Bastaram três meses em 2013 para o Porto de Paranaguá voltar a registrar fila superior a uma centena de navios ao largo – área onde a embarcação espera para chegar ao cais. Na terça-feira (19), segundo o site de controle da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), 16 navios estavam atracados, 100 ao largo e outros 22 eram aguardados para as próximas 48 horas. No ano passado, essa marca (que é negativa) só foi atingida em 22 de junho.
O cerco de navios é justificado pela escassez de oferta no Hemisfério Norte. Com a quebra da produção dos Estados Unidos e a confirmação da supersafra de soja por aqui, estimada em mais de 80 milhões de toneladas no Brasil, dezenas de embarcações das mais variadas bandeiras estão se posicionando no horizonte do litoral paranaense, na expectativa de fechar negócios e levar os produtos para outros países.
Ainda segundo a Appa, dos 73 embarcações posicionadas no corredor de exportação, apenas quatro têm totalidade de carga à disposição, 18 estão com carga parcial contratada e 51 não possuem programação definida. Este último grupo é de navios vazios, que aguardam a chegada de toda a sua carga no porto.
As chuvas também contribuem para a paralisação das operações de embarque. Nenhum terminal possui um sistema de cobertura entre os berços e os navios, que permita a continuidade dos trabalhos mesmo com o mau tempo. Nos 77 dias decorridos do início do ano até a segunda-feira passada (dia 18), o porto deixou de operar 26 dias, 10 horas e 19 minutos. Ou seja, a chuva forçou os trabalhadores a cruzarem os braços em um terço do tempo.
Cancelamento
A falta de eficiência e agilidade dos portos brasileiros estão resultando em perda de negócios no comércio internacional. Nesta terça-feira, o grupo Sunrise, maior trading chinesa de soja, anunciou que irá cancelar a compra de quase 2 milhões de toneladas de soja do Brasil. O motivo alegado é o consecutivo atraso nos embarques provocados pelo congestionamento nos portos do país (a empresa não mencionou em qual porto ocorreu o problema). “Inicialmente, a China ameaçou cancelar 10 milhões de toneladas. Mas como precisam do produto e a Argentina começa a colher só em maio, são forçados a comprar da gente”, ressalta Aedson Pereira, analista de mercado da Informa EconomicsFNP.
O mercado também trabalha com a possibilidade de o gigante asiático tentar renegociar os carregamentos a preços mais baixos com essa tática. O valor da soja caiu desde que a Sunrise comprou o produto brasileiro, e a companhia estaria em posição de negociar melhores cotações para substituir os volumes comprados anteriormente. Além disso, os argentinos não venderam nem sequer um terço da safra a ser colhida e contam com uma logística mais eficiente e menos custosa, o que torna o Brasil menos competitivo que o país vizinho.