A revista semanal do jornal britânico “Financial Times” publicou, neste fim de semana, reportagem sobre o delicado equilíbrio perseguido pelo Brasil entre a produtividade agropecuária e a preservação das florestas. “Sustentabilidade, e não exploração, é agora a chave para o país que almeja se tornar o maior produtor de alimentos do mundo”, diz o texto.
De acordo com a matéria, o país deixou para trás um passado de exploração desenfreada dos recursos naturais, fazendo o seguinte questionamento na manchete: “Paraíso recuperado?”. O jornal lembra que, apenas no ano de 2004, a Amazônia havia perdido uma área de floresta de 27.000 quilômetros quadrados – o equivalente ao territótio da Bélgica.
A situação agora é outra, e o FT afirma que as discussões ambientais são “mais quentes do que em qualquer outro lugar”. O resultado? “As taxas de desmatamento vêm caindo desde então. No ano passado, cerca de 5.000 quilômetros quadrados foram derrubados, uma queda impressionante de 80 por cento desde o pico de 2004”, afirma o jornalista João Paulo Rathbone, editor para América Latina.
A reportagem aponta que, apesar desta preocupação, o Brasil transformou-se em um grande exportador de alimentos nos últimos 30 anos. “Ele já é o maior produtor mundial de açúcar e suco de laranja, e o segundo maior produtor de carne bovina (com as carnes de porco e de frango logo atrás) No próximo ano, também é previsto que se torne o maior produtor mundial de soja, ultrapassando os tradicionais ‘cinco grandes’ produtores de grãos – EUA, Austrália, Canadá, Argentina e União Europeia. Em 2020, a previsão é de que as exportações agrícolas cheguem a US$ 200 bilhões anuais. Em 2025, o Brasil pretende ser o maior produtor de alimentos do mundo”, projeta.
“O fazendeiro não é um criminoso”
A matéria do Financial Times aponta que, enquanto avança e produz riqueza para o país, o agronegócio convive com uma fiscalização cada vez maior e mais ferrenha. Um produtor rural não identificado é citado pelo historiador ambiental da Universidade Federal do Rio, José Augusto Pádua, como autor de uma frase simbólica: “O fazendeiro não é um criminoso”.
O texto aponta que “os maiores avanços foram feitos nas maiores fazendas”, como a de Darcy Ferrarin Jr., produtor de soja em Sinop (MT) que utiliza um software personalizado na lavoura. “Usando o plantio direto, o talo da soja colhida é deixado para formar uma camada de material orgânico, contribuindo assim para reter nutrientes para a próxima safra, que é plantada diretamente no bagaço. Ele também faz a rotação de culturas, o que minimiza as pragas”, conta o FT.
Ferrarin diz que ele e outros agricultores locais não estão interessados em derrubar mais floresta, mas em extrair melhores rendimentos da terra que cultivam: “Eu moro aqui com minha família. Você acha que eu quero ver a área ser arruinada”?