A China confirmou ontem que vai permitir a importação de grandes quantidades de milho brasileiro, em mais um passo do país asiático para diminuir sua dependência do produto proveniente dos Estados Unidos.
Os EUA fornecem mais de 90% do cereal importado pela China, mas sua participação no mercado de milho de maior crescimento do mundo vem caindo nos últimos dois anos diante das iniciativas daquele país para diversificar suas fontes de suprimento.
A crescente industrialização e a transição dos chineses para uma dieta rica em proteínas estão alterando os fluxos do comércio mundial. O volume da demanda chinesa no ano passado foi 39 vezes maior que em 2009, embora as importações representem, até agora, apenas 2% do consumo doméstico total.
Autoridades de Pequim alertaram que a China poderá enfrentar um déficit no suprimento de milho nos próximos anos devido à crescente demanda das indústrias de ração animal e de processamento de alimentos, que transformam o grão em subprodutos lucrativos, como adoçantes, colas e amidos, entre outros.
Essa demanda deverá continuar em alta. Em janeiro, autoridades do setor agrícola disseram que é provável que a China tenha que importar mais milho nos próximos anos, no que foi classificado como “uma escolha inevitável”.
O acordo com o Brasil, assinado em 31 de março pela Administração Geral de Supervisão de Qualidade, Inspeção e Quarentena da China, é semelhante aos que foram firmados com a Argentina, em fevereiro de 2012, e com a Ucrânia, em novembro do mesmo ano. Analistas lembram que o anúncio formal de ontem foi o desfecho de meses de trabalho para determinar quais tipos de milho brasileiro a China considera aceitáveis para a importação.
Em novembro, quando esteve na China, o então ministro da Agricultura do Brasil, Antônio Andrade, informou que os dois países tinham fechado um acordo fitossanitário para que o milho brasileiro fosse exportado ao mercado chinês, mas não disse quando ele seria formalmente aprovado.
O Brasil se tornou recentemente o segundo maior exportador de milho do mundo, depois dos EUA, mas não foi o primeiro país latino-americano a negociar com a China nessa frente. A Argentina, terceiro maior exportador, enviou em julho seu primeiro grande carregamento para o país asiático (66 mil toneladas).
Brasil e Argentina chegaram a vender algumas centenas de toneladas de milho à China no passado, mas acordos para garantir a integridade do produto, como o pacto fitossanitário entre Brasil e China, podem abrir caminho para remessas que podem atingir milhares de toneladas em um único mês.
Analistas dizem que o atraso da China em abordar o Brasil quanto ao milho pode ter sido causado por fatores logísticos. “O fornecimento de milho do Brasil pode ser muito volátil e instável”, afirma Chenjun Pan, analista do banco Rabobank. O Brasil é apenas um de pelo menos sete países com quem a China vem negociando para garantir seu suprimento do cereal.
Em 2011, apenas EUA, Laos e Mianmar enviavam carregamentos de milho superiores a 10 mil toneladas à China. Mas, no ano passado, o país asiático acrescentou a Argentina e a Ucrânia ao grupo de grandes fornecedores. A China também aumentou a cota de fornecimento de outros países, incluindo Rússia e Índia.
Em 2012, os EUA responderam por 98% das importações de milho da China. No ano passado, a fatia americana caiu para 91%. Enquanto isso, fiscais de qualidade chineses rejeitaram um recorde de 545 mil toneladas de milho americano no ano passado, alegando que as cargas estavam contaminadas com uma variedade geneticamente modificada ainda não aprovada pelo governo chinês para importação.
Mesmo assim, os níveis elevados de importação dos últimos meses – incluindo de milho dos Estados Unidos -, indicam que a China continua a ser um comprador oportunista nos mercados mundiais. Os preços do milho começaram a subir nas últimas semanas, mas, graças a uma volumosa safra global, continuam 34% abaixo do pico histórico de US$ 333 por tonelada registrado em julho de 2012.
A China continua a tomar iniciativas para garantir sua cota de grãos e outros alimentos no mundo. A gigante Cofco pagou cerca de US$ 1,2 bilhão por uma participação majoritária na trading holandesa Nidera. A estatal também entrou com US$ 1,5 bilhão num consórcio para adquirir uma fatia majoritária na divisão de agronegócios da Noble Group.