Autoridades sanitárias na União Europeia (UE) vêm retendo cargas de carnes do Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos, como resultado de maior rigidez no controle contra a bactéria E.coli, e ampliando as incertezas entre exportadores e importadores.
O Valor apurou que três cargas de carne bovina brasileira foram retidas recentemente no porto de Roterdã depois de os inspetores terem identificado a bactéria E.coli em contêineres que usaram como amostragem. Dias mais tarde, numa segunda verificação, liberaram duas cargas após concluírem que não tinham relação com a fonte virulenta e mortal da bactéria. No entanto, uma terceira carga permanece bloqueada, enquadrada no Sistema de Alerta Rápido para os Gêneros Alimentícios e Alimentos para Animais (Rasff), instrumento-chave da UE para reagir a incidentes nessa área.
A Argentina já teve 15 cargas bloqueadas nos últimos tempos. Alguns contêineres argentinos já tinham sido rejeitadas em portos na Alemanha no ano passado. A questão é acompanhada por outros compradores de carnes e joga suspeitas consideradas infundadas que podem causar problemas, e mais custos, em outros mercados.
Jean-Luc Meriaux, secretário-geral da União Europeia do Comércio de Gado e de Carnes, que representa importadores europeus, disse que o atual tipo de controle, com a retenção da carne, “perturba bastante a programação” dos compradores.
Ele disse que o controle contra E.coli sempre existiu, mas que a surpresa agora é que se constata uma elevação “abrupta” de casos positivos da bactéria nas cargas que chegam ao Porto de Roterdã. “As autoridades holandesas não deram até agora nenhuma explicação para isso”, acrescentou. “Pode-se sempre encontrar E.coli, porque há enorme variedades da bactéria, mas o nível de perigo é também muito variável”, afirmou.
Em 2011, a União Europeia foi abalada pela crise dos grãos vegetais contaminados por uma fonte mortal da bactéria E.coli. Trata-se da Escherichia coli Shiga Toxigênica (STEC), que matou 48 pessoas na Alemanha e uma na Suécia, numa das epidemias de origem alimentar mais graves da história do bloco europeu.
Desde então, cada autoridade portuária age com diferente tipo de rigor, causando confusão entre os operadores do comércio exterior, segundo uma fonte no setor.
Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos pressionam Bruxelas para harmonizar as amostragens por contêineres. Os europeus prometeram que dentro de duas semanas terão um esboço de recomendações comuns que pretendem enviar aos portos.
“Os europeus têm o problema e acham que os outros tambem têm, quando não é verdade”, reclamou uma alta fonte que conhece bem o setor. Já os europeus costumam retrucar que vão manter um dos padrões mais elevados de segurança alimentar do mundo.
Em 2011, a Alemanha responsabilizou inicialmente pepinos importados da Espanha como foco da epidemia da bactéria, o que foi descartado depois.
Em seguida, a Rússia foi o primeiro país a proibir a importação de todas as verduras e legumes frescos de países da União Europeia por causa da infecção. Autoridades russas aproveitaram na ocasião para lembrar que “a elogiada legislação de saúde da Europa, que a Rússia era pressionada a adotar, não funciona”.