A Tyson Foods Inc. venceu o leilão pela Hillshire Brands Co., mas acabou pagando centenas de milhões de dólares a mais que o necessário para superar a oferta da Pilgrim’s Pride Corp., uma empresa controlada pela JBS SA nos Estados Unidos. O processo não foi conduzido como um leilão de uma obra de arte, onde cada participante sabe quanto seus rivais estão oferecendo. Em vez disso, foi mais parecido com uma de licitação, em que os candidatos colocam o valor num envelope fechado, tentando adivinhar o quanto precisam oferecer para sair vencedor.
A oferta de US$ 63 por ação, ou US$ 7,7 bilhões, da Tyson pela Hillshire, dona de marcas populares de alimentos nos EUA, acabou sendo muito maior do que a Tyson precisava para bater a da Pilgrim’s. Mas a Tyson não sabia disso, disse uma pessoa a par do processo. A Pilgrim’s participou do leilão pela Hillshire no fim de semana, mas manteve a oferta de US$ 55 por ação que tinha feito na semana passada. A Pilgrim’s só confirmou ontem esse fato, que ainda era desconhecido antes e durante o leilão. As regras do leilão determinavam que a oferta vencedora deveria exceder a do rival em pelo menos US$ 2,50 por ação. Ou seja, como a Pilgrim’s manteve a sua oferta de US$ 55, a Tyson poderia ter arrematado a Hillshire com uma oferta de US$ 57,50 por ação, dizem pessoas a par das ofertas. O diretor-presidente da Tyson, Donnie Smith, defendeu o negócio ontem, dizendo que a empresa combinada poderia gerar cerca de US$ 300 milhões por ano em economias de custo durante três anos, ao combinar as operações de distribuição refrigerada e marketing das duas empresas, além de outros cortes.
Ela também terá o potencial de aumentar as vendas da Hillshire para escolas e outros pontos de varejo, afirmou Smith. “Estamos comprando esses ativos não apenas pelo seu valor hoje, mas pelo potencial ao longo do tempo”, disse. De fato, a Hillshire vai fazer da Tyson uma das maiores fornecedoras de carne e alimentos preparados de alta margem de lucro para os supermercados americanos. Ainda assim, analistas dizem que o preço foi salgado. Os investidores parecem concordar, já que a ação da Tyson despencou 6,5% ontem. “É definitivamente uma transformação [para a Tyson]”, diz Tim Tiberio, analista da Miller Tabak & Co. “Apenas está acontecendo a um preço muito alto.” O caso da Hillshire ilustra os riscos, e as gordas recompensas potenciais, dos leilões de aquisição. Nem todas as vendas de empresas são feitas por leilão. Geralmente, as empresas sendo vendidas entram em negociação com um comprador e deixam aberta a possibilidade de ainda poder aceitar uma oferta maior, dentro de determinado prazo, depois de assinarem o acordo de venda. Compradores costumam preferir esse sistema aos leilões, que são obscuros e podem leválos a pagar alto demais. Às vezes, num leilão, “o vencedor é o perdedor”, diz um profissional da área de aquisições.
A oferta da Tyson, toda em dinheiro, representa um prêmio em torno de 70% sobre a cotação da ação da Hillshire antes da oferta inicial da Pilgrim’s, em 27 de maio, que deflagrou a briga para comprar a empresa de Chicago. Tanto a Tyson como a Pilgrim’s procuraram impedir a planejada aquisição pela própria Hillshire da Pinnacle Foods Inc., fabricante de molhos de salada e outros produtos, por US$ 4,3 bilhões. A Hillshire deve desistir do negócio para que a transação com a Tyson seja consumada, uma condição de ambas as ofertas. A Hillshire declarou ontem que seu conselho de administração ainda não aprovou o negócio com a Tyson e ainda não alterou sua recomendação quanto à fusão com a Pinnacle.
Se concluída, a aquisição da Hillshire seria a mais cara que a Tyson já fez até hoje, num valor cerca de duas vezes e meia maior que os US$ 2,9 bilhões que ela pagou pela processadora de carne IBP Inc., em 2001, segundo dados da Dealogic. Smith disse ontem que o preço representa “em absoluto” um bom negócio para os investidores da Tyson. “Ter essa empresa no nosso portfólio vai agregar um valor significativo”, disse ele numa coletiva com a imprensa. “Somos melhores com ela.” Investidores e analistas concordam que a Hillshire seja um ativo tentador. Suas marcas Jimmy Dean, Ball Park e Hillshire Farm são campeãs de vendas nos segmentos das linguiças típicas do café da manhã dos americanos, linguiças defumadas e salsichas, e seus produtos State Fair lideram na categoria de “corndogs”, salsichas cobertas com uma massa de milho, segundo a firma de pesquisas IRI. Adquirir as marcas da Hillshire tornaria a Tyson a segunda maior fornecedora de alimentos congelados para supermercados, depois da Nestlé SA, com uma receita combinada de US$ 3,7 bilhões por ano, afirmou a Tyson ontem.
O acordo atual entre a Hillshire e a Pinnacle Foods significa, porém, que a Tyson ainda não teve acesso aos livros contábeis da Hillshire para examinar com cuidado suas finanças. Smith disse ontem que as projeções de cortes de custo da Tyson são baseadas em documentos públicos e nas próprias análises da Tyson do setor de alimentos preparados. “Eles não têm experiência em imensas integrações como essa”, diz Akshay Jagdale, analista da firma KeyBanc Capital Markets Inc. “A oportunidade existe, mas neste momento parece haver um monte de céticos, e com razão, porque é um grande negócio e a um preço muito mais alto do que todo mundo previa.” A Tyson manifestou confiança de que a aquisição da Hillshire vai torná-la mais lucrativa em geral.
A posição destacada da Hillshire no setor de frios, por exemplo, significa que a Tyson vai garantir um valor maior pelo presunto fatiado produzido a partir dos seus suínos, o que vai ajudar a elevar a receita por animal. Smith disse a analistas que a combinação das linhas de carne fresca e alimentos preparados das duas empresas vai gerar mais oportunidades de expandir suas vendas. Alguns receiam que o cenário vislumbrado pela Tyson seja demasiadamente otimista. Robert Moskow, analista do banco Credit Suisse, alertou na semana passada que os preços do frango provavelmente vão cair em 2015 à medida que as empresas aumentam a produção para atender a demanda. Além disso, o preço dos grãos pode subir e encarecer a ração com que os processadores de carne alimentam seus rebanhos.
As projeções preliminares de lucro e pagamentos de dívida da Tyson no negócio com a Hillshire “dependem amplamente de fatores fora do controle da direção”, escreveu Moskow. Um benefício menos tangível da aquisição seria conter a JBS. Os irmãos Wesley e Joesley Batista, que comandam a empresa brasileira, usaram uma onda de aquisições para transformá-la no que chamam de o maior frigorífico do mundo e num concorrente de peso da Tyson nos mercados globais de carne. Os irmãos Batista há muito cobiçavam a Hillshire. Agora que desistiu da oferta, a JBS será forçada no curto prazo a considerar alvos menores e menos importantes nos EUA. E ela pode ter que pagar prêmios maiores tendo em vista o que a Tyson ofereceu pela Hillshire, dizem analistas.