A União Europeia rejeitou duas cargas de carne bovina brasileira no porto de Roterdã (Holanda) por causa de resultados positivos em testes para a presença da bactéria E.coli, que pode provocar mortes. Normalmente uma carga barrada na Europa poderia ser enviada a mercados com regras menos rígidas, mas, em se tratando de E.coli, o destino parece ser a destruição da mercadoria, com prejuízo ao exportador.
A rejeição é resultado do controle mais rígido adotado pelas autoridades sanitárias europeias para evitar a bactéria. Duas outras cargas brasileira, que haviam sido bloqueadas, foram liberadas após novos testes.
O Valor apurou que o Brasil mantém discussões com a Comissão Europeia para superar o problema sanitário e comercial causado pelo controle mais rígido. O país alega que não tem um problema estrutural de contaminação de E.coli – ou seja, haveria o risco apenas de ocorrência de casos esporádicos, de carne procedente de poucos frigoríficos. Com relação à Argentina, a comissão aparentemente tem mais cuidado, já que por lá houve mais casos confirmados, envolvendo um número maior de frigoríficos.
Jean-Luc Meriaux, secretário-geral do Comércio de Gado e de Carnes da União Europeia, que representa importadores, disse ao Valor que atualmente talvez só os EUA não sejam alvos do controle reforçado, basicamente por causa da forte queda de suas vendas para o mercado comunitário. Já a importação europeia de carne brasileira aumentou 38% em janeiro e fevereiro e somaram 23 mil toneladas, segundo Meriaux.
Alguns países europeus passaram a adotar controles mais rigorosos para evitar a E.coli desde que, em 2011, a UE foi abalada pela crise dos grãos contaminados por uma fonte mortal da bactéria – a Escherichia coli Shiga Toxigênica (STEC), que matou 48 pessoas na Alemanha e uma na Suécia, em uma das epidemias de origem alimentar mais graves da história do bloco.
Brasil, Argentina, Austrália, Canadá e outros exportadores de carnes reclamaram da falta de harmonização nas regras de retenção e controle nas fronteiras. Em reação, a UE fez um documento interno e espera ter uma orientação geral até junho.
Mas, se a E.coli pode não ser um problema para o Brasil, o Sistema de Alerta Rápido para Gêneros Alimentícios e Alimentos para Animais (Rasff), instrumento-chave da UE para reagir a incidentes sanitários, registra dezenas de outros problemas com produtos do país desde o começo do ano. Cargas de carne de frango e peru foram rejeitadas ou seguem suspensas por causa dos níveis de Salmonela Minnesota, por exemplo. Cargas de melão também foram barradas por falta de higiene.