Quando a soja atingiu o seu valor mais baixo desde Fevereiro em Chicago (US$ 13.63 por bushel na última semana) o sinal vermelho pode ter sido ascendido para alguns produtores. Esse não é o caso, no entanto, da maioria dos produtores brasileiros.
Os agricultores estão neste momento comprando insumos para a próxima safra de soja. O valor da oleaginosa é matéria de preocupação, mas eles acreditam que os preços podem se recuperar ou, no pior caso, serem suficientes apenas para pagar as contas. Por outro lado, os preços internacionais de milho devem provocar uma redução de área do cereal e talvez um pequeno aumento de área de soja.
Estimativas do analista de mercado Carlos Cogo preveem que a área brasileira de milho, incluindo as safras de verão e inverno, cairia 0,1% (para 15,7 milhões de hectares), enquanto a área de soja subiria 2,9% (para 30,9 milhões de hectares). Em algumas regiões, no entanto, o milho pode ter uma queda ainda maior nas intenções de plantio.
Nelson Paludo, presidente do Sindicato Rural de Toledo, Paraná, diz que na sua região muitos produtores desistiriam de plantar milho no verão porque já não é rentável, e manteriam a área de soja. Segundo Paludo, o preço pago ao produtor pelo milho em Toledo é de R$ 18 a saca, enquanto o valor da soja é de R$ 56,60.
“Um valor lucrativo para o milho é de R$ 22 e de R$ 60 para a soja. Mas enquanto colhemos a segunda safra de milho, o valor pago é muito baixo. Eu acho que o milho vai desaparecer da safra de verão aqui, enquanto a soja mantém a área. Os insumos já estão comprados”, diz Paludo em matéria do jornalista Luís Vieira para o Portal Agriculture.
Uma narrativa similar é contada por Raimundo Gregório, da consultoria Grãos da Terra, de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia. Ele explica que na região a soja compete com o algodão e o milho, mas as perspectivas são melhores para a primeira.
“Existem preocupações, mas a soja trouxe lucros maiores por muitos anos. A confiança é muito grande nela. Até outubro, o panorama pode mudar para a soja, mas ninguém espera muito do milho”, diz Gregório.
Pedro Rodigueiro é um produtor de Ipiranga do Sul, noroeste do Rio Grande do Sul. Ele acredita que o valor ideal para a soja é de R$ 65 a R$ 70 por saca, mas o valor pago na sua região é de R$ 58. Ainda assim, Rodigueiro deve manter mil hectares para a oleaginosa, e está considerando uma redução dos cerca de 300 hectares programados para milho.
“Eu já adquiri meus insumos, e vejo esses números de uma supersafra nos EUA como um pouco de especulação. Eu vou ficar com a soja. O que mais me preocupa é uma inflação anual de 30% nos fertilizantes e fungicidas”, revela Rodigueiro.
Mas alguns produtores de escala maior veem a situação como muito arriscada. Eduardo Peixoto, que produz na divisa entre Goiás e Mato Grosso do Sul, vai plantar 2.500 hectares de soja e 800 hectares de milho. Ele pretendia plantar mil hectares do segundo cultivo, mas mudou de ideia.
“A safrinha vai rápido aqui, e temos muito mihlo para vender – sem muita armazenagem disponível. Para a soja, a situação é melhor, mas não muito melhor. Podemos ter lucro, mas as margens ficarão muito reduzidas. Não há um ambiente de otimismo”, reclama Peixoto.
No Mato Grosso, há uma fotografia um pouco diferente. As áreas degradadas do estado ainda estão sendo recuperadas, e a soja é parte de um planejamento de longo prazo. Portanto, a superfície dedica à oleaginosa deve continuar a crescer em 2014/2015.
Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, a área de soja deve crescer de 8,2 milhões de hectares para 8,6 milhões de hectares em 2014/2015.
“Nós temos um aumento progressivo de área plantada aqui. Mas na próxima safra esse aumento será bastante limitado. E a área só cresce por conta de uma decisão anterior. Em algumas áreas, haverá prejuízo financeiro”, explica Ricardo Tomczyk, presidente da Aprosoja MT. Ricardo Tomczyk diz que é cedo demais para falar de áreas de milho porque no estado é mais comum na safrinha. A Aprosoja MT também vê pragas, lagartas e a ferrugem como a principal origem dos custos.