de setembro de 2013, a Biosev informava uma dívida líquida de R$ 3,78 bilhões que, ajustada com os estoques, era de R$ 3,267 bilhões. A relação entre esse endividamento ajustado e o Ebitda era na mesma data de 2,3 vezes.