A autorização do governo russo para mais quatro plantas frigoríficas de carne suína brasileira exportarem para a Rússia foi recebida com moderação pelo setor, que projeta uma produção de 3,49 milhões de toneladas em 2014. O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, afirma que um aumento repentino de demanda não tem como ser atendido de imediato pelo Brasil. “Nossa oferta de carne suína é muito baixa e o ciclo para aumentar a produção é de dez meses”, afirma à reportagem.
Segundo ele, a meta do setor é exportar 500 mil toneladas de carne suína em 2014, com a expectativa de receita de US$ 1,7 bilhão. A Rússia aparecia na projeção feita no início do ano com uma importação de 60 mil toneladas e, agora, diante da manifestação de ampliar o consumo, a demanda russa pode chegar a 110 mil toneladas até dezembro. Em um ano, segundo ele, a corrente comercial poderia crescer em mais 150 mil toneladas em relação ao volume atual, atingindo 210 mil toneladas.
O principal problema, contudo, para a oferta acompanhar esta demanda é o humor dos compradores russos. “Temos há algum tempo uma relação tensa com eles”, relata o presidente da ABPA e ex-ministro da Agricultura no governo Fernando Henrique Cardoso. Turra recorda que o Brasil já chegou a exportar 300 mil toneladas de carne suína ao mercado russo por ano e, após uma série de embates de negociação, o volume caiu para 20% daquele total. A redução ocorreu depois que produtores do Leste Europeu foram privilegiados por decisões russas favoráveis a seus vizinhos.
O histórico faz o presidente da ABPA dizer que para ampliar a produção de olho em Moscou é necessário firmar contratos rígidos, com fornecimento garantido por mais de um ano, tendo em vista que o crescimento do rebanho suíno é mais lento do que o de frango, por exemplo. “A produção de frango é flexível porque o ciclo curto. Mas para suíno, a ampliação precisa ser muito bem contratada. Ninguém vai investir sem garantia (de demanda). Os contratos devem ser bem amarrados por mais de um ano para o produtor ter estabilidade”, afirma.
O governo russo anunciou nesta quinta-feira (7/8) embargo à importação de produtos agrícolas oriundos de países do Ocidente contrários à anexação da região ucraniana de Crimeia por Moscou. A restrição vale por um ano para os Estados Unidos, União Europeia, Canadá, Austrália e Noruega. Com isso, a Rússia decidiu ampliar a participação do Brasil no sistema de cotas preferenciais a carne bovina, suína e derivados de leite. Turra avalia como viável e mais fácil atender a um aumento no consumo de carne de frango pelos russos. O Kremlin anunciou que 25 estabelecimentos estão habilitados para enviar o produto ao país, incluindo novas unidades e antigas plantas sob embargo temporário. Sem essas unidades, a Rússia já representaria 36% das exportações de carne de frango nas contas da ABPA, que projeta vender 4 milhões de toneladas até dezembro, com receita estimada em R$ 8,5 bilhões.