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Agroindústrias

LBR e BRF põem ativos à venda e agitam setor

Movimento pode atrair estrangeiros e mudar mercado.

LBR e BRF põem ativos à venda e agitam setor

O segmento de lácteos nacional deve ter transformações significativas no curto a médio prazo. Duas das maiores empresas do segmento, LBR e BRF, colocaram ativos à venda, movimento que tem potencial para alterar o jogo de forças nesse mercado.

No momento em que a BRF admite que pode vender sua área de lácteos ou fazer associações nesse segmento, a LBR, em recuperação judicial, atua em duas frentes, buscando um sócio investidor e também procurando compradores para ativos da empresa no país.

A alienação de ativos pela LBR está prevista no plano de recuperação judicial aprovado por credores da companhia em outubro do ano passado. São as chamadas unidades produtivas isoladas (UPIs), que no caso da LBR somam 12 fábricas.

Esse movimento da LBR abre caminho, mais uma vez, para uma investida da gigante francesa Lactalis no Brasil. A empresa, que comprou a Balkis, de queijo finos, em 2013, chegou a negociar a compra do controle da LBR também no ano passado, antes da aprovação do plano de recuperação judicial da empresa brasileira. A situação financeira da LBR, porém, inviabilizou o negócio, que estava sendo tocado pela Parmalat SpA, controlada da Lactalis. Agora, conforme apurou o Valor, a Lactalis voltou a negociar com a LBR. Mas, desta vez, só a compra da área de queijos.

O diretor-presidente estatutário da LBR, Nelson Bastos, admitiu, em entrevista ao Valor, que existem conversações para alienação da unidade de queijos da companhia, mas não disse o nome dos interessados. Afirmou apenas que as “conversas estão progredindo”. Ainda não está definido, segundo Bastos, se o negócio de requeijão da LBR, dona da marca Poços de Caldas, estará incluído ou não numa eventual venda da área de queijos.

De fato, a área de queijos da LBR interessa à Lactalis pois adicionaria valor à unidade, ainda pequena, da empresa francesa no Brasil, apurou o Valor. A Lactalis, aliás, sempre admitiu o interesse em alguma operação com a LBR no Brasil pelo fato de esta ter a licença da marca Parmalat no país até 2017.

Bastos disse que há “vários interessados em UPIs” da companhia, mas garantiu que isso não significa que a LBR “está sendo desmontada” ou que todos os ativos serão alienados. “O objetivo é alienar o suficiente para reequilibrar a estrutura de capital da LBR”, afirmou. Ele observou ainda que qualquer venda tem de ser aprovada pela assembleia de credores da companhia. Além de unidades de produção, marcas também podem ser vendidas pela LBR, segundo o executivo.

A venda de ativos não é a única frente em que a LBR, que tem dívidas de R$ 1 bilhão, tem trabalhado para tentar superar as dificuldades financeiras. A empresa também negocia operação de aumento de capital por meio da entrada de um ou mais investidores, o que precisaria ser aprovado pelos acionistas da LBR. Bastos evitou dizer se esse investidor viraria o controlador da empresa de lácteos. Mas admitiu que é necessário “um volume de recursos significativo para reequilibrar a estrutura de capital” da companhia. Assim, para aceitar fazer tal aporte, esse investidor teria que ter “uma posição determinante” no capital.

Dona das marcas Batavo e Elegê e de um faturamento líquido de R$ 2,8 bilhões no segmento de lácteos em 2013, a BRF pretende vender parcial ou totalmente ou fazer parceria nessa área para tentar driblar as baixas margens do leite longa vida e de outros derivados lácteos.

O CEO global da BRF, Claudio Galeazzi, já falou, no ano passado, da possibilidade de fazer parcerias “relevantes” com companhias estrangeiras na área de lácteos e disse que investidores externos estão de olho nesse mercado no Brasil.

Fontes do setor consideram que uma eventual parceria ou venda de ativos pela BRF poderia ser feita com uma empresa que ainda não está no Brasil ou que tenha negócios pouco relevantes no país. Encaixam-se nesse perfil a mexicana Lala, a canadense Saputo e a própria Lactalis.

De fato, “o sonho” da BRF seria fechar um negócio com a Danone, com a qual tem mantido conversações, de acordo com uma pessoa a par do assunto. A questão é que as marcas da BRF não interessariam à Danone, que já tem a sua própria marca forte. O interesse da francesa seria numa parceria envolvendo distribuição de produtos, uma área em que a BRF se destaca.

Procurada, a BRF disse que não se manifestaria sobre o assunto. Por meio de sua assessoria, a Danone afirmou “que não comenta rumores acerca de movimentações de mercado e reitera seu comprometimento com o desenvolvimento do mercado brasileiro de produtos lácteos, por meio de constantes investimentos”.

Mesmo antes da chegada de Abilio Diniz à presidência do conselho de administração da BRF, a empresa já havia tentado uma parceria com Danone, que não avançou. A BRF também chegou a conversar, no passado, conforme apurou a reportagem, sobre uma possível união com a Vigor, controlada pela J&F, que também é dona da JBS. Nesse caso, o objetivo era uma joint venture para ter distribuição forte e marcas também fortes. Outra tentativa que não vingou.

A Tarpon, acionista da BRF que patrocinou a ida de Abilio à empresa, sempre foi avessa à operação de lácteos da companhia, segundo fontes a par do assunto. No ano passado, quando os preços do lácteos foram às alturas por conta do aumento da matéria-prima, o discurso mudou. Mas entre os últimos meses de 2013 e o início deste ano, as margens voltaram a ficar pressionadas desagradando novamente aos acionistas da BRF.

Embora ocorram no mesmo momento, os movimentos de LBR e BRF não devem ser concorrentes diretos. Um especialista do setor observa que a “BRF não tem pressão de caixa para vender o negócio de lácteos e vai precificá-lo adequadamente.” Segundo essa fonte, a BRF está fazendo realocação de portfólio por isso vai valorizar o negócio. Assim, não atrapalharia a busca da LBR, que está em dificuldades financeiras, por investidores estratégicos. Não se descarta, no entanto, que algum player possa ter interesse tanto em determinado ativo da LBR quanto da BRF.