Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Agroindústrias

A sensível matemática que definirá o início da 'era Abilio' na BRF

Quanto maior resistência houver ao nome de Abilio Diniz na BRF, mais munição o Casino terá nas disputas na GPA.

ABILIO32 BSB DF – MICHEL KLEIN/ABILIO DINIZ – ECONOMIA – O presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, Abílio Diniz, concede entrevista a imprensa após reunião com presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Arthur Badin, para tratar da compra das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar, na sede do CADE em […]
ABILIO32 BSB DF – MICHEL KLEIN/ABILIO DINIZ – ECONOMIA – O presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar, Abílio Diniz, concede entrevista a imprensa após reunião com presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Arthur Badin, para tratar da compra das Casas Bahia pelo Pão de Açúcar, na sede do CADE em […]

A eleição de Abilio Diniz para a presidência do conselho de administração da companhia de alimentos BRF é dada como praticamente certa na companhia. Mas a sensível matemática por trás dessa provável vitória indica que o empresário ainda pode ter dias delicados a administrar tanto na empresa de alimentos como no Grupo Pão de Açúcar (GPA), no qual também preside o conselho.

Quanto maior for o percentual de votos a favor de Abilio mais forte ele estará em ambas as companhias em que atua, e vice-versa. Ele possui a seu favor, garantidos, os votos da Caixa de Funcionários do Banco do Brasil, a Previ, e da gestora de recursos Tarpon, que iniciou a movimentação para a mudança na gestão da gigante de alimentos e convidou o empresário para a investida. No total, há cerca de 25% do capital para apoia-lo, já que a Previ tem 12,2%, a Tarpon, 8% e ele próprio, pouco mais de 3%.

Os investidores estrangeiros têm cerca de 32% da BRF, mas só uma fatia de 13% do capital, em média, costuma votar nas assembleias. Eles serão importantes para ajudar a compor o coro a favor ou contra o empresário, ainda que eleito.

A principal empresa de consultoria de votos para assembleias, ISS Proxy Advisory Services, dedicada a auxiliar fundos globais a como se posicionar nas votações, recomendou o voto a favor de Abilio. A consultoria costuma carregar boa parte dos estrangeiros com suas indicações.

Entretanto, o tema não é consenso. A concorrente Glass Lewis sugeriu o voto contrário ao empresário, alegando que se trata de uma parte relacionada com risco de conflito de interesses na BRF, por conta de sua posição em GPA e das relações comerciais entre as companhias.

O único grupo já conhecido potencialmente contrário à indicação de Abilio é a Fundo de Previdência dos funcionários da Petrobras, a Petros, e o empresário Décio da Silva, filho de Eggon João da Silva, fundador da Weg. Juntos eles possuem aproximadamente 16% do capital da BRF. Décio da Silva tem vínculos históricos com a companhia, e pessoas próximas acreditam que o voto mais provável dele seja contra Abilio. Já a Petros mantém sua posição em segredo, mas se comprometeu com o próprio empresário a não atrapalhar seus planos.

No pior cenário para Abilio, uma das maiores gestoras internacionais de recursos, a BlackRock, detentora de 7,7% das ações da empresa, poderia ser o fiel da balança. Porém, a expectativa maior é que a Petros apenas se abstenha.

Os eventuais votos contrários à indicação de Abilio para o conselho da BRF devem tornar sua situação na companhia delicada. Afinal, indicarão falta de consenso na decisão e uma resistência ao seu nome – mesmo que vença por maioria. Seria algo inédito na história da empresa, fruto da incorporação da Sadia pela Perdigão. Nem mesmo depois da união das rivais, com culturas tão distintas em si, surgiram divergências públicas entre os sócios.

As críticas ao nome do empresário estão, em sua maioria, calcadas no acúmulo da presidência do conselho de GPA, maior distribuidor dos produtos da BRF. Também em cima desse argumento, o Casino, controlador isolado do grupo varejista desde junho do ano passado e rival assumido de Abilio, aproveitou a polêmica e pediu oficialmente que ele renuncie de sua posição no colegiado de GPA e já está montando sua munição para o pós-assembleia de BRF. No sentido contrário, quanto mais apoio Abilio conquistar, mais enfraquecido fica o grupo francês na briga.

O Valor apurou que o GPA comprou, no ano passado, R$ 980 milhões em produtos da BRF. Esse montante equivale a 3,5% da receita líquida total da BRF em 2012, que foi de R$ 28,5 bilhões. Excluindo desse volume as vendas internacionais, o Pão de Açúcar representa 5,8% do líquido vendido no mercado doméstico. A BRF está entre as três principais fornecedoras em nove de 15 categorias de alimentos fornecidas, acumulando, em média, uma participação de mercado superior a 55% em cada segmento.

Ainda não está claro se o controlador do GPA fará, de fato, algo contra o empresário. Mas a artilharia está montada e, na manga, há tanto a possibilidade de convocação de uma assembleia para solicitar sua destituição do conselho, como uma nova arbitragem contra ele.

O pano de fundo dessa briga é a busca por uma posição vantajosa numa eventual antecipação da saída completa do empresário de GPA, empresa na qual possui 20% do capital votante e direitos importantes de veto, além de 11% do capital preferencial, somando um patrimônio de mais de R$ 3,5 bilhões. Neste momento, porém, não há uma negociação formal ocorrendo nesse sentido.

A chegada de Abilio à BRF tem como contexto a busca de um grupo de acionistas por melhores resultados na empresa. A iniciativa foi da gestora Tarpon que procurou, na figura de Abilio Diniz, alguém que conseguisse exercer na empresa a influência que eles não conseguiram em mais de dois anos de investimento. O grupo mais influente na empresa é formado pelos fundos de pensão estatais, que somam 28,5% do capital.

A crença dos investidores que veem espaço para melhorias é que a ação da BRF, hoje em torno de R$ 45, poderia alcançar R$ 60. Na prática, a companhia, avaliada em R$ 37 bilhões, poderia valer perto de R$ 50 bilhões.

O desafio maior é melhorar a eficiência e o custo de produção, bem como buscar meios de conseguir fortalecer a atuação internacional com produção fora do Brasil, replicando o modelo competitivo existente aqui, e expandir a venda de um portfólio com maior valor agregado. Em 2012, 42% da receita líquida veio do mercado externo.