Na safra passada, ciclo 2013/14, as revendas foram os maiores financiadores da sojicultura estadual, registrando participação inédita no ‘bolo’ das fontes de recursos que são buscadas pelos produtores para o custeio das lavouras, o chamado funding da soja. Para 2014/15, o funding ainda não está definido, mas a demanda por R$ 13,95 bilhões, cifras necessárias para a nova safra, deverá alterar a busca por recursos que em suma se divide entre multinacionais de fertilizantes e grãos, revendas, sistema financeiro, bancos federais e recursos próprios. Diante de um cenário de preços pouco remuneradores – ou sem apontar nenhuma rentabilidade em alguns momentos – a tendência é de que a participação das revendas caia e a captação junto aos bancos federais e o desembolso próprio, aumentem no Estado.
Conforme dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o custeio da safra 2014/15 de soja está estimado em R$ 1,61 por hectare, 23,67% maior que o registrado no ciclo anterior. Com previsão de semear 8,67 milhões de hectares, a nova safra vai custar cerca de R$ 13,95 bilhões, ante R$ 11,28 bilhões aplicados anteriormente. O custeio considera apenas despesas com insumos, mão de obra e operação de máquinas. O custo total de cada hectare deve ultrapassar R$ 2,4 mil.
A configuração do funding desta nova safra de soja deverá apresentar avanços nos aportes obtidos junto aos bancos federais, que operam o Plano Agrícola e Pecuário e linhas especiais com juros controlados e fixos, e na disponibilização de recursos próprios, já que os produtores vêm de pelos menos cinco a seis safras de boa rentabilidade e diante de um cenário de incertezas para o próximo ano, devem evitar endividamentos. Conforme o Imea, o extrato do funding 2014/15 só poderá ser conhecido quando toda safra estiver definida, mas há, considerando os fundamentos atuais de mercado que têm pressionado a cotação da soja para baixo, tendência de menor participação das revendas e ganho de espaço dos bancos federais e do capital próprio.
REVENDAS – Nas últimas seis safras, de 2008/09 a 2013/14, a participação das revendas no total necessário para se plantar uma safra passou de 11% para 32%, recorde obtido no ano passado quando essas empresas financiaram por meio da troca de insumos pela a produção, R$ 3,58 bilhões de um total de R$ 11,28 bilhões. Como as recentes baixas no mercado internacional têm deixado a modalidade ‘troca’ desvantajosa ao produtor – demandando mais sacas de soja pela mesma quantidade de insumo como fertilizantes e defensivos – o produtor que pode, tem optado por buscar o dinheiro no banco para comprar à vista seus produtos e assim segurar a produção e ter uma dívida em reais com o agente financiador.
Depois do encarecimento da relação de troca, o principal indicador que aponta para perda de participação é a movimentação das vendas antecipadas. A maior parte dessa modalidade é fruto do escambo, a produção que nem foi plantada serve como moeda para o produtor adquirir os produtos básicos, que são pagos no pós-colheita. A venda antecipada que fechou junho de 2013 comprometendo 27,7% da soja estimada, nesse ano atingiu apenas 1,9% de uma projeção de produção de 27,30 milhões de toneladas.
Neste ano, às vésperas do início do plantio, a cotação da saca de soja no universo da relação de troca está em cerca de US$ 16 ante US$ 22 em igual momento de 2013. Produtores ouvidos pelo Diário são unânimes em afirmar que o valor ofertado para as trocas inviabiliza a safra.
As multinacionais também são agentes importantes no financiamento da safra, mas fizeram nos últimos seis anos-safras o caminho inverso da ascensão das revendas, passaram de uma participação de 50% para 7%, ano passado.
Os bancos federais podem atingir o recorde em 2014/15 já que têm no histórico do Imea, evolução de 7% para 23%, no mesmo período de comparação. Em 2013, de um custo total de R$ 11,28 bilhões, eles aportaram R$ 2,56 bilhões.
2013/14 – No ano passado o custo médio ponderado com insumos para semear um hectare de soja, em Mato Grosso, foi de R$ 1,36 mil. Conforme levantamento do Imea, o maior financiador em 2013/14 foram as revendas, com 32% do total utilizados, correspondendo a cerca de R$ 3,6 bilhões. Em segundo lugar está o uso do capital próprio com 30,5%, mostrando que os produtores conseguiram financiar em grande parte a sua produção. Em terceiro lugar vieram os bancos federais, com 23% do total. Os dois últimos financiadores foram o sistema de crédito não-oficial e as tradings, com 8% e 7,1% respectivamente de participação. “No ano passado, recursos próprios e revendas, juntos, somaram mais de 60% do financiamento da safra”.