Os investidores vão receber hoje um aviso de alerta quando as conclusões de um novo marco de referência revelarem que muitas grandes empresas internacionais de alimentos nas quais investem não monitoram de forma adequada o bem-estar de animais de abate usados na cadeia alimentar humana.
A referência de excelência – o primeiro do tipo, que foi apoiado pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA, na sigla em inglês) e pela Compassion in World Farming – chega enquanto mais e mais empresas do setor se veem envolvidas no escândalo do uso de carne de cavalo na Europa, deixando consumidores e investidores cada vez mais preocupados com a gestão de risco na cadeia alimentar.
Entre os piores no ranking do estudo ficaram Walmart, Auchan, Mars e El Corte Inglés. Não foram encontradas evidências sobre o bem-estar dos animais criados para abate em suas agendas comerciais.
Nestlé, Premier Foods, Starbucks e Carrefour também tiveram fraco desempenho. O bem-estar dos animais de abate constava em suas agendas comerciais, mas foram encontradas poucas evidências de que isso tivesse sido de fato colocado em prática.
Das 68 maiores varejistas de alimentos, produtores e restaurantes avaliados no referencial, chamado “Business Benchmark on Farm Animal Welfare”, quase a metade (46%) divulga uma política formal de bem-estar para os animais de abate; apenas 41% descrevem como seu conselho de administração ou diretoria supervisionam sua abordagem quanto ao bem-estar dos animais em suas cadeias alimentares; e só 26% divulgam objetivos e metas.
Hilary Green, chefe de comunicações da área pesquisa e desenvolvimento na Nestlé, maior produtora mundial de alimentos, disse que a empresa atualizou sua declaração de compromissos e informações sobre o bem-estar de animais criados para abate desde que a avaliação foi realizada, no terceiro trimestre passado. Ela acrescentou que um relatório, “Nestlé na Sociedade”, a ser divulgado em março, vai delinear ainda mais seu compromisso com o bem-estar dos animais de abate.
Na semana passada, a Nestlé retirou pratos de massa das prateleiras na Itália e na Espanha, além de suspender as entregas de todos os produtos processados contendo carne de um fornecedor alemão, depois de testes terem revelado traços (mais de 1%) de DNA de cavalo.
O novo referencial foi elaborado a partir de uma pontuação média por empresa, avaliando o compromisso gerencial, governança, política de aplicação e inovação. Das 68 empresas, 42 ficaram nas duas piores das seis faixas de classificação.
Administrar o bem-estar dos animais criados para abate e prestar contas sobre isso “é uma questão de risco para a qual poucas empresas estão preparadas”, disse Rory Sullivan, assessor do referencial e consultor independente. Algumas das empresas avaliadas informaram que era difícil impor suas políticas de bem-estar animal aos fornecedores, em especial quando o fornecedor é mais poderoso que o comprador ou quando o comprador representa apenas uma pequena parte da receita do fornecedor.
A Co-operative Food, do Reino Unido, a Nooble Foods e a Unilever foram classificadas na segunda melhor faixa, na qual se avalia que as boas práticas fazem parte da estratégia de negócios. J. Sainsbury, Marks and Spencer e a rede de lanchonetes McDonald’s ficaram na terceira faixa.
Segundo o gerente de bem-estar animal e na agricultura da Marks and Spencer, Mark Atherton-Ranson, o bem-estar animal é preocupação central da empresa, e recentemente a rede varejista avançou ainda mais na questão. “Acrescentamos a nosso site o nosso estatuto de bem-estar animal, logo depois de o informe ter sido realizado, então, estamos ansiosos por ver isso incluído na próxima atualização, neste ano”.
Os investidores precisam “engajar-se com as empresas para encorajar uma melhor gestão de risco e prestação de contas”, disse Sullivan. Neville White, analista sênior de investimentos com responsabilidade social da Ecclesiastical Investment Management, segue a mesma linha.
“A nova referência vai trazer para o primeiro plano uma questão que até agora talvez não estivesse nos radares dos investidores, mas que pode aparecer cada vez mais como algo chave para a reputação e como risco operacional para as empresas alimentícias, nos setores de produção, processamento, varejo e serviços de bufê”, disse. Nenhuma das empresas avaliadas entrou na primeira faixa de classificação.